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Ciência

O excesso de satélites na órbita da Terra está ameaçando a astronomia?

Especialistas da astronomia acreditam que a alta quantidade de satélites na órbita baixa da Terra pode causar problemas para a humanidade.

Avatar do(a) autor(a): Lucas Vinicius Santos

schedule17/06/2023, às 14:00

O excesso de satélites na órbita da Terra está ameaçando a astronomia?Fonte: Getty Images

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De acordo com cientistas das Universidades de Edinburg (Reino Unido), Washington (EUA), British Columbia (Canadá) e da Agência Espacial Européia (ESA), o excesso de satélites na órbita da Terra pode causar problemas e ameaçar o futuro da astronomia. Por isso, eles requisitam para que os governos criem regulamentos e regras claras que protejam a órbita, os oceanos e a atmosfera do nosso planeta.

De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Astronomy, o aumento dos satélites na órbita baixa da Terra já começou a causar um tipo de poluição visual para os astrônomos e outros cientistas que observam o espaço. Além disso, eles argumentam que existe um potencial risco de colisão desses satélites, inclusive, eles também têm medo dos satélites causarem colisões com naves espaciais.

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Na pesquisa, os cientistas sugerem que os governos que utilizam essas tecnologias criem políticas a fim de desenvolver uma abordagem ética e sustentável em relação à órbita do espaço. Até 2022, foram registrados mais de oito mil satélites em uma viagem cíclica ao redor da Terra, contudo, a pesquisa aponta que o número pode ultrapassar 100 mil nos próximos anos.

"Contamos com o ambiente do espaço orbital olhando através dele, bem como trabalhando dentro dele. Portanto, devemos considerar os danos à astronomia profissional, observação pública das estrelas e a importância cultural do céu, bem como a sustentabilidade do comércio, cívica e militar no espaço", os pesquisadores descrevem na pesquisa.

satélitesO número de satélites em baixa órbita da Terra mais do que dobrou desde o primeiro lançamento da mega-constelação da SpaceX, em 2019.

Satélites na órbita da Terra

Ao decorrer dos próximos anos, os pesquisadores esperam que o número de satélites em órbita aumente significativamente. Inclusive, segundo o site The Guardian, Ruanda planeja realizar o lançamento de duas megaconstelações com um total de 327 mil satélites.

O maior problema é que não existem regulamentações para impedir o impacto dos satélites na observação do céu. Por isso, os pesquisadores acreditam que esses equipamentos podem impactar no trabalho dos astrônomos durante observações do espaço.

Além de o risco de colisão com outros objetos orbitando a Terra, os satélites podem causar uma perigosa reação em cadeia de colisões espaciais e criar ainda mais lixo espacial ao redor do nosso planeta. Por isso, os astrônomos têm medo de que esses equipamentos comprometam a observação do espaço e, futuramente, causem uma "ameaça global sem precedentes à natureza".

O que são megaconstelações?

  • Também conhecidas como megaconstelações, as constelações de satélites na órbita baixa da Terra, como a iniciativa Starlink, podem cegar radiotelescópios e causar diversos problemas técnicos ao trabalho dos astrônomos. 

"Nós realmente precisamos agir juntos. Trata-se de reconhecer que os problemas que vemos em órbita são os mesmos que vemos quando nos preocupamos com a terra, os oceanos e a atmosfera. Precisamos bater de frente e dizer como podemos resolver este problema", disse um dos autores do estudo e professor de astronomia na Universidade de Edimburg, Andy Lawrence.

Excesso de satélites na órbita

Além do problema causado por possíveis colisões, os cientistas afirmam que o céu se tornará mais iluminado com o aumento de satélites. Segundo uma modelagem baseada em dados do Observatório Vera Rubin, no Chile, a parte mais escura do céu brilhará até 7,5% mais na próxima década.

Excesso de satélites Outro possível efeito do excesso de satélites na órbita baixa da Terra é causar confusão no mundo animal, pois muito animais ainda usam o céu noturno para se locomover.

Um dos autores do estudo, John Barentine, explica que isso pode causar a redução de até 7,5% na observação de estrelas pelo observatório chileno. O problema é que isso custaria US$ 21,8 milhões (cerca de 106 milhões na cotação atual) ao Observatório Vera Rubin, valor usado para fomentar quase um ano de pesquisa.

Em outro estudo publicado na revista científica Nature, a astrônoma da Universidade de San Francisco, Aparna Venkatesan, descreve que a alta luminosidade causada pelos satélites também pode ameaçar a relação da humanidade com o céu. A pesquisa explica que a perda natural do céu noturno é uma "ameaça global sem precedentes à natureza e ao patrimônio cultural"

Não é à toa que muitos astrônomos estão requisitando por uma melhor regulamentação para limitar o crescimento de constelações de satélites na órbita da Terra.

Solução para o excesso de satélites na Terra

De acordo com a diretora do escritório das Nações Unidas (ONU) para Assuntos do Espaço Sideral, Simonetta Di Pippo, é necessário encontrar um meio-termo para solucionar esse problema. Ela explica que, apesar de as constelações de satélites auxiliarem no fornecimento de internet para pessoas em todas as regiões do mundo, ainda é necessário proteger a ciência e a astronomia de possíveis consequências.

Em 2020, a ONU iniciou o projeto Dark and Quiet Skies na tentativa de criar discussões sobre o tema e reduzir os possíveis problemas causado pelas megaconstelações. Contudo, alguns especialistas acreditam que a melhor forma de tratar da mitigação dos impactos dos satélites é por meio da indústria privada — há algum tempo, a SpaceX prometeu reduzir a iluminação óptica dos satélites da iniciativa Starlink para ajudar na causa.

"A SpaceX tem sido realmente líder da indústria no trabalho para encontrar um revestimento óptico que deve reduzir o brilho aparente no solo em cerca de 50 vezes. Eles também assinaram voluntariamente um acordo de coordenação com a National Science Foundation", disse o diretor assistente de relações governamentais do Observatório Steward da Universidade do Arizona (Estados Unidos), Richard Green.