Facebook: Brasil é prioridade em moderação política da rede social
Documentos do 'Facebook Papers' indicam que Brasil ganha atenção especial da empresa, enquanto outros países são deixados de lado ao lidar com desinformação

26/10/2021, às 05:25
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Fonte: 60 Minutes
Imagem de Facebook: Brasil é prioridade em moderação política da rede social no tecmundo
O Brasil é um dos países prioritários na moderação do Facebook, especialmente em período eleitoral. Essa é uma das revelações feitas pelo site The Verge como parte das reportagens The Facebook Papers, que analisa documentos vazados por Frances Haugen, ex-executiva da empresa.
Segundo os documentos, desde o final de 2019, 3 países foram classificados como "prioridade zero", ou seja, os mais importantes da lista. Brasil, Índia e Estados Unidos são aquelas regiões que recebem maior atenção em momentos possivelmente delicados, com o auxílio de inteligência artificial, além de equipes especializadas e dedicadas 24 horas por dia.
Isso significa que, em períodos como o de eleições (mas não apenas neles), o Facebook tem uma série de painéis que monitoram constantemente a rede social no país, analisam publicações e coletam dados. Caso fraudes ou ilegalidades sejam detectadas, órgãos responsáveis são alertados para tomar alguma medida cabível.
Como a classificação funciona?
De acordo com o The Verge, a classificação acaba criando uma hierarquização que deixa muitas nações quase desprotegidas contra discurso de ódio, uso de bots e outras atividades ilícitas.
Abaixo do trio prioritário, estão Alemanha, Indonésia, Irã, Israel e Itália. Esses países são analisados de modo parecido ao da lista anterior, porém com menos recursos. Outros 22 países não nomeados ficam no terceiro pelotão, com ainda menos recursos e sem salas dedicadas para a nação em si.
Haugen começou a nova onda de denúncias contra a empresa.
Fora esses países, todo o resto do mundo não é monitorado com tanta intensidade pela rede social. Ela só passa a analisar um caso se um moderador local detecta um risco em potencial, comunica isso à empresa e é devidamente ouvido — o que pode acontecer só depois do pior momento da crise, sendo que a implementação de uma política interna ou melhoria de tecnologia pode levar meses.
Por que isso é um problema?
Sem tradução especializada para detectar discurso de ódio, parceiros de checagem de fatos com conhecimento local e demora para responder em caso de crises, situações de instabilidade política em Myanmar e Paquistão, por exemplo, foram supervisionadas de longe, apesar do alto número de desinformação circulando.
Os documentos batem com as primeiras reportagens sobre a atual nova crise do Facebook, que já relatavam a falta de ação da rede em determinados países, ou seja, a empresa tem os recursos e até a verba para fazer um monitoramento mais encorpado se quiser realizar remanejamentos. Entretanto, a companhia decide não priorizar todas as áreas e acaba deixando certas regiões desprotegidas contra mecanismos que propagam desinformação na rede social.
O que diz o Facebook?
Segundo o Facebook, os documentos vazados podem conter interpretações errôneas do cenário completo das operações da empresa, além de dizer que não coloca o lucro na frente dos usuários.
Ao site Business Insider, a empresa comunicou que "dedica equipes trabalhando para acabar com abusos" em países com alto risco de conflito e violência, além de ter equipes globais revisando conteúdo em até 70 idiomas e lidando com assuntos ligados a direitos humanos.
"Eles fizeram progresso ao lidar com desafios difíceis, como a evolução dos termos de discurso de ódio e construíram novas formas de resposta rápida a problemas quando eles surgem. Sabemos que esses desafios são reais e estamos orgulhosos do trabalho que fizemos até o momento", de acordo com o comunicado.
Jornalista especializado em tecnologia, doutor em Comunicação (UFPR), pesquisador, roteirista e apresentador.