Covid-19: como o lockdown prejudicou o Brasil?

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Algumas falas do presidente Jair Bolsonaro (PL) com relação à pandemia de covid-19, feitas durante a entrevista concedida ao Jornal Nacional (TV Globo) na noite da segunda-feira (22), causaram forte reação da sociedade pela imprecisão ou conteúdo mentiroso.

"Durou mais de um ano o lockdown. E até hoje continua gente falecendo por covid. Ou seja, o lockdown serviu, sim, pra atrapalhar nossa economia e contaminar mais pessoas ainda em casa ", disse o presidente e candidato à reeleição.

Ao contrário do que disse Bolsonaro, o Brasil nunca adotou o lockdown de maneira generalizada durante a atual pandemia. A medida, que pode ser traduzida como confinamento, é caracterizada por restrição de circulação de pessoas em uma determinada área, supervisionada por autoridades de segurança. Geralmente, a ação é adotada para evitar danos à saúde e segurança da população.

No Brasil, a maior parte das cidades adotou o fechamento do comércio como forma de diminuir o contato entre pessoas e diminuir a transmissão do coronavírus SARS-CoV-2; em raros casos houve o fechamento de bairros e ruas, como ocorreu em países da Europa e na China.

São PauloRua de São Paulo em março de 2020, durante a adoção de medidas de distanciamento social na cidade (crédito: Shutterstock)

Apenas algumas cidades, como Araraquara (SP), adotaram um confinamento mais rígido em momentos mais críticos, em que hospitais estavam lotados com doentes.

Via de regra, nao houve restrição de circulação de pessoas e vias públicas monitorada pelas polícias, embora autoridades tenham atuado para dispersar aglomerações como maneira de evitar a transmissão do vírus.

A covid-19 é transmitida principalmente por minúsculas gotas de saliva de pessoas contaminadas; esse material, que carrega o vírus, pode se espalhar pelo ambiente quando o contaminado (mesmo sem sintomas) fala, tosse ou espirra. Por isso, o distanciamento físico entre as pessoas é, sim, um método eficaz de barrar a contaminação. Como qualquer remédio e método de prevenção, a eficácia do ditanciamento físico não é de 100%, e pode variar dependendo da situação.

LuzEstação da Luz, no centro de São Paulo, em foto de março de 2021 (créditos: Shutterstock)

Um estudo publicado em 2020 na Revista Brasileira de Epidemiologia mostrou que as estratégias de distanciamento social adotadas no estado de São Paulo tiveram um papel significativo na redução do crescimento no número de casos de covid-19. Tais estratégias, foram usadas exatamente para esse fim, para que os sistemas de saúde pudessem dar conta de todos os doentes e não ficarem ainda mais sobrecarregados.

Bolsonaro também disse no Jornal Nacional que mais gente teria se contaminado em casa durante os lockdowns em outros países, e que essa medida seria ineficaz, mas de acordo com um estudo publicado na revista científica Nature em 2020 por cientistas do Imperial College London, da Inglaterra, as medidas não farmacológicas, como o confinamento e o fechamento de escolas, chegaram a salvar mais de 3 milhões de vidas na Europa.

No Brasil, as medidas adotadas no período, com o fechamento do comércio e restrições a serviços, foram prejudiciais para a economia do país, levando empresarios a terem de encerrar seus negócios permanentemente em alguns casos. Parte do desemprego no país hoje pode ter sido causado por essas medidas, que teriam um impacto negativo menor com a adoção de outras ações socioeconômicas para resguardar a população mais vulnerável.

As máscaras, também atacadas pelo presidente, contam com evidências robustas de que funcionam para evitar infecções respiratórias. Elas são uma barreira física que evitam ou minimizam o contato direto com os fluidos de outras pessoas que podem estar contaminadas.

máscarasPessoas usando máscaras aguardam em fila para vacinação contra a covid-19 na cidade de São Paulo (crédito: Shutterstock)

Bolsonaro também se posicionou contra as vacinas em vários momentos da pandemia, o que pode ter desencorajado a população de receber as doses. Até hoje, o presidente afirma nunca ter recebido a injeção que previne a covid-19 por ter medo dos possíveis efeitos colaterais, que ele, que é militar reformado e político, diz que não são conhecidos pela ciência.

Os efeitos adversos das vacinas aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso no Brasil são bem conhecidos pela ciência e divulgados em estudos científicos feitos de acordo com os melhores métodos disponíveis.

Efeitos raríssimos, como o surgimento de miocardite (uma inflamação do coração), podem até aparecer após a vacinação, mas a chance de ter essa condição é maior nos doentes de covid do que nos vacinados, como mostram estudos.

Um outro estudo publicado no início deste ano mostrou que a maior parte dos efeitos colaterais relatados após a vacinação são, na verdade, de origem psicológica.

No ano passado, o presidente chegou a associar a vacinação contra a covid-19 com um aumento nos casos de Aids, uma relação que é falsa, como mostramos no TecMundo.

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