Plástico representa até 2% da massa corporal de bebês de tartaruga marinha

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Imagem: rujithai/Shutterstock

Desnutrição, contaminação química e morte por sufocamento ou laceração do trato gastrointestinal, assim como por obstrução ou perfuração dos órgãos. Estas são apenas algumas das ameaças geradas por lixos variados a espécies marinhas em todo o planeta, e um estudo publicado pela revista científica Frontiers in Marine Science nesta segunda-feira (2) revela que bebês de tartarugas que vivem nos oceanos Índico e Pacífico estão com a barriga cheia do material e correm riscos diários devido à ingestão de plástico.

De acordo com os pesquisadores, esse tipo de poluição representa uma armadilha evolutiva potencial à medida que os bichos "empreendem seu desenvolvimento no que são agora algumas das áreas mais poluídas dos oceanos globais."

Animais correm grandes riscos em seus lares.Tartaruga marinha nada debaixo d'água
Fonte:  Freepik 

Para chegarem às suas conclusões, os cientistas examinaram o conteúdo de estômagos, intestinos, cloacas e bexigas de espécimes perdidos ou capturados.

Do total, avaliaram 58 tartarugas-verdes, 21 tartarugas-comuns, 7 tartarugas-oliva, 7 tartarugas-de-pente e 28 tartarugas-marinhas-australianas. Então, classificaram os plásticos que encontraram de acordo com a cor e o tipo, assim como identificaram as fontes de seus polímeros.

Os resultados do levantamento são chocantes.

Somente uma das tartarugas-verdes, do oceano Índico, continha 343 pedaços do poluente, enquanto outra, do oceano Pacífico, 144. Elas lideraram o pódio dos animais analisados.

Por outro lado, os organismos de tartarugas-de-pente estavam livres do material – fato atribuído à pequena amostra de animais. Além disso, a probabilidade de ingestão varia muito de um lugar para o outro, dada a quantidade de lixo encontrada em cada região.

"Dos espécimes coletados no oceano Pacífico, as tartarugas-verdes tinham maior probabilidade de conter plásticos (83%), seguidas por tartarugas-comuns (86%), marinhas-australianas (80%) e oliva (29%). Entre os bichos do oceano Índico, as tartarugas-marinhas-australianas continham mais plásticos (28%), seguidas das tartarugas-comuns (21%) e das tartarugas-verdes (9%)", diz a Frontiers in Marine Science em comunicado à imprensa.

O mais alarmante, entretanto, é o que o consumo de lixo representa às espécies. De 0% a 0,9% da massa corporal total de tartarugas-verdes do oceano Pacífico consistia em plástico – nas tartarugas-marinhas-australianas, a porcentagem pode chegar a 2% da massa dos animais.

Emily Duncan, líder do estudo e representante da Universidade de Exeter (Inglaterra), destaca: "O plástico nas tartarugas do Pacífico era composto principalmente de fragmentos duros, que poderiam vir de uma vasta gama de produtos usados por humanos, enquanto os do oceano Índico eram principalmente fibras – possivelmente de cordas ou redes de pesca."

Bebês são os mais ameaçados pelos poluentes.Bebês de tartaruga marinha caminham pela areia
Fonte:  Freepik 

Dividida na forma macro (com mais de 1 mm) e micro (com menos de 1 mm), tal poluição responde por 80% de todos os detritos encontrados no ambiente aquático. Desde baleias azuis a pequenas cracas, que grudam em diversas superfícies, interagem com ela, tendo sido documentadas ao menos 700 classes de animais afetadas pela sujeira produzida exclusivamente por humanos.

Uma armadilha evolucionária se trata da transformação de uma característica, antes benéfica a determinada espécie, em algo que causa efeitos negativos à sua sobrevivência e reprodução. Neste caso, ambientes que forneciam as condições ideais para a expansão de populações se tornaram lugares danosos devido ao plástico que contêm.

Duncan afirma que, mais do que nunca, é necessário prevenir a disseminação do material. Ademais, a pesquisadora salienta que não há como determinar de onde vêm os polímeros, uma vez que são amplamente utilizados por diversas indústrias. De todo modo, a ação deve ser terrestre.

"A próxima etapa de nossa pesquisa é descobrir se e como a ingestão de plástico afeta a saúde e a sobrevivência dessas tartarugas. Isso exigirá estreita colaboração com pesquisadores e veterinários em todo o mundo", finaliza a cientista.

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