A vida floresceu na Terra, em grande parte, por sorte

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Imagem: NASA/ Goddard Space Flight Center Conceptual Image Lab/Divulgação

A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos; mesmo registrando eventos catastróficos e duas extinções em massa, o planeta permaneceu habitável por boa parte desse tempo – e isso levou os cientistas a questionar se a vida e, por extensão, a humanidade são na verdade, um golpe de sorte.

“Se o clima tivesse falhado completamente apenas uma vez, a evolução teria terminado em um beco sem saída e não estaríamos aqui agora. Portanto, para entender como viemos a existir no planeta, precisamos saber como a Terra conseguiu se manter habitável por bilhões de anos para que a vida não apenas surgisse, como florescesse”, disse em artigo para o site The Conversation o cientista planetário Toby Tyrrell.

Segundo ele, existem hoje duas teorias principais para explicar como a vida sobreviveu no planeta. Uma delas diz que a Terra se autorregula, usando mecanismos para impedir que as temperaturas subam o suficiente para eliminar todos os seres vivos – algo como um termostato natural. A outra teoria usa um elemento que muitos cientistas desprezam, enquanto outros contam com ele: sorte.

“Este segundo cenário é tornado mais plausível pelas descobertas de exoplanetas: alguns têm tamanho, densidade e distância orbital tais que temperaturas adequadas para a vida são teoricamente possíveis. Estima-se que haja pelo menos dois bilhões desses planetas candidatos somente em nossa galáxia”, explicou Tyrrell.

Uma chance em mil

Dada a impossibilidade de se observar esses exoplanetas de perto, o pesquisador testou, usando modelos computacionais, o quanto a sorte foi um fator decisivo para que, ao fim de bilhões de anos, você esteja agora lendo esse texto.

Tyrrell usou modelagem computacional para criar mil planetas aleatórios, experimentando em cada um deles “feedback climáticos”, ou processos que podem alimentar ou deter as mudanças no clima planetário: “Pense no derretimento, no Ártico, do gelo marinho que reflete a luz solar. A água do oceano, sem a calota, absorve a energia do sol, e isso provoca mais aquecimento e derretimento, em um ciclo que se retroalimenta.”

Para cada planeta, Tyrrell experimentou, em uma centena de vezes, variáveis climáticas para registrar por quanto tempo, em escalas geológicas, um planeta permanecia habitável para a vida como nós a conhecemos. “A cada vez, o planeta partia de uma temperatura inicial diferente e era exposto aleatoriamente a um conjunto diferente de eventos com o poder de alterar o clima, como erupções de supervulcões e impactos de asteroides gigantes.”

Submetidos ao modelo uma vez, os mil planetas (a) são mostrados como círculos verdes (habitáveis) e pretos (não habitáveis); na segunda vez (mesmos planetas, diferentes temperaturas iniciais e eventos), somente seis continuaram a sustentar vida (b).Submetidos ao modelo uma vez, os mil planetas (a) são mostrados como círculos verdes (habitáveis) e pretos (não habitáveis); na segunda vez (mesmos planetas, diferentes temperaturas iniciais e eventos), somente seis continuaram a sustentar vida (b).Fonte:  Nature/Toby Tyrrel 

Acaso

Os resultados surpreenderam o cientista planetário: “Apenas uma vez entre os cem mil planetas, um deles teve feedbacks de estabilização tão fortes que permaneceu habitável nas cem vezes em que rodei o modelo, independentemente dos eventos climáticos aleatórios. Menos de dez planetas em cem permaneceu habitável nos cem cenários apresentados.”

Para Tyrrell, o estudo mostrou que a sorte pode ajudar um planeta a sustentar vida. “Em quase todas as vezes nas quais um planeta permaneceu habitável por três bilhões de anos, foi em parte por obra do acaso, mas planetas sem feedback algum jamais suportariam vida”, concluiu.

A Terra tem estabilizadores do clima, mas somente isso não explicaria como, através das eras geológicas e fustigada por eventos catastróficos, ela se tornou resiliente. “Se os eventos fossem de magnitude maior ou ocorridos em momento críticos, provavelmente não estaríamos aqui hoje”.

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