4 fatos que aprendemos observando a Lua

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*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

A Lua é, de longe, o mais brilhante e maior objeto visível aos olhos humanos no céu noturno da Terra.

Ao longo de todos os tempos e em todos os lugares, diversos mitos e lendas contaram as histórias em que nós tentamos fazer da Lua algo nosso, particular. Os japoneses contaram as histórias da princesa Kaguya, que foi exilada da Lua para a Terra. Em épocas próximas, os chineses contavam a história de sua deusa da Lua, chamada Chang'e. Na Antiguidade, os gregos também tinham a deusa Selene, que dirigia uma bela carruagem lunar pelo céu escuro. Os antigos egípcios por sua vez, ao invés de uma deusa, tinham um deus lunar: Khonsu, protetor dos viajantes noturnos.

A Lua também iluminou aventuras e protagonizou contos e poemas de amor. Porém, para além da mitologia e da arte, ela também ensinou muito à humanidade e o desenvolvimento científico se beneficiou da sua presença nos céus.

Aqui estão 4 fatos que aprendemos contemplando sua natureza:

1. A Terra é redonda

O planeta Terra visto do espaçoO planeta Terra visto do espaçoFonte:  NASA 

Melhor dizendo, a Terra é arredondada em um elipsoide com uma circunferência de cerca de 40.000 quilômetros. Também chamado de esferoide oblato, o formato ocorre devido à rotação do planeta, que induz um efeito centrífugo na sua distribuição de massa e produz o achatamento dos polos. E como sabemos disso apenas olhando a Lua?

Bom, de duas formas diferentes. A primeira delas é durante a observação de um eclipse lunar total, onde a superfície da Lua é parcialmente obscurecida pela passagem da sombra da Terra que apresenta sua característica tipicamente circular. Apenas usando a curvatura da sombra da Terra que incide sobre a Lua, podemos reconstruir o tamanho relativo da Lua em relação ao cone de sombra da Terra, reconstruir geometricamente a distância entre a Terra e a Lua e deduzir o formato esférico da Terra.

A segunda forma é notando a diferença de orientação da Lua por um observador situado em latitudes distintas no hemisfério Norte e Sul. Alguém no polo norte, por exemplo, verá a Lua virada 180 graus em relação a alguém que a observa no polo sul. Tal mudança na perspectiva lunar só pode ocorrer porque ela é observada de pontos distintos em uma superfície curva.

2. A superfície lunar não é perfeitamente lisa

As crateras Tycho e Davius na superfície lunar.As crateras Tycho e Davius na superfície lunar.Fonte:  Eduardo Schaberger Poupeau 

Essa informação pode parecer óbvia hoje, mas já se pensou, no passado, que o mundo celeste fosse constituído de orbes perfeitos e completamente lisos. Embora isso não sejam perfeitamente evidentes através de uma observação a olho nu, mesmo os telescópios e binóculos mais simples revelam que a superfície lunar é composta de um grande número de vales, crateras e montanhas.

Observando a projeção de suas sombras na superfície devido à incidência da luz solar, é possível estimar as alturas e diâmetros. Além disso, observar as características físicas dessas estruturas possibilita a reconstrução de episódios importantes no processo de formação e evolução do nosso satélite natural.

3. A refletividade da Terra é vista na Lua

O brilho da Terra é visto refletindo no lado mais obscurecido da superfície lunar.O brilho da Terra é visto refletindo no lado mais obscurecido da superfície lunar.Fonte:  Dylan O'Donnell 

Todo planeta e todo satélite natural em nosso Sistema Solar pode ser medido por seu albedo: um indicador de quanta luz o corpo reflete. Podemos pensar nisso como um nível de brilho: um corpo mais brilhante terá albedo maior, enquanto o albedo de um corpo mais escuro será menor.

Na Terra, medir o albedo é especialmente importante porque pode ajudar a rastrear mudanças em nosso clima com base na quantidade de luz solar que a Terra absorve. A Lua é um dos fatores naturais que nos ajuda a medir essa propriedade fundamental, eis como: durante a fase crescente, às vezes é possível ver vagamente o resto da face da Lua, mesmo muito mais obscurecida.

Essa parte mais fraca e escura da superfície lunar está, na verdade, sendo iluminada pela luz do Sol que é refletida na Terra – o que se chama de brilho da terra.

Ao medir esse brilho da Lua, os cientistas podem estimar com precisão quanto o nosso planeta reflete e, além disso, podem até mesmo fazer deduções da composição da atmosfera da Terra.

4. A atmosfera terrestre desvia mais a luz vermelha do que a luz azul

Lua sobre o Parthenon, na Grécia.Lua sobre o Parthenon, na Grécia.Fonte:  Anthony Ayiomamitis (TWAN) 

Em geral, durante o nascer da Lua (e do pôr da Lua), ela aparenta ter uma superfície mais avermelhada. Isso acontece porque, quando observada muito próxima do horizonte, a luz refletida pela superfície da Lua deve passar pela quantidade máxima de atmosfera da Terra até chegar aos nossos olhos.

A atmosfera terrestre preferencialmente dispersa a luz azul enquanto permite que a luz vermelha passe mais facilmente, resultando em uma aparência mais vermelha perto do horizonte. Esse fenômeno explica também o porquê, durante um eclipse lunar total, a Lua fica iluminada em tons avermelhados.

Nícolas Oliveira, colunista do TecMundo, é licenciado em Física e mestre em Astrofísica. É professor e atualmente faz doutorado no Observatório Nacional, trabalhando com aglomerados de galáxias. Tem experiência com Ensino de Física e Astronomia e com pesquisa em Astrofísica Extragaláctica e Cosmologia. Atua como divulgador e comunicador científico, buscando a popularização e a democratização da ciência. Nícolas está presente nas redes sociais como @nicooliveira_.

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