A transformação digital tem mais a ver com pessoas do que com computadores

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Imagem: Shutterstock

Já faz alguns anos que o termo “transformação digital” se tornou relevante para todo tipo de negócio. Falar sobre isso significa falar sobre o mundo virtual, a internet, as redes sociais e os equipamentos eletrônicos que precisamos para acessar tudo isso.

Contudo, a revolução digital não se trata apenas das máquinas e dos softwares. Na verdade, diz respeito muito mais às pessoas. E você vai entender por quê.

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Vamos a um exercício de observação: vá até uma lotérica no quinto dia útil de qualquer mês e veja se há uma fila para pagar as contas. Observe quem são essas pessoas na fila. Aposto que, na maioria das vezes, grande parte delas são idosos. Justamente uma das fatias da população com maior dificuldade de inclusão digital. Seria, então, coincidência que essas pessoas estão ali em vez de pagar as contas por aplicativos? Ou será que, para eles, é difícil mudar velhos hábitos e entender o novo?

Transformação DigitalFonte: Shutterstock

Esse é um bom exemplo para podemos perceber que a transformação digital ocorreu nessa área — as contas digitais existem e conquistaram milhões —, mas, ao mesmo tempo, não ocorreu para todos. As pessoas na fila da lotérica não foram impactadas por essa transformação, ou, ao menos, não profundamente.

Vale dizer que a dificuldade para se adaptar não é exclusiva dos mais velhos. Qualquer um pode encontrar obstáculos ao tentar uma nova tecnologia. Quando os jornalistas mudaram da máquina de escrever para os computadores, por exemplo, não foi uma troca fácil. Quando se tornou possível pesquisar as coisas pela internet, muita gente ainda recorria aos livros e dicionários físicos, pois não confiavam ou não se sentiam confortáveis para tirar suas dúvidas online.

Lembro-me que, para alguns dos meus clientes em meados dos anos 2000, uma notícia impressa, por exemplo, tinha muito mais valor que uma notícia online. De alguma maneira, o papel transmite mais credibilidade, tinha um valor documental.

Fazendo essa reflexão atualmente, muitas empresas já realizam seus processos contratuais por meio de assinaturas digitais, mas ainda há trâmites jurídicos que só podem ser realizados com a assinatura à mão ou até pessoas que simplesmente se sentem mais seguras assinando um documento físico.

O fato é que toda mudança gera desconfiança em algum nível, e parece que nós somos programados para rejeitar automaticamente o diferente. Logo vem o pensamento: “se estava funcionando até agora, para que mudar?”. Quem se atém a essa linha de raciocínio acaba não enxergando as vantagens da tecnologia e vai ficando para trás.

E é de suma importância que as transformações digitais, ao serem aplicadas, transponham esse obstáculo e convençam as pessoas ao menos a tentarem. Até porque, em algum momento, não haverá alternativa.

Algumas áreas conseguiram com mais facilidade que outras. Pedir comida por aplicativo, por exemplo, é uma facilidade amplamente aceita pela população. Por outro lado, ainda há um número enorme de pessoas que ligam para marcar consultas, mesmo quando há possibilidade de marcar pelo app ou site.

A diferença fundamental entre esses grupos é que, no primeiro, a transformação digital aconteceu com maior profundidade; e, no segundo, apenas a ferramenta foi entregue, sem a mudança necessária na mentalidade dos usuários. Tanto da parte das empresas, quanto da parte dos clientes.

Deter os recursos tecnológicos é fundamental, mas ainda mais importante é que eles sejam usados de forma coletiva e que seus benefícios fiquem evidentes para as pessoas. Para isso, as pessoas precisam compreender profundamente o que são essas ferramentas, para que servem, suas vantagens e porque elas deveriam aprender a usá-las.

Quando as pessoas de fato entendem tudo isso, há a inclusão digital, que é essencial para uma verdadeira transformação digital. Tanto que, neste momento, há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que torna a inclusão digital um direito fundamental do cidadão. Esse é o nível de importância do digital em nossas vidas atualmente. Por que seria diferente no mercado de trabalho?

Portanto, antes de contratar programas e comprar equipamentos de ponta, as empresas precisam analisar a equipe e entender se a inclusão digital existe, de fato, naquele ambiente. Se não existir, o primeiro passo é fazer essa mudança, seja por meio de treinamentos, seja por cursos, seja por outro tipo de apoio.

Apenas com uma inclusão digital completa a transformação digital é possível. E não se trata de conversa fiada; como pudemos ver, o afastamento das pessoas do mindset digital é uma realidade concreta. O desenvolvimento tecnológico depende, também, das pessoas. É nosso papel, como desenvolvedores e aplicadores das inovações, ensinar e guiar a sociedade para o futuro.

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