Apenas 2% do seu tempo: isso é o que você precisa se exercitar

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Apenas 2% do seu tempo semanal e uma diferença na sua vida que você não vai se arrepender: proteção e tratamento contra mais de 26 diferentes doenças, mas sobretudo uma forma de se sentir bem no momento – consequências de um comportamento: exercício físico.

Em uma semana, temos pouco mais de 10 mil minutos de tempo. Considerando que as recomendações mundiais nos orientam a realizar no mínimo 2 horas e meia de atividade física (o que não necessariamente implica em apenas fazer exercícios, mas também movimentos diversos em casa, durante o transporte e no trabalho) por semana, e mais duas sessões semanais de fortalecimento muscular, o que daria em torno de 30 minutos cada, totalizando 3 horas e meia por semana, são apenas 2% do nosso tempo que deve ser dedicado ao comportamento de ser ativo fisicamente.

Parece pouco não é mesmo? A questão é: Por que a barreira mais comumente apontada pelas pessoas não praticarem exercícios, é a falta de tempo?

Falta de tempo - a barreira mais comum para exercícios: real ou uma percepção?Falta de tempo - a barreira mais comum para exercícios: real ou uma percepção?Fonte:  Getty Images 

2% do nosso tempo parece pouco, mas pode ser muito se for um tempo destinado a algo que a gente não goste. Pesquisadores tem entendido que existe, na verdade, uma percepção de falta de tempo, em vez da real falta de tempo das pessoas para exercícios. Falar que não tem tempo para exercícios pode ser uma falácia.

Em uma pesquisa sobre como Australianos gastavam seu tempo, 21% são destinados ao lazer. Considerando que 8h são para dormir, exercícios físicos podem perfeitamente serem realizados dentro das 3,3 horas restantes. Mas por que não fazemos?

Em alguns casos realmente as pessoas não têm tempo dentro do seu dia para exercícios: casa, filhos, trabalho, estudo, diversos compromissos e obrigações. Aliás, são muitos determinantes de atividade física e realmente não é “quem quer, faz”. Porém, talvez a maioria que aponte essa barreira, seja como reflexo de que essa atividade não é um comportamento escolhido dentre tantos outros disponíveis e mais atraentes. Basicamente, falta de prioridade. Para aquilo que não é prioridade, não temos tempo.

E eu te entendo. Não valorizamos algo que não tem recompensas suficientes. Até porque demora tanto para começar a aparecer algum resultado dos treinos né? Até lá parece que tanto esforço é feito, esse que faz sentirmos desprazer e as vezes torna ir à academia, totalmente aversivo. E são esses sentimentos que precisamos considerar para começarmos a “virar o jogo” da falta de tempo.

O elemento afetivo dos exercícios. Saber que os exercícios fazem bem para sua saúde não basta. Isso pode até ter feito você começar a treinar, mas sentimentos de prazer, prazer, bem-estar, e vigor são necessários para continuar. Isso é importante, pois somente temos os benefícios do exercício se seguirmos fazendo. E o detalhe crucial: pelo resto da vida. Dessa forma, não há uma linha de chegada, então é preciso gostar do processo.

Provavelmente não precisamos de mais tempo para fazer exercícios; precisamos gostar de fazer exercícios.Provavelmente não precisamos de mais tempo para fazer exercícios; precisamos gostar de fazer exercícios.Fonte:  Getty Images 

Já percebeu como alguns se sentem bem após o treino? Uma sensação de bem-estar, euforia e felicidade toma conta das pessoas, que postam entusiasmadas nas redes sociais: “endorfinado”. Sabemos que as endorfinas não são o único mecanismo que faz um papel na melhora do humor e bem-estar nos exercícios, mas sim uma combinação de química cerebral (neurobiológicos), fatores psicossociais e comportamentais.

Mas pesquisadores tem descoberto que apenas a sensação boa após o treino não basta para que queiramos treinar de novo. O que você sente após o treino terminar pode ser diferente do que sentiu ao longo de todo o treino. Existem evidências que o afeto pós-exercício pode não refletir um resumo da experiência.

É preciso que durante o treino, o afeto seja positivo. Por isso a frase “morri, mas passo bem” no treino, que vemos nas redes sociais pode ser enganoso. O treino ser um verdadeiro pesadelo em que o esforço seja aversivo, com exercícios que você não gosta, sentindo desprazer, em ambiente desagradável, pode criar uma associação ruim com o exercício, o que em futuras decisões comportamentais, pode resultar em opções alternativas sedentárias, como ficar deitado no sofá assistindo Netflix.

Uma correlação positiva significativa entre o afeto durante o exercício de intensidade moderada e a atividade física futura foi observada em alguns estudos que mediram como as pessoas se sentem durante o treino, ou seja, sentir prazer no treino faz com que você treine de novo!

2% do tempo podem ser bem aproveitados e o exercício, como hábito angular, impactar em diversos outros comportamentos: alimentação, estresse, sono e relacionamentos. Uma revolução positiva na vida em forma de movimento corporal, com pouco ou nenhum efeito adverso.

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.

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