Eclipses e suas implicações na cultura, mitologia e ciência dos povos antigos

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Eventos naturais ocorrem na Terra desde sempre, não é à toa que as civilizações antigas precisaram refletir profundamente para compreender a natureza desses fenômenos. Em muitos eventos naturais da Terra, questões religiosas e espirituais costumavam servir como fonte de explicação para o que estava acontecendo naquele momento.

Os eclipses lunares deviam ser impressionantes durante a época em que não existia energia elétrica ou luzes artificiais suficientemente fortes para poluir o céu noturno. Mas os eclipses solares deviam parecer ainda mais aterrorizantes aos nossos antepassados — durante um eclipse solar total, o dia quase se transforma em noite por alguns minutos.

“Nada pode ser mais surpreendente, impossível ou milagroso, agora que Zeus, pai dos Olimpianos, transformou o meio-dia em noite, escondendo a luz do sol brilhante, e... o medo tomou conta da humanidade. Depois disso, os homens podem acreditar em qualquer coisa, esperar qualquer coisa”, disse o poeta e soldado grego Arquíloco de Paros, em 648 antes de Cristo, provavelmente ao descrever a observação de um eclipse solar.

Para compreender um pouco mais sobre como os eclipses são importantes para a arqueologia astronômica, entender o passado da humanidade, nós reunimos informações de historiadores, astrônomos e outros cientistas da área.

Eclipses e a arqueologia astronômica

O próximo grande eclipse solar total ocorrerá no dia 8 de abril de 2024 e poderá ser observado a partir de diversas cidades dos Estados Unidos, em partes do México e na região oriental do Canadá. Infelizmente, os brasileiros não poderão assistir ao espetáculo solar; por aqui, o próximo evento desse tipo só ocorrerá em agosto de 2045.

Atualmente, a humanidade sabe que esse fenômeno é causado pelo bloqueio do Sol quando a Lua fica entre a Terra e a estrela. Porém, há centenas de anos, as pessoas comuns não tinham esse conhecimento. Os povos dessa época registravam esses momentos mesmo sem compreendê-los, e esses registros podem servir de grande ajuda para a arqueologia astronômica — também chamada de astroarqueologia ou arqueoastronomia.

Os eclipses solares, principalmente, são considerados excelentes fenômenos de observação, pois são visíveis apenas em um local e tempo específicos. No caso dos eclipses solares totais, a média de tempo em que ocorrem na mesma região da Terra é a cada 375 anos. Por isso, esses eventos naturais podem auxiliar os cientistas a determinar a data exata em que nossos antepassados observaram um eclipse.

A partir de dados coletados em textos chineses do rei Yi, os cientistas conseguiram identificar um eclipse solar total que ocorreu durante um amanhecer.

O último eclipse solar total ocorreu no Brasil em novembro de 1994, e o próximo está previsto para acontecer no dia 12 de agosto de 2045.O último eclipse solar total ocorreu no Brasil em novembro de 1994, e o próximo está previsto para acontecer no dia 12 de agosto de 2045.Fonte:  Getty Images 

Outro exemplo é o eclipse descoberto por meio de textos de uma tábua de argila encontrada na cidade de Ugarit, na Síria. Uma parte da tábua dizia: "no dia da lua nova em hiyaru, o Sol se pôs, seu porteiro era [Rashap]".

Os pesquisadores descobriram que a palavra 'hiyaru' descreve uma época do ano, entre fevereiro e março; já a palavra 'Rashap' foi provavelmente usada para retratar um planeta — eles também sabiam que a cidade entrou em colapso pouco após o eclipse. Com essas informações em mãos, a equipe conseguiu compreender que o eclipse ocorreu no dia 5 de março de 1222 antes de Cristo.

"O estudo das práticas astronômicas, conhecimentos celestes, mitologias, religiões e visões de mundo de todas as culturas antigas chamamos de arqueoastronomia. Gostamos de descrever a arqueoastronomia, em essência, como a “antropologia da astronomia”, para distingui-la da 'história da astronomia'", descreve uma publicação do Centro de Arqueoastronomia, na Universidade de Maryland.

A escuridão repentina causada pelo eclipse afetou milhares de sociedades em todo o mundo. Na Índia, há a mitologia de um demônio imortal chamado Rahu que deseja se vingar do deus Vishnu e comer o Sol e a Lua. Na América do Sul, os Incas acreditavam que o fenômeno solar era um sinal de que o deus do Sol, Inti, estava bravo e necessitava de oferendas. O povo indígena Pomo, nos Estados Unidos, descrevem o evento como um urso furioso que está tentando comer o Sol.

A ciência também descobriu que a duração de um dia na Terra está aumentando cerca de 18 microssegundos a cada ano. Ou seja, um segundo é adicionado ao dia a cada 55 mil anos.

Esse dado é importante porque afeta a datação dos eclipses históricos. Se houver uma diferença na duração de um dia e não ocorrer nenhuma correção, os cálculos sobre eventos históricos podem ser imprecisos.

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