Desistiu da academia? O problema pode ser o ambiente

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final. 

Quando pensamos em fazer exercícios, logo nos vem na mente: academia. Esse que é um espaço criado para as pessoas se movimentarem, visto que o nosso estilo de vida atual não demanda mais atividades físicas, pois conseguimos quase tudo com os polegares no celular. Mas como esse ambiente impacta na sua motivação para fazer exercícios?

Dados científicos confirmam o que sentimos na pele: a maioria das pessoas que se matricula nas academias não continua nos meses seguintes. Os números são marcantes: em geral, nos programas de atividade física a desistência ocorre em torno de 25% dos casos, mas quando tratamos de academia é bem pior: de 40 a 60% desistem.

Que explicações temos para esse alto índice de desistência? Sob a ótica da psicologia do exercício, como ser humano temos necessidades psicológicas básicas, que se bem suportadas podem favorecer nossa participação, pois gera uma motivação de melhor qualidade para exercícios. São as necessidades de vínculos sociais, autonomia (ter escolhas) e competência (se sentir competente, capaz de realizar uma atividade).

Se olharmos para a tendência de academias de rede low cost nas capitais do Brasil, já podemos supor que o ambiente não favorece a primeira necessidade psicológica básica. Ambientes altamente tecnológicos e limpos, com uma mensalidade relativamente barata, mas com um fator crítico importante: a impessoalidade. É só treinar um dia nessas academias e você vai perceber: é cada um na sua.

AcademiaAmbiente impessoal e com pouca interação é apontado com um, dos motivos para as pessoas desistirem da academia.Fonte: Getty Imagens

Música alta, ambiente escuros (na mais recente tendência) e pessoas com caras fechadas e pouca conversa. Em um primeiro olhar podemos achar que isso favoreceria o treino: pouco papo e muito esforço. Mas não para todos, pois o relacionamento social é uma necessidade psicológica básica do ser humano. Recentemente, surgiu até um termo: “gymtimidated”, utilizado quando alguém está bastante inseguro de si mesmo e se sente ameaçado por outras pessoas na academia.

Você deve pensar: mas como essas academias parecem estar sempre tão cheias? Provavelmente, o status quo no comportamento das pessoas, as mantém assim. A “condição de ficar como está” parece prevalecer entre as pessoas, que ao aderir a um plano anual na academia, permanecem pagando no cartão de crédito, mesmo sem ir treinar. Foi isso que um estudo mostrou: apenas 17% das pessoas que iniciaram foram à academia ao longo de um ano, porém 86% continuaram pagando!

A relação com outras pessoas, praticantes ou profissionais envolvidos no ambiente, é importante. Em um estudo em academias na Coreia, esse foi o fator mais relevante para as pessoas continuarem treinando nos 3 primeiros meses. Aquele convite e apoio de um amigo para ir à academia pode fazer a diferença! Ou mesmo o revezamento de um aparelho na academia, ali pode começar uma parceria de treino, a qual pode impulsionar seus exercícios. Para a maioria das pessoas, a constância é mais importante do que a intensidade do treino.

Na pesquisa mais recente no tema, pesquisadoras da Noruega compararam pessoas treinando em três tipos de academia: low cost (que tinha apenas cardio e musculação), academias multimodalidades e studios fitness. Os praticantes que apresentaram a melhor qualidade motivacional foram os dos studios fitness. Eles também tiveram maior suporte social.

O ambiente acolhedor e pessoal pode ter impactado na motivação destes. Esses ambientes menores com atendimento mais personalizado tiveram crescimento a partir da pandemia, depois que academias tradicionais fecharam suas portas.

Segundo as autoras, academias com foco na coesão e na comunidade social podem ter membros mais ativos e motivados, gerando não apenas espaço compartilhado para as pessoas se exercitarem como ocorre nas tradicionais academias de musculação, mas sim treinando juntas. Resultado semelhante foi observado em praticantes de CrossFit(R).

Atividade físicaAulas coletivas e um ambiente mais acolhedor, pode motivar o praticantes a não desistir de práticar a atividade física.
Fonte: Getty Images

Em pesquisa em 25 academias, níveis mais altos do motivo prazer, autoeficácia (crença de ser capaz) e apoio social foram os preditores mais fortes associados a frequência regular de exercícios ao longo do primeiro ano, período crítico para aderência.

Um local de exercício com atividades em grupo e apoio social em um ambiente seguro com instrutores qualificados pode ajudar os praticantes a permanecerem motivados, comprometidos e consistentes com seu comportamento de exercício, segundo essa pesquisa. Os resultados enfatizam que um vínculo social mais forte entre os indivíduos que se exercitam pode aumentar a probabilidade de aderência.

Segundo algumas pesquisas, a melhor academia não será necessariamente aquela com os melhores equipamentos e acessórios para treino, mas sim aquela que você se sente motivado. Considere o melhor tipo de academia aquela que você gosta de estar lá dentro treinando, isso é uma característica de motivação intrínseca, caracterizada por prazer durante os exercícios!

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.

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