Porque faz sentido olharmos para nossa história, para fazer exercícios hoje

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Um famoso professor e pesquisador de Harvard questiona: Por que algo que nunca evoluímos para fazer é saudável e recompensador?

Daniel E. Lieberman em sua obra “Exercised” conta a história de como evoluímos para nos movimentar quando é necessário ou gratificante. E essa é uma visão que podemos levar em consideração para levantarmos do sofá e irmos para a academia (ou outro exercício físico).

Para nossos antepassados, na origem da espécie Sapiens, algo em torno de 200 a 350 mil anos atrás, se movimentar era questão de vida ou morte: saíam para caçar ou morriam de fome. Algo totalmente necessário.

Home SapiensPara evoluir o ser humano precisou se movimentar.Fonte: Getty Images

Mas eles também faziam atividades físicas (termo conceituado) como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulte em gasto energético acima dos níveis de repouso) por questões sociais: danças e jogos, ou seja, por diversão e prazer. Os sapiens faziam atividade física por ser necessário (sobrevivência) e/ou gratificante (social). Então por que não adotar tal abordagem hoje, para nos movimentarmos?

Necessário o exercício físico (um tipo de atividade física organizado, sistemático e repetitivo, visando desenvolver aptidão física) atualmente já é. Não temos mais a necessidade de realizar atividades físicas para sobrevivência.

Conseguimos quase tudo com os polegares no celular, enquanto estamos deitados no sofá: comida, produtos do supermercado, farmácia, transporte e até relacionamentos afetivos! Tem um aplicativo designado para cada necessidade dessa.

Porém, não é dessa forma (inatividade física e elevado comportamento sedentário) que nossa espécie prosperou, pois evoluímos com alta demanda física e gasto energético. Esses comportamentos trazem sérias consequências negativas à saúde. A verdade é que podemos viver sem atividades físicas, no curto prazo. Mas isso não significa viver melhor, e nem mais.

Aí vem o exercício, que medicaliza, comercializa e industrializa o movimento. Não é a toa que pagamos uma quantia mensal para alugar tempo em um espaço cheio de máquinas e instrumentos estranhos. Para o pesquisador o auge é a esteira: uma máquina enorme e barulhenta que simula caminhada. O que nossos antepassados iriam pensar disso? Por que caminhamos “no lugar”?

De fato, essas tendências são necessárias, pois nosso estilo de vida não demanda mais movimento no curto prazo. Mas elas raramente tornam o exercício mais divertido. E aí está o principal problema: não visualizamos prazer nos exercícios e tem sido difícil para muitas populações adotá-lo na rotina, como os adolescentes que mundialmente apresentam uma prevalência de 81% como inativos fisicamente.

Atividade FísicaA prática da atividade física promove diversos benefícios para o corpo e mente.Fonte: Getty ImagesFonte:  Getty Images 

Provavelmente não é atrativo para um adolescente pensar em se movimentar para reduzir seu risco de mortalidade, isso está muito distante. Na pesquisa mais atual sobre níveis de atividade física, são os adolescentes a população mais crítica, com menos movimento ao longo dos anos.

Em uma pesquisa com eletroencefalografia, evitar comportamento sedentário (ficar sentado no sofá) exigiu uma alta resposta inibitória, comparado a evitar atividades físicas. Traduzindo: sair da inércia é mesmo difícil. Precisa valer a pena para o cérebro.

Segundo Lieberman, se queremos promover o exercício físico efetivamente temos que reconhecer que se engajar em atividade física voluntária visando saúde e boa forma é um comportamento bizarro, moderno e opcional.

Outro (e o principal) caminho é tornar o exercício gratificante e para isso um olhar psicológico é interessante, pois amplia os horizontes sobre o que chamamos de resultados, indo além do motivo estético. Podemos começar na academia buscando uma melhor forma física, mas resultados mais imediatos são obtidos na saúde mental e isso pode nos motivar no processo.

No curto prazo, temos a partir dos efeitos sistêmicos do exercício no corpo, melhora no bem-estar psicológico, percepção de competência, melhora do sono, aumento da força muscular, aprendizados de movimentos e exercícios e socialização.

Ao longo das semanas, novos resultados podem animar seus treinos, como prazer, melhora na composição corporal (aumento de massa muscular – hipertrofia, e diminuição de massa gorda – emagrecimento) com consequente melhora da autoestima e autoconfiança.

Se motive diariamente a praticar exercícios pelo simples fato de se distrair durante aquele tempo. Essa hipótese, a da distração de pensamentos negativos ruminativos, é uma das que explica porque melhoramos nosso humor a partir de um treino.

O olhar a partir de uma visão evolucionista antropológica nos permite entender que não evoluímos para fazer exercício, mas essa é a forma mais viável hoje de nos movimentar – atividade que é inerente à evolução de nossa espécie.

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify.

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