Nós compramos mais jogos do que conseguimos jogar... E isso é ruim?

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(Fonte da imagem: Baixaki Jogos)

Na semana passada, publicamos uma notícia relatando os números de uma pesquisa feita pelo site Ars Technica, a qual verificou os números do Steam e comprovou que mais de um terço dos jogos adquiridos na famosa loja de jogos online de PC nunca foi sequer aberto.

É isso mesmo: a cada 100 títulos que os jogadores compraram, mais de 33 games nunca foram inicializados e, quem sabe, nem mesmo foram instalados. Se formos colocar na ponta do lápis, os números são absurdos, mas a verdade é que não é tão surpreendente, visto que sabemos que o Steam vende muita coisa a "preço de banana".

As estatísticas vão bem além desses simples números, sendo que há jogadores que jogam muito pouco durante a semana. Todavia, temos nossas dúvidas quanto a esse tipo de comportamento. Será que comprar tanto e jogar pouco (ou não jogar) é algo ruim? As pessoas estão erradas por comprar aquilo que não vão usar?

(Fonte da imagem: Reprodução/Ars Technica)

Pensando nessas questões, resolvemos expor outras pesquisas e comentar sobre os pormenores relacionados a essa atitude desenfreada que está deixando desenvolvedores e o pessoal da Steam muito felizes.

Uma pesquisa direcionada

Antes de entrarmos em uma linha de raciocínio, vamos conferir os resultados de uma pesquisa do site Famous Aspect, a qual foi conduzida com 1.400 jogadores.

Os números obtidos estão abaixo, separados entre os resultados para o jogador que fica na média e aquele que pode ser considerado um colecionador:

O jogador na média

  • Possui 18 jogos que nunca jogou
  • Joga 15 horas por semana
  • Passa 10 horas se inteirando sobre as novidades em sites, fóruns e com novos vídeos
  • Comprou entre 11 e 25 jogos nos últimos 12 meses
  • 60% dos jogos foram comprados em promoções
  • 20% dos games foram adquiridos pelo valor de lançamento
  • Não jogou 40% dos games que comprou nos últimos 12 meses

O colecionador

  • 30% dos jogadores entrevistados são colecionadores compulsivos
  • Possui pelo menos 50 jogos que nunca jogou
  • Tem pelo menos 100 jogos em seu registro
  • Joga 20 horas por semana
  • Passa 10 horas se inteirando sobre as novidades em sites, fóruns e com novos vídeos
  • Comprou entre 26 e 50 jogos nos últimos 12 meses
  • 80% dos jogos foram comprados em promoções
  • 10% dos games foram adquiridos pelo valor de lançamento
  • Não jogou 60% dos games que comprou nos últimos 12 meses

Números que não importam tanto assim...

Primeiro, é preciso considerar que esses tipos de pesquisas revelam apenas o óbvio, afinal é de se esperar que muitas pessoas comprem os jogos apenas por impulso, mesmo que elas não tenham interesse. O que a pessoa provavelmente pensa é o seguinte: tá barato e tenho dinheiro, então por que não?

Isso é perfeitamente normal, pois faz parte do comportamento da maioria dos seres humanos, já que aproveitar uma boa oferta é o que todos queremos, independente de precisar de determinada coisa (no caso, esse produto é um jogo).

Ninguém compra apenas o essencial e parece que não tem como fazer isso, pois as ofertas do Steam são tentadoras. Quem não quer comprar Batman: Arkham City (que em seu lançamento custava 100 reais) por apenas 10 reais? Quem não quer aproveitar e levar Arkham City e Arkham Asylum por apenas 15 reais?

(Fonte da imagem: Baixaki Jogos)

Todo mundo quer! Principalmente aqueles que não tiveram a coragem (ou não tinham condições) de investir 100 reais em um único jogo. A lógica dos consumidores é simples: por que comprar um jogo de 100 (que é uma novidade) se posso comprar 10 jogos (antigos) por 10 reais cada um? No fim, a pessoa gasta o mesmo, mas tem muito mais.

Faz bem aproveitar uma promoção!

É preciso ponderar ainda que o jogador geralmente fica satisfeito com a sua compra. Ele sabe que não joga a maior parte de sua biblioteca, sabe que alguns jogos vão ficar ali de enfeite, mas a aquisição de vários games dá aquela sensação de segurança.

No fundo, você pensa que está fazendo o certo, aproveitando uma promoção que talvez não apareça no futuro (depois de um tempo, aprendemos que elas sempre reaparecem, mas não paramos de comprar).

(Fonte da imagem: Baixaki Jogos)

Não há dúvidas de que isso vale mais como desculpa do que como uma verdade absoluta, pois a maioria dos jogadores compra os games, justificando que a promoção vale a pena e que um dia vai jogá-los, mas nunca os executa (como as pesquisas mostram).

De graça, até injeção na testa!

É importante notar ainda que o Steam quer muito que você jogue e compre tudo o que puder. Em diversas ocasiões, a loja de games dá alguns prêmios (que podem até ser games completos) para os jogadores que conseguem realizar determinadas proezas.

Geralmente, os games doados são da própria Valve (dona da Steam), evitando ter que pagar para desenvolvedores terceiros. Há muita gente (incluindo eu) que tem Portal, Portal 2, Half-Life, Half-Life 2, Left 4 Dead e outros tantos títulos sem ter gasto um centavo.

Falta tempo para jogar tudo

Às vezes, o problema de ter uma biblioteca tão grande e diversificada (com jogos top, jogos curiosos e outros que servem para relembrar os bons tempos) é que não há tempo hábil para consumir tudo o que você comprou.

Como as pesquisas mostram, os jogadores mais dedicados gastam 20 horas por semana com seus games. Agora, vamos pensar em pessoas que trabalham e estudam: sobram poucas horas por dia, as quais servem para estudar, comer, tomar banho e dormir.

Pouco tempo jogado em muitos games (Fonte da imagem: Baixaki Jogos)

Sendo assim, já é difícil conseguir 10 horas por semana para zerar um game. Às vezes, dedicar 20 horas está fora de cogitação, pois, nos fins de semana, as pessoas têm outros compromissos. De fato, aproveitar tantos jogos é muito difícil, ainda mais se estivermos falando em zerar um game.

A questão dos jogos indies

No meio de tantas situações, ainda temos que considerar um importante fator que mudou o cenário geral do Steam e de algumas desenvolvedoras menores. É claro que estamos falando dos tais “bundles” de jogos indie, que deram um boom nos últimos anos.

Com a ideia de fazer o jogador dar uma chance para um ou outro game, alguns sites começaram a investir em pacotes de jogos, sendo que o comprador define o preço que acha justo pagar pela coleção de títulos ofertados.

Essa foi uma das ideias mais geniais dos últimos tempos, tanto para os desenvolvedores, que ganharam uma boa grana, quanto para os jogadores, que puderam experimentar vários jogos surpreendentes que possivelmente não comprariam pelos preços “altos” praticados no Steam (sim, muita gente acha que cobrar 10 ou 20 reais em um jogo indie é absurdo).

Aliás, esse é um bom negócio também para o site que vende e para as instituições de caridade, que ajudaram a motivar os jogadores a investirem pesado nesse lance de pacote de jogos independentes. Quem nunca comprou um bundle não sabe o que está perdendo, pois é uma oportunidade que custa pouco e que pode render grandes surpresas.

Agora, a mentalidade de muitos jogadores já é diferente, pois muitos puderam experimentar Limbo, Braid, FEZ, Torchlight e outros tantos títulos famosos que fizeram parte dos bundles. Ocorre, no entanto, que aqui temos uma grande brecha nas pesquisas.

Às vezes, uma pessoa comprou um determinado bundle que vinha com 6 jogos, mas ela só tinha interesse em 2 games. Além disso, a pessoa pode ter pagado apenas 6 dólares por todos os títulos (o que significa um desconto muito elevado e impraticável no Steam) e para ela valeu muito a pena aproveitar essa oferta.

8 jogos por apenas US$ 3,49 (Fonte da imagem: Reprodução/Indie Royale)

As pesquisas não levam em conta esse tipo de situação, que inflou os números de jogos vendidos e elevou significativamente a quantidade de títulos que nunca foram executados. Resultado: muitos jogadores têm mais de 100 jogos, mas pode ser que um terço desses títulos venham de bundles.

PSN e LIVE fazendo a alegria da moçada

Aproveitando a temática da enorme biblioteca com jogos que nunca jogamos, podemos pensar também no esquema de funcionamento das redes da Sony e da Microsoft. Quase todos os meses, há descontos incríveis em diversos títulos que são muito desejados pelos jogadores.

É difícil uma promoção na PSN ou na LIVE conseguir igualar preços com os que são praticados no Steam, mas há muitas ofertas tentadoras, que mesmo durando pouco garantem que vários jogadores adquiram games por impulso.

Claro, há casos em que vale muito a pena comprar um determinado jogo, seja porque você realmente quer o título ou porque ele é um game muito popular que deve ser experimentado. É o caso de “The Last of Us” que custava 60 dólares e durante um único dia teve seu valor reduzido para 30 dólares.

(Fonte da imagem: Baixaki Jogos)

Tirando essas exceções, devemos notar, novamente, que não há nada errado em adquirir jogos em promoção. Não há dados concretos que mostrem quantos jogos as pessoas compram e não jogam, mas você pode saber que não é muito diferente do que ocorre nos computadores (ainda mais que há jogadores que aproveitam promoções em mais de uma plataforma).

No caso dos video games, algo que contribui para o número de games nunca executados são os programas de jogos gratuitos. Há algum tempo, as duas empresas bolaram seus planos de assinaturas especiais que dão direito a jogos “gratuitos” (lembre-se que você já pagou antes de baixá-los) todos os meses.

Com isso, muita gente começou a colecionar jogos, mesmo sem a necessidade ou vontade de jogar. Não é raro encontrar pessoas que tenham mais de 20 ou 30 games instalados no disco rígido, dos quais a pessoa aproveitou somente os mais famosos.

Minha pilha de vergonha - Relato do editor

Para finalizar, acho válido relatar minha experiência com o Steam e a PSN. No computador, tenho 140 jogos em minha conta, sendo que nunca executei 79 jogos que adquiri e, segundo o site Steam O Meter, já gastei quase 2 mil dólares em games ao longo dos últimos 6 anos.

(Fonte da imagem: Baixaki Jogos)

Os números assustam, mas boa parte dessa grana é calculada com base no preço atual dos jogos (não nos valores de promoção). Além disso, é importante ressaltar que quase metade dos meus títulos é independente, portanto eu peguei muita coisa em bundle e só joguei aquilo que eu realmente queria.

Por fim, vale considerar que muitos games que tenho em minha conta são jogos que eu já havia experimentado em outros consoles (Batman: Arkham Asylum, Machinarium e outros tantos aproveitados no PS3) ou durante as jogatinas no Baixaki Jogos (como The Witcher 2, jogo que analisei para o site).

Nunca joguei Arkham Asylum no PC, pois zerei no PS3 (Fonte da imagem: Baixaki Jogos)

No meu PlayStation 3, tenho 60 jogos instalados no disco rígido. Acredito que nunca executei uns 10 games, pois foram títulos que simplesmente baixei porque estavam gratuitos na Plus. Outros 30 jogos eu devo ter experimentado por algumas horas e deixado de lado. O restante é composto por títulos casuais (de luta, futebol e corrida) e alguns tantos que zerei com prazer.

O importante é ser feliz

Bom, no fim das contas, podemos ver que as estatísticas talvez estejam bem erradas, pois os números são muito distorcidos e não levam em conta uma série de fatores (jogos gratuitos, games que a pessoa já experimentou, títulos que vieram em bundles) que podem esclarecer por que algumas pessoas nunca executaram determinados games.

Vale dizer ainda que não é errado comprar aquilo que você gosta. É um desperdício comprar jogos para não jogar? Certamente! Faz mal para alguém? Não. Alguém se importa? Lógico que não, pois cada um faz o que quiser com seu dinheiro — e, se está bom para você, para as desenvolvedoras também está.

Você tem muitos jogos em estoque? Também está guardando alguns games para aquele dia em que tiver tempo de terminar todos (talvez num apocalipse zumbi)? Comprou alguns apenas para matar as saudades e nunca executou? Compartilhe suas experiências conosco!

Via BJ

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