Eletroestimulação: treino com choques funciona ou é só marketing?

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Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Em minha primeira coluna aqui no TecMundo, comentei sobre as tendências fitness para 2023. O autor do artigo que traz as tendências, descreve as diferenças entre moda e tendência, uma importante diferenciação que consiste basicamente no impacto e no tempo vigente do fenômeno: moda como uma atividade popular realizada de maneira intensa, mas por um curto período; e tendência como um desenvolvimento ou mudança no modo como as pessoas estão se comportando.

Mulher faz treino de eletroestimulação, que combina exercícios de força e choques elétricosMulher faz treino de eletroestimulação, que combina exercícios de força e choques elétricosFonte:  Getty Images 

Modas podem se transformar em tendências ou não. Quer um exemplo? O CrossFit (R) surgiu no início dos anos 2000 e tem expressivo crescimento, sendo uma tendência. Outro? No Brasil, muitos estúdios estão aplicando treinos com eletroestimulação de corpo inteiro, que com um pesado marketing, prometem resultados rápidos. Porém será que de fato é uma prática efetiva? Que fique claro: modas podem até surgir no ranking, pois são apontadas pelos profissionais do próprio ramo, porém provavelmente sairão da lista nos anos seguintes.

A moda da eletroestimulação surgiu há poucos anos e a forma mais comum dessa prática consiste no praticante vestir um macacão conectado a uma máquina que emite impulsos elétricos para estimular a ativação muscular. As promessas são grandes, pois propagandas declaram que um treino de apenas 20 minutos ativaria 300 músculos, com elevado gasto calórico e sem a sensação de fadiga muscular, a qual é aversiva a muitos praticantes, mesmo com o praticante realizando alguns exercícios de força e resistência muscular enquanto leva uns choquinhos.

A prática hipoteticamente atenderia diferentes objetivos como emagrecer, tonificar, reduzir (até acabar) com a celulite e produzir colágeno. "Aquilo funciona?", é uma pergunta que recebo constantemente. Parece interessante, não é mesmo? Quem não vai se interessar por uma prática com pouco esforço e tantos benefícios? Bom, para verificar a real eficácia disso, nada melhor que a ciência.

O que diz a ciência sobre a eletroestimulação?

Apesar da limitada literatura a respeito, os resultados não são animadores.  Quando pesquisadores da Espanha, há poucos anos, reuniram os estudos publicados sobre eletroestimulação (e o total foi de apenas 21), concluíram que “o corpo de pesquisa é escasso e os estudos existentes carecem da quantidade de evidências necessárias para tirar conclusões sólidas sobre a eficácia do treinamento com eletroestimulação”. Os pesquisadores observaram que havia uma falta de estudos controlados randomizados, que são o melhor tipo de estudo para verificar causa e efeito.

Treino de eletroestimulação, que combina choques elétricos e exercícios de forçaTreino de eletroestimulação, que combina choques elétricos e exercícios de forçaFonte:  Getty Images 

Observando esse espaço, no mais recente estudo publicado, Pesquisadores do Irã, realizaram um estudo controlado randomizado. Eles sortearam 40 mulheres com sobrepeso para treinar de duas maneiras diferentes: somente na esteira ou na esteira e mais eletroestimulação. Na esteira, todos faziam 30 minutos de exercício por 3 vezes na semana. A diferença dos grupos estava em fazer ou não os exercícios de força com o macacão de eletroestimulação. Após 6 semanas (um período pequeno para alterações no corpo), ao comparar dados como IMC, percentual de gordura, perímetros de cintura e quadril, os pesquisadores descobriram que ambos os grupos reduziram algumas medidas, porém sem diferença estatística entre eles, mesmo adicionando os exercícios de força com choques.

Para quem é indicada a eletroestimulação?

Basicamente, na eletroestimulação há contração muscular através dos choques, porém sem a necessidade de um comando do sistema nervoso central, mas será que isso serve para você? Considero que pessoas com limitações de movimento possam se beneficiar, como pacientes com lesões neurológicas. Por outro lado, se uma pessoa consegue se mover normalmente, não há motivos para que gaste mais dinheiro em uma prática não fundamentada como essa. Os treinos tradicionais de musculação, por exemplo, são muito mais baratos e viáveis na rotina.

Os principais objetivos das pessoas ao praticar exercícios têm relação com a estética, sendo a hipertrofia (aumento de massa muscular) e o emagrecimento (redução de gordura corporal), processos multifatoriais e complexos, desconfie daqueles que vendem soluções simples para problemas complexos, ganhando dinheiro com suas afirmações infundadas.

A indústria fitness é muito forte e cria modalidades para vender. Embora pareça ser uma modalidade interessante e isso ocorre devido ao forte e apelativo marketing aliado à tecnologia, atualmente não temos evidências consistentes sobre seus efeitos. O básico parece ainda funcionar bem, enquanto as modas são passageiras.

Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/CEFID/UDESC). É autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos, e apresenta o programa Exercício Físico e Ciência na rádio UDESC Joinvile (91,9 FM); o programa também está disponível em podcast no Spotify

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