Ciência

Água e materiais orgânicos são encontrados no asteroide Itokawa

É a primeira vez que esses tipos de compostos essenciais à vida são identificados nas rochas espaciais

Avatar do(a) autor(a): André Luiz Dias Gonçalves

05/03/2021, às 17:30

Água e materiais orgânicos são encontrados no asteroide Itokawa

Fonte:  NASA/Divulgação 

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Cientistas da Royal Holloway, da Universidade de Londres (Inglaterra), encontraram água e materiais orgânicos em uma pequena amostra da superfície do asteroide Itokawa, que foi trazida à Terra por meio de uma missão da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA). A descoberta foi revelada no estudo publicado na Scientific Reports, nessa quinta-feira (4).

É a primeira vez que estes tipos de compostos, considerados elementos-chave para a vida na Terra, são identificados em um asteroide. Além de reforçar a teoria sobre a origem da vida no planeta ter relação com objetos celestes transportando água e outras moléculas cruciais, a novidade pode mudar a compreensão das rochas espaciais em geral.

O estudo teve como base uma partícula recolhida pela missão Hayabusa, lançada pela JAXA em maio de 2003. Pouco mais de dois anos após a decolagem, a espaçonave fez um pouso rápido na superfície do Itokawa, em novembro de 2005, para coletar amostras.

A missão Hayabusa coletou a amostra em 2005.A missão Hayabusa coletou a amostra em 2005.

Mesmo enfrentando dificuldades como problemas de comunicação com a equipe em solo e falhas no motor, a nave conseguiu retornar à Terra em junho de 2010, pousando em Woomera, na Austrália, com a importante carga que foi analisada minuciosamente em laboratório.

Estudo da amostra

Batizada de “Amazon” pela equipe de pesquisadores, a pequena amostra do objeto revelou detalhes importantes a respeito dele, sugerindo que a rocha espacial foi destruída e formada novamente pelo menos uma vez ao longo da sua história.

O estudo mostrou que o Itokawa tem evoluído constantemente ao longo de bilhões de anos, incorporando água e compostos orgânicos de origem externa durante todo esse processo, assim como aconteceu com a Terra em um passado distante, no início de sua formação.

Amostra minúscula do Itokawa usada no estudo, em destaque.Amostra minúscula do Itokawa usada no estudo, em destaque.

As análises apontam que a rocha enfrentou um aquecimento extremo (a mais de 600 ºC), desidratação e estilhaçamento, provavelmente devido a um impacto “catastrófico”, segundo a pesquisa. Mesmo assim, ela se reconstruiu a partir dos fragmentos restantes e se reidratou com água obtida de poeira e meteoritos ricos em carbono, impactados com o corpo celeste após o seu resfriamento.

“Depois de ser estudada detalhadamente por uma equipe internacional de pesquisadores, nossa análise de um único grão mostrou que ele preservou a matéria orgânica primitiva (não aquecida) e processada (aquecida) em dez mícrons (um milésimo de centímetro) de distância”, explicou a especialista do Departamento de Ciências da Terra da Royal Holloway Queenie Chan, uma das participantes da pesquisa.

Mudança de foco

Essa descoberta de água e materiais orgânicos no asteroide Itokawa, que acaba de ser anunciada, pode levar os cientistas a mudar de estratégia ao planejar as próximas missões espaciais para coletar amostras de corpos celestes e trazê-las para análise na Terra.

Até o momento, a maioria dos programas realizados pelas agências espaciais para tentar encontrar elementos vitais à vida nessas rochas que cruzam o céu têm como alvo os asteroides do tipo C. Eles são ricos em carbono e apresentam composição química semelhante à do Sol.

Amostras do Bennu estão a caminho da Terra.Amostras do Bennu estão a caminho da Terra.

Como o Itokawa é um asteroide do tipo S, rico em sílica e constituído por uma mistura de níquel e ferro, os pesquisadores podem colocar rochas com estas mesmas características entre as prioritárias para os futuros lançamentos. Isso porque o estudo comprovou a presença de materiais importantes para o surgimento da vida nele.

“O sucesso desta missão e a análise da amostra que retornou à Terra, desde então, pavimentou o caminho para uma análise mais detalhada do material carbonáceo retornado por missões como a Hayabusa2 da JAXA e a OSIRIS-Rex da NASA”, comentou Chan. As naves citadas por ela recolheram, recentemente, amostras dos asteroides Ryugu e Bennu, respectivamente.


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Por André Luiz Dias Gonçalves

Especialista em Redator

Jornalista formado pela PUC Minas, escreve para o TecMundo e o Mega Curioso desde 2019.