Videogames e exercícios físicos: o que há em comum?

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Bilhões de pessoas no mundo jogam videogames. Como é bom jogar um bom jogo de videogame. Essa satisfação pode estar relacionada ao suporte de necessidades que temos, não as fisiológicas, mas as psicológicas. Entenda aqui quais são elas e qual a relação com exercícios físicos.

Basicamente temos 3 necessidades psicológicas: autonomia, vínculo social e competência. Elas têm relação direta com motivação e bem-estar, especificamente para motivação intrínseca, aquela em que fazemos algo por puramente ser gratificante, como jogar videogame. Videogame é divertido e envolvente por si só.

Pessoas gostam de videogames porque jogar é satisfatório em um nível psicológico fundamental. Fazer exercícios físicos também pode ser e para entender isso vamos estabelecer paralelos entre esses comportamentos.

Jogos de videogames são desenvolvidos visando atender as necessidades psicológicas. Jogadores muitas vezes experimentam uma sensação de agência, habilidade e conexão com outras pessoas quando jogam videogames.

Pessoas gostam de videogames porque jogar é satisfatório em um nível psicológico fundamental.Pessoas gostam de videogames porque jogar é satisfatório em um nível psicológico fundamental.Fonte:  Getty Images 

Os games contemporâneos, com gráficos realistas, mundos imersivos e abertos, infinitas oportunidades de avanço e desenvolvimento de habilidades, além de modos multijogador online competitivos ou cooperativos, parecem adequados para atender às necessidades dos jogadores em termos de autonomia, competência e vínculo social.

Autonomia

Sentir liberdade e independência, tendo opções de escolha própria fomentam autonomia. Ao jogar videogame nos sentimos protagonistas, com senso de volição, podendo escolher como fazer as coisas e para onde ir, como em Baldur’s Gate III, em que cada jogador tem uma experiência única criando seu personagem e desenvolvendo uma história com várias ramificações possíveis.

Nos exercícios físicos, podemos ter autonomia em relação à modalidade que praticamos, e dentro dela quais exercícios fazemos – como com pesos livres ou máquinas na musculação, na intensidade que nos sentirmos melhor – como correr mais rápido ou moderado na corrida de rua.

Competência

A sensação de progressão no jogo motiva a continuar. Gostamos de nos sentir habilidosos e competentes, isso faz com que nos engajemos profundamente na atividade. O videogame faz o jogador se sentir competente à medida que avança.

Em Hades, iniciamos o jogo com nível fraco e cada vez que perdemos voltamos ao início, mas o que coletamos até perder, é mantido e usado para um reinício mais forte. No clássico God of War Ragnarok, conforme progredimos no jogo ficamos mais fortes, ganhando habilidades que desbloqueiam áreas novas.

O exercício físico também é uma oportunidade de nos sentirmos competentes, aprendendo novos movimentos e habilidades ou melhorando alguma delas, como sua força na academia. Uma das modalidades campeã nisso é o CrossFit.

Vínculo social

Entre os jogos online, os mais populares – Apex Legends e o Fortnite, no formato battle Royale envolvem jogadores simultaneamente. Dos mais cooperativos, destacam-se o Overcooked (jogo de cozinhar para restaurante com desafios) e It takes two (dois jogadores jogando juntos em sintonia para avançar), assim como Minecraft, em que jogadores podem cooperar partilhando recursos ou construindo vilas.

Por outro lado, cooperamos pouco nas modalidades de exercício tradicionais como corrida e musculação. Esse aspecto é mais presente em esportes coletivos, em que há fomento de vínculos sociais. Vínculos contribuem para a participação das pessoas.

Via jogo, as pessoas conseguem acessar vários estados psicológicos, os quais são interessantes vivenciarmos nos treinos físicos também:

  • Competição: A experiência de derrotar outros;
  • Desafio: A experiência de sucesso após um esforço;
  • Diversão: Sendo uma fuga da experiência de estresse;
  • Fantasia: Experimentar estímulos novos ou irrealistas;
  • Interação social: Experimentar conexões sociais;
  • Excitação: Experienciar emoções positivas.

Em pesquisa que ganhou grande repercussão recentemente, resultados de quase 39 mil jogadores sugerem que a quantidade de jogo não prejudica o bem-estar. Mas que a experiência motivacional pode influenciá-lo. Se os jogadores sentiam que tinham que jogar, sentiam-se pior, mas se jogavam porque gostavam, os dados não sugeriram que isso afetou a sua saúde mental.

Exercício físico é fácil quando queremos fazer, mas difícil quando temos que fazer.

E se juntarmos exercícios com videogames? Esses são os exergames - os videogames ativos (ou fitness game), que se apresentam como uma boa alternativa mas que de fato não conquistaram os gamers e nem os praticantes de exercícios.

Jogar videogame não é apenas divertido, mas também satisfaz necessidades psicológicas, gerando bem-estar. Um problema pode ocorrer quando pessoas com necessidades psicológicas não satisfeitas dependem exclusivamente dos videogames para satisfazê-las, o que pode trazer desequilíbrios no comportamento e consequências negativas na vida.

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Fábio Dominski
é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.

 

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