Vai faltar energia se os carros elétricos tomarem as ruas do Brasil?

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“Chovemos no molhado” quando dizemos que 2020 foi um ano prejudicial para inúmeros setores, mas alguns dados trazem certo alento para o país. É o caso da nossa matriz energética nacional que, segundo o Ministério de Minas e Energia, é representada em 83% por fontes renováveis de energia – hidrelétrica, eólica, de biomassa, solar e de biogás.

Nessa esteira, um mercado acelerou de forma bastante visível no Brasil no ano passado: levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) revela que o sistema de geração de energia triplicou sua atividade em um ano, com crescimento de 45% no último semestre.

Ao mesmo tempo, a venda de carros elétricos por aqui também começou a ganhar ritmo. Mas será que ficaríamos “sem luz” ou pagaríamos mais caro por ela caso nossa frota de carros de passeio migrasse dos combustíveis fósseis para a energia elétrica?

A pauta da matriz energética nacional permeia as discussões de muitos segmentos, como o dos veículos elétricos, sobre o qual temos nos debruçado aqui no TecMundo nas últimas semanas. É normal surgirem dúvidas, mitos e verdades sobre o assunto e não podemos ser levianos.

O fato é que não só existem as condições para que esse modal prospere em termos de infraestrutura, como já vemos uma expansão

Em outras palavras, o Brasil tem meios viáveis de ampliar sua frota de carros elétricos, abastecidos por postos solares e derivados, sem que isso traga colapso ao nosso sistema energético. Ao todo, temos 3 GW de potência instalada em painéis solares em telhados de residências e empresas, com 255 mil sistemas fotovoltaicos que fornecem energia para 400 mil unidades consumidoras – segundo a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD).

Energia limpa e segura

Ainda de acordo com os dados do governo federal sobre o nosso panorama energético em 2020, a matriz brasileira é liderada pela energia hidrelétrica (63,9%), seguida da eólica (8,6%), de biomassa (8,4%) e solar (1,4%).

brasilGrande maioria da eletricidade gerada no Brasil vem de fontes renováveis. (Imagem/Aneel)

O Brasil ultrapassou, em 2019, a meta de capacidade instalada – total de energia que pode ser produzida, segundo a fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – com aumento de mais de 7 mil megawatts. No total, contamos com mais de 170 mil MW de potência fiscalizada. Para André Pepitone, diretor-geral da Aneel, esse resultado garante a segurança de suprimento de energia no país.

brasilNossa matriz elétrica é ideal para adoção em larga escala do transporte elétrico. (Imagem/Aneel)

A participação e o crescimento da energia solar e eólica nesse cenário também são vistos com bons olhos pela agência. “O maior potencial de crescimento é eólico e solar, sobretudo na região Nordeste. Na energia térmica, um terço vem do bagaço da cana de açúcar”, explicou Pepitone em entrevista ao Planalto, portal de notícias do governo federal.

Vale destacar também que as fontes de energia renovável disponíveis no Brasil são ampliadas e fomentadas pelo aspecto socioeconômico, de geração de emprego e renda para a população, além dos fatores ambientais e tecnológicos envolvidos.

Incentivos fiscais

Com preços mais competitivos, devido à redução no custo de instalação de energia solar no Brasil, que caiu mais de 90% na última década, a geração de painéis solares cresceu 58% em 2020 na comparação com o ano anterior, segundo a Absolar.

Para 2021, o setor tem expectativas de um crescimento ainda maior, caso o Projeto de Lei 5829/19 seja aprovado (está em regime de urgência na Câmara Federal), que garantiria desconto de 100% em encargos e tarifas de uso dos sistemas de transmissão e de distribuição a micro e minigeradores de energia solar.

A tropicalidade e ampla iluminação solar em praticamente todo o território brasileiro também são atrativos geográficos que nos colocam à frente de outros países

Em uma investida no setor da habitação e construção civil, a Absolar busca também a instalação de painéis fotovoltaicos nas residências do programa “Casa Verde e Amarela”, anunciado em agosto pelo governo federal para substituir o “Minha Casa, Minha Vida”. Mas, nesse caso, o projeto ainda precisa ser convertido em lei pelo presidente e começar a funcionar de fato – o que aguardamos.

Para Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, a fonte solar poderá ter um papel estratégico na retomada da economia brasileira após a pandemia, atraindo investimentos privados na casa dos bilhões de reais, gerando empregos, fortalecendo a arrecadação do poder público e aliviando os custos da energia elétrica para os consumidores. Faço minhas as suas palavras quando Sauaia afirma que “a energia solar também seguirá ajudando no combate às mudanças climáticas”. Não podemos esquecer de que esse é o maior desafio do século 21, para a nossa e as futuras gerações.

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Beto Marcelino, colunista quinzenal do TecMundo, é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa de projetos e soluções em cidades inteligentes que organiza o Smart City Expo Curitiba, maior evento do Brasil sobre a temática com a chancela da FIRA Barcelona.

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