menu
Logo TecMundo
Ciência

Estudo sugere que maior parte de reações após vacina tem origem psicológica

Em estudos clínicos, quase um terço dos participantes que receberam placebo reportaram reações adversas

schedule23/01/2022, às 10:00

Estudo sugere que maior parte de reações após vacina tem origem psicológicaFonte:  Foto de Andrea Piacquadio no Pexels 

Imagem de Estudo sugere que maior parte de reações após vacina tem origem psicológica no tecmundo

Um estudo publicado terça (18) aponta que o efeito "nocebo", um tipo negativo de efeito placebo, é responsável pela maior parte das reações adversas relatadas após vacina contra a covid-19.

O efeito placebo ocorre quando um tratamento simulado — parecido com o convencional, mas que não é destinado a atuar diretamente sobre a doença — resulta em melhorias na saúde. Já o nocebo atua de forma contrária, com tratamentos sem ação farmacológica provocando consequências negativas.

smart_display

Nossos vídeos em destaque

Pesquisadores do Beth Israel Deaconess Medical Center, hospital-escola afiliado à Universidade de Harvard, analisaram dados de 12 ensaios clínicos de vacinas contra Covid-19 realizados até julho de 2021. Ao todo, foram avaliados relatórios de efeitos colaterais de mais de 22,5 mil pessoas que receberam placebo e 22,8 mil receptores de vacina.

Após a primeira dose, quase um terço dos participantes que receberam placebo reportaram efeitos adversos sistêmicos, que ocorrem em locais do corpo distantes de onde houve a injeção. Os mais comuns foram dor de cabeça, relatado por 19,6% dos participantes, e fadiga, por 16,7%. Eventos locais como dor ou inchaço no local da aplicação também foram relatados por 16% das pessoas que receberam placebo.

Já entre aqueles que receberam a vacina, 46% relataram efeitos colaterais sistêmicos e dois terços sentiram reações locais. Mesmo que tenham recebido o tratamento verdadeiro, os pesquisadores estimam que também haja atuação do nocebo: a análise sugere que o efeito foi responsável por 76% de todos os sintomas adversos no grupo que recebeu a vacina.

Dor de cabeça e fadiga foram os sintomas mais comumente relatados por quem recebeu placebo em vez da vacina contra a covid-19.Dor de cabeça e fadiga foram os sintomas mais comumente relatados por quem recebeu placebo em vez da vacina contra a covid-19.

Um dos autores do estudo, Ted J. Kaptchuk, explicou o raciocínio em entrevista ao Technology Networks: “Após a primeira injeção, para cada 100 efeitos adversos em quem recebeu vacina dos ensaios Covid, havia 76 efeitos adversos em quem recebeu placebo. A partir disso deduzimos que cerca de 76% dos eventos adversos de quem recebeu vacina são devidos ao nocebo. Esta é uma forma padrão de analisar os efeitos adversos em ensaios clínicos.”

Após a segunda dose, 32% dos receptores de placebo relataram reações colaterais sistêmicas e 12%, locais. Entre os vacinados, 61% reportaram eventos sistêmicos e 73%, locais. Cientistas calculam que 52% dos efeitos colaterais após a segunda dose tenham sido causados pelo nocebo.

Kaptchuk ressalta que sintomas inespecíficos, como dor de cabeça e fadiga, estão listados entre as reações adversas mais comuns após a vacinação para a covid-19: "Este tipo de informação pode levar as pessoas a atribuir erroneamente sensações comuns do dia a dia como decorrentes da vacina, ou causar ansiedade e preocupação, fazendo com que as pessoas fiquem hiper-atentas aos sentimentos corporais sobre eventos adversos.”

O papel do placebo em estudos clínicos

Os mecanismos do efeito placebo não são totalmente compreendidos pela ciência, mas é comum que sejam observados em estudos clínicos para o desenvolvimento de novos tratamentos.

Neste tipo de ensaio, parte dos participantes recebem placebos como comprimidos de açúcar ou seringas com soro fisiológico, enquanto outros recebem o tratamento que está sendo analisado. O grupo que recebe o placebo existe para fins de comparação; se após o estudo não houver diferença entre os dois grupos, o tratamento proposto não teve efeito.

Kaptchuk afirma que conhecer as possíveis reações nocebo pode ajudar a aumentar as taxas de vacinação: "A medicina é baseada na confiança. Nossas descobertas nos levam a sugerir que informar o público sobre o potencial de respostas nocebo poderia ajudar a reduzir as preocupações com a vacinação contra a covid-19, o que pode diminuir a hesitação sobre a vacinação." 

No Brasil, são mais de 148 milhões de pessoas totalmente vacinadas, correspondendo a quase 70% da população. Em âmbito mundial, este número corresponde a pouco mais da metade (51,69%).

ARTIGO Jama Network Open: doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.43955