Sabemos menos sobre o El Niño do que gostaríamos

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O fenômeno El Niño é responsável pela alteração do clima em diversas regiões do mundo, como as ondas de calor e as grandes chuvas que alguns estados brasileiros receberam. Além de ser responsável por causar problemas na indústria agropecuária, pesqueira, entre outras, o El Niño deixou diversos mortos em diferentes regiões do mundo; por exemplo, mais de 120 pessoas morreram em enchentes no Quênia.

De acordo com especialistas e cientistas da área, um dos grandes problemas é a falta de conhecimento sobre o fenômeno climático. Afinal, é impossível prever suas próximas ações com antecedência. As únicas informações que sabemos é que ele pode durar uma média de 9 a 12 meses e costuma acontecer na Terra a cada dois, sete anos ou mais tempo.

Ao mesmo tempo que o El Niño provoca tempestades grandiosas e intensas nas costas ocidentais da América do Norte e do Sul, ele piora os períodos de seca em regiões como no Sul da Ásia. O Oceano Pacífico também pode sofrer com o aumento de temperatura de até 4 graus Celsius, enfraquecendo os ventos e empurrando as marés quentes para a região oeste das Américas.

“Durante condições normais no Oceano Pacífico, os ventos alísios sopram para oeste ao longo do equador, levando água quente da América do Sul para a Ásia. Para substituir essa água quente, a água fria sobe das profundezas — um processo chamado ressurgência. El Niño e La Niña são dois padrões climáticos opostos que quebram estas condições normais”, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) descreve o fenômeno.

O que é o El Niño?

O El Niño e La Niña são dois fenômenos climáticos opostos que causam grande impactos nos climas em todo o mundo e, apesar de sua média de duração de 9 a 12 meses, podem durar mais tempo. Especificamente sobre o El Niño, o evento esquenta as águas do Pacífico e muda completamente a distribuição de umidade e temperatura em diversas regiões do planeta.

No Brasil, o fenômeno já causou fortes chuvas na região Sul do país e secas nas regiões Norte e NordesteAs secas se estendem até os países da Oceania, sudeste da Ásia e em regiões mais elevadas, como no Peru, Colômbia e Bolívia; enquanto isso, as chuvas se tornam mais intensas na região central do Pacífico e no oeste da América do Norte.

Pequenos barcos encalhados por conta da seca rio Tapajós na região amazônica. A estimativa da Organização Meteorológica Mundial é que o El Niño persista meados de maio de 2024.Pequenos barcos encalhados por conta da seca rio Tapajós na região amazônica. A estimativa da Organização Meteorológica Mundial é que o El Niño persista meados de maio de 2024.Fonte:  Tarcisio Schnaider/ Getty Images 

Apesar dos cientistas saberem que o evento acontece ciclicamente na Terra, eles ainda não descobriram nenhuma forma de prever o seu início. Em muitos casos, eles perceberam que o fenômeno se intercala com o início da La Niña — o El Niño e a La Niña fazem parte do El Niño-Oscilação Sul (ENSO).

O evento La Niña é totalmente oposto, pois se inicia na mesma época e causa um resfriamento anormal das águas do Oceano PacíficoAo contrário dos ventos alísios enfraquecerem, eles tendem a ser mais fortes durante a passagem de La Niña; os resultados climáticos são chuvas mais fortes e algumas regiões mais secas.

“La Niña significa menina em espanhol. La Niña também é às vezes chamado de El Viejo, anti-El Niño ou simplesmente ‘um evento frio’. La Niña tem o efeito oposto do El Niño. Durante os eventos La Niña, os ventos alísios são ainda mais fortes do que o normal, empurrando mais água quente para a Ásia. Ao largo da costa oeste das Américas, a ressurgência aumenta, trazendo à superfície água fria e rica em nutrientes”, é explicado em comunicado do NOAA.

Causas do El Niño

De acordo com um estudo publicado na revista científica The Innovation Geoscience, existem duas teorias sobre as causas do El Niño, mas a talvez a mais correta seja o 'mecanismo de gangorra bipolar'. A hipótese sugere que o fenômeno é causado por mudanças em um sistema de correntes oceânicas que empurram água quente para a região do Atlântico Norte; o sistema é nomeado de Circulação Meridional de Inversão do Atlântico (AMOC).

A ideia é que um tipo de colapso da AMOC bloquearia o fluxo de calor para a região norte, se acumulando no Hemisfério Sul da Terra. Ao decorrer da estabilização do evento, o fluxo de calor voltaria a acontecer no Norte e, consequentemente, causaria o resfriamento no Sul. Caso a hipótese esteja correta, os cientistas esperam que os registros climáticos do Pacífico se alinhem com o Atlântico.

“Apesar de estar localizado em latitudes elevadas do Hemisfério Norte, este registro mostra um padrão climático equatorial no Pacífico no final da última deglaciação e no Holoceno, o que está em desacordo com os padrões climáticos do Atlântico Norte, colocando em dúvida o mecanismo de gangorra bipolar para a região do Pacífico… Embora a hipótese da gangorra bipolar seja bem apoiada para o setor atlântico, a sua relevância para as alterações climáticas à escala mundial do milênio permanece incerta”, descreve o estudo.

Além de estar associado as chuvas fortes em algumas regiões e períodos de seca em outras, o El Niño também está relacionado ao aumento de temperatura em diversas regiões do mundo.Além de estar associado as chuvas fortes em algumas regiões e períodos de seca em outras, o El Niño também está relacionado ao aumento de temperatura em diversas regiões do mundo.Fonte:  GettyImages 

A Oscilação Sul, também conhecida como Oscilação Walker, também está relacionada ao ocasionamento do El Niño; trata-se de uma circulação atmosférica que desempenha um papel fundamental nas mudanças climáticas.

Os autores do estudo propuseram que o fenômeno climático pode ser influenciado por outros dois mecanismos, o 'termostato oceânico' e a circulação de Walker. O 'termostato oceânico' tem relação com o aquecimento nos trópicos, responsável por temperaturas desiguais nos oceanos e por influenciar os ventos alísios.

Outro estudo sugere que os padrões do ENSO estão, de alguma forma, conectados ao ciclo magnético do Sol — ou seja, as mudanças entre El Niño e La Niña podem ter relação com o ciclo solar. Segundo um artigo publicado na revista científica Geophysical Research Letters, essa pode ser uma das hipóteses possíveis sobre o início desses eventos.

[O termostato oceânico] infere que se houver aquecimento em todos os trópicos, então o Pacífico aquecerá mais no oeste do que no leste porque a forte ressurgência e a divergência de superfície no leste movem alguns dos o calor em direção aos polos. Portanto, o gradiente de temperatura leste-oeste se fortalecerá, fazendo com que os ventos de leste se intensifiquem, aumentando ainda mais o gradiente de temperatura zonal. Este processo leva a um estado médio semelhante ao La Niña em resposta ao aumento do forçamento solar”, a pesquisa descreve.

De qualquer forma, é importante destacar que os cientistas apontam que ainda não há como confirmar nenhuma das hipóteses, por isso, continuarão estudando mais sobre os enigmas relacionados ao clima do planeta.

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