O espaço é a fronteira final da humanidade, já diria o clássico seriado de ficção científica Star Trek. Afinal, grande parte do universo ainda não foi explorada pelos cientistas e astronautas, inclusive, a maioria dos conceitos científicos aplicáveis são utilizados apenas na Terra.
Por esse, motivo Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (NASA), a Agência Espacial Europeia (ESA), entre outras agências espaciais, estão realizando experimentos no ambiente de microgravidade espacial.
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Uma dos tipos de conhecimentos que ainda não foi explorado no ambiente cósmico é a ciência forense; e não é à toa, já que o espaço não é um lugar onde ocorrem muitos crimes ou acidentes sanguinolentos.
A presença da humanidade é relativamente limitada no espaço, contudo, isso mudará em um futuro breve e os cientistas querem compreender como resolver é possível resolver, possíveis casos forenses em um ambiente tão rigoroso como o cosmos.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Staffordshire e da Universidade de Hull, na Inglaterra, está estudando o comportamento do sangue em ambientes de microgravidade. O objetivo é tentar entender como o líquido viscoso que corre nas veias de humanos e animais se comportaria em um local onde a gravidade é diferente.
Os cientistas buscam entender como fluxo sanguíneo de comportar em ambientes de microgravidade.
"O estudo dos padrões de manchas de sangue pode fornecer informações reconstrutivas valiosas sobre um crime ou acidente. No entanto, pouco se sabe sobre como o sangue líquido se comporta em um ambiente de gravidade alterada [como no âmbito espacial]. Esta é uma área de estudo que, embora nova, tem implicações para investigações forenses no espaço", disse o líder do estudo e especialista em manchas de sangue, Zack Kowalske.
CSI no espaço: desvendando crimes nos territórios interplanetários?
Para tentar compreender como o comportamento do sangue seria no espaço, a equipe conduziu experimentos a bordo de um avião Boeing 727 de voo parabólico, modificado pela Zero Gravity Corporation para replicar o ambiente de 'gravidade zero'. O estudo foi publicado na revista científica Forensic Science International: Reports.
É importante destacar que os cientistas não utilizaram sangue real durante o experimento; na realidade, eles produziram uma substância semelhante ao líquido viscoso humano a partir da mistura de glicerina (40%) e corante alimentar vermelho (60%). Para simular a forma que o sangue espirra após um corte, a equipe utilizou uma seringa hidráulica para esguichar o líquido em pedaços de papel durante a viagem no Boieng 727.
O estudo não foi realizado especificamente para entender crimes no espaço, pois a ciência forense não se limita apenas a delitos. Afinal, os astronautas podem sofrer acidentes a bordo de naves espaciais ou da própria Estação Espacial Internacional (ISS), e os pesquisadores desejam compreender como o nosso sangue se comportaria se fosse ‘expelido’ em um ambiente que não segue a mesma gravidade da Terra.
A imagem apresenta o resultado das manchas de sangue após o experimento em uma simulação de microgravidade.
"A ciência forense é mais do que apenas tentar resolver crimes; ela também tem um papel na reconstrução de acidentes ou na análise de falhas. Com este conceito, considere como várias disciplinas forenses poderiam ser utilizadas em um acidente crítico a bordo de uma estação espacial ou ônibus espacial", acrescenta Zack.
O experimento foi realizado em gravidade reduzida entre 0,00 e 0,05 g e, dessa forma, eles conseguiram investigar o ângulo de impacto do sangue falso — a distância entre o sangue e o papel era de apenas 20 centímetros. O artigo explica que a falta de influência gravitacional, a tensão superficial e a coesão das gotículas do líquido foram amplificadas.
Ciência forense e as novas fronteiras da justiça
Em palavras mais simples, o resultado do estudo indica que o sangue no espaço tende a aderir às superfícies até que uma força maior o afete e cause a separação das gotículas. Ou seja, o jato do líquido apresenta uma taxa de espalhamento mais lenta e não reflete o cenário que ocorreria na Terra caso o sangue se espalhasse pelo local do acidente.
Além da gravidade, a resistência do ar presente em nosso planeta também influencia no ângulo do sangue jorrado do corpo de uma pessoa. Inicialmente, os cientistas acreditavam que a microgravidade deixaria os cálculos matemáticos mais precisos, mas eles perceberam que o efeito amplificado da tensão superficial na ausência de gravidade causou uma maior variação nesses cálculos.
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No fim das contas, o estudo percebeu que os efeitos gravitacionais são determinantes para compreender a angulação de um jorro de sangue no espaço. Assim, eles descobriram que a microgravidade altera o comportamento das gotas de sangue e das manchas que elas criam no ambiente, ocasionando em formas e tamanhos menores do que aconteceria na Terra.
A astroforense, ainda é um conceito novo no meio científico, mas conforme a exploração espacial avança, pode ser de extrema importância no futuro.
"Nós nos encontramos em uma nova era da ciência forense; assim como a pesquisa de meados do século XIX questionou o que uma mancha de sangue significava em relação à causa, estamos mais uma vez no início de novas questões que relacionam como novos ambientes influenciam a ciência forense. A [ciência] astroforense é uma nova subdisciplina que está em sua infância. Ampliar a compreensão de todas as ciências forenses em ambientes não terrestres é fundamental à medida que nos expandimos para uma espécie que viaja pelo espaço. É necessária pesquisa, pesquisa que abranja todas as disciplinas", Kowalske concluiu.
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