Quando o assunto é inovação, “eu vejo um museu de grandes novidades”

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Em determinado momento da canção “O tempo não para”, o cantor e compositor Cazuza diz a frase “eu vejo um museu de grandes novidades”. Dei um Google na estrofe e a explicação que me saltou foi que esse trecho significa “aquilo que surge como uma promessa de novidade, mas que não passa de uma releitura de algo velho”.

Entendendo o contexto da música, acho que faz sentido esse tom irônico, pessimista e taxativo. Sou fã da música do Cazuza e suponho que ele detestaria ser citado em um texto sobre o mercado corporativo, mas como este artigo é sobre inovação, e inovador ele de fato era,  peço licença para tirar essa frase do contexto da música e analisá-la separadamente, sob outra perspectiva. Na minha opinião, no contexto da inovação, a ideia de “releitura de algo velho” é oposta àquela proposta na canção.

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Compreendo o conceito de releitura como altamente positivo e que "cai como uma luva" para a definição do que é inovar.

Uma releitura melhorada das coisas, ou uma conexão, um mix de releituras, é uma forma de inovação das mais eficientes. Isto é, partir de algo preexistente ou já em uso e promover uma releitura mais avançada e condizente com o nosso tempo, é inovar.

Steve Jobs não precisou inventar o telefone ou o computador para inventar o smartphone, ele juntou de maneira espetacular as duas coisas e criou uma terceira muito melhor. Não se pode negar que seja uma releitura dos dois mundos. O inventor da bicicleta elétrica não precisou inventar a bicicleta nem o motor elétrico, ele juntou as duas coisas e criou algo muito melhor.

InovaçãoFonte: Shutterstock

O inventor do e-commerce juntou as possibilidades do mundo online com uma lógica de loja tradicional. Até mesmo a Netflix não inventou o aluguel de filmes nem o modelo de assinatura, ela ressignificou tudo isso. A lista de coisas antigas conectadas formando uma terceira absolutamente inovadora é imensa. A sagacidade de "bater o olho" no mundo e juntar uma coisa com a outra e transformá-la em uma terceira, espetacularmente necessária e para uma nova demanda, é a inovação em sua manifestação mais orgânica. Pare para pensar: está cheio de novidades no museu.

Outro ponto que pacifica o papel do antigo na criação do novo é o problema testado e comprovado. Tecnologias ou processos antigos surgiram para resolver problemas do seu tempo. Mas “o tempo não para…”.

Aí, vejo duas hipóteses: elas resolveram o problema/atenderam a demanda durante aquele tempo, mas se tornaram obsoletas; ou então mitigaram, mas não resolveram o problema por completo. O fato é que o problema existiu e segue existindo. A ideia de partir do problema real é fundamentalmente importante para o empreendedor e não deve ser minimizada.

Uma pesquisa da CB Insights denominada The Top 12 Reasons Startups Fail (12 principais razões pelas quais as startups falham, em tradução livre), divulgada em agosto de 2021, aponta que 35% das startups falham porque o produto ou solução que oferecem não encontra aderência no mercado.

Em outras palavras, o que parecia uma grande novidade, na verdade, não atendeu a uma necessidade real do público. É comum, ao ter uma ideia, que o empreendedor se apaixone por ela e passe a tentar provar para as pessoas que elas têm um problema a ser resolvido.

Portanto, inovar não se trata só de juntar duas coisas e formar uma terceira. Inovar significa juntar duas coisas e formar uma terceira para resolver um problema real, que atinge muitas pessoas, e que é mal ou não resolvido. E o antigo pode e tem papel nisso.

Estamos em 2022, muita gente altamente inteligente já passou por esse planeta, deixando invenções brilhantes, que melhoraram muito a nossa vida. Ainda assim, problemas reais insistem em dificultar o dia a dia das pessoas. Talvez alguém crie algo do zero para resolver essas questões? Talvez, a mente humana tem um potencial incrível. Mas, é razoável considerar que o futuro esteja em um museu.

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Eduardo Cosomano é fundador da EDB Comunicação, agência especializada em assessoria de imprensa e produção de conteúdo, e coautor do livro Saída de Mestre: estratégias para compra e venda de uma startup, lançado pela Editora Gente.

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