Estudo sugere que maior parte de reações após vacina tem origem psicológica

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Um estudo publicado terça (18) aponta que o efeito "nocebo", um tipo negativo de efeito placebo, é responsável pela maior parte das reações adversas relatadas após vacina contra a covid-19.

O efeito placebo ocorre quando um tratamento simulado — parecido com o convencional, mas que não é destinado a atuar diretamente sobre a doença — resulta em melhorias na saúde. Já o nocebo atua de forma contrária, com tratamentos sem ação farmacológica provocando consequências negativas.

Pesquisadores do Beth Israel Deaconess Medical Center, hospital-escola afiliado à Universidade de Harvard, analisaram dados de 12 ensaios clínicos de vacinas contra Covid-19 realizados até julho de 2021. Ao todo, foram avaliados relatórios de efeitos colaterais de mais de 22,5 mil pessoas que receberam placebo e 22,8 mil receptores de vacina.

Após a primeira dose, quase um terço dos participantes que receberam placebo reportaram efeitos adversos sistêmicos, que ocorrem em locais do corpo distantes de onde houve a injeção. Os mais comuns foram dor de cabeça, relatado por 19,6% dos participantes, e fadiga, por 16,7%. Eventos locais como dor ou inchaço no local da aplicação também foram relatados por 16% das pessoas que receberam placebo.

Já entre aqueles que receberam a vacina, 46% relataram efeitos colaterais sistêmicos e dois terços sentiram reações locais. Mesmo que tenham recebido o tratamento verdadeiro, os pesquisadores estimam que também haja atuação do nocebo: a análise sugere que o efeito foi responsável por 76% de todos os sintomas adversos no grupo que recebeu a vacina.

Dor de cabeça e fadiga foram os sintomas mais comumente relatados por quem recebeu placebo em vez da vacina contra a covid-19.Dor de cabeça e fadiga foram os sintomas mais comumente relatados por quem recebeu placebo em vez da vacina contra a covid-19.Fonte:  Foto de Andrea Piacquadio no Pexels 

Um dos autores do estudo, Ted J. Kaptchuk, explicou o raciocínio em entrevista ao Technology Networks: “Após a primeira injeção, para cada 100 efeitos adversos em quem recebeu vacina dos ensaios Covid, havia 76 efeitos adversos em quem recebeu placebo. A partir disso deduzimos que cerca de 76% dos eventos adversos de quem recebeu vacina são devidos ao nocebo. Esta é uma forma padrão de analisar os efeitos adversos em ensaios clínicos.”

Após a segunda dose, 32% dos receptores de placebo relataram reações colaterais sistêmicas e 12%, locais. Entre os vacinados, 61% reportaram eventos sistêmicos e 73%, locais. Cientistas calculam que 52% dos efeitos colaterais após a segunda dose tenham sido causados pelo nocebo.

Kaptchuk ressalta que sintomas inespecíficos, como dor de cabeça e fadiga, estão listados entre as reações adversas mais comuns após a vacinação para a covid-19: "Este tipo de informação pode levar as pessoas a atribuir erroneamente sensações comuns do dia a dia como decorrentes da vacina, ou causar ansiedade e preocupação, fazendo com que as pessoas fiquem hiper-atentas aos sentimentos corporais sobre eventos adversos.”

O papel do placebo em estudos clínicos

Os mecanismos do efeito placebo não são totalmente compreendidos pela ciência, mas é comum que sejam observados em estudos clínicos para o desenvolvimento de novos tratamentos.

Neste tipo de ensaio, parte dos participantes recebem placebos como comprimidos de açúcar ou seringas com soro fisiológico, enquanto outros recebem o tratamento que está sendo analisado. O grupo que recebe o placebo existe para fins de comparação; se após o estudo não houver diferença entre os dois grupos, o tratamento proposto não teve efeito.

Kaptchuk afirma que conhecer as possíveis reações nocebo pode ajudar a aumentar as taxas de vacinação: "A medicina é baseada na confiança. Nossas descobertas nos levam a sugerir que informar o público sobre o potencial de respostas nocebo poderia ajudar a reduzir as preocupações com a vacinação contra a covid-19, o que pode diminuir a hesitação sobre a vacinação."

No Brasil, são mais de 148 milhões de pessoas totalmente vacinadas, correspondendo a quase 70% da população. Em âmbito mundial, este número corresponde a pouco mais da metade (51,69%).

ARTIGO Jama Network Open: doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.43955

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