Pesquisas eleitorais: como são feitas e até que ponto são confiáveis?

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As pesquisas de opinião ganham destaque na véspera de eleições. Os levantamentos da intenção de voto da população nos candidatos que concorrem aos cargos políticos ganham a imprensa com seus números, que também servem para que as campanhas orientem suas ações em busca de melhores resultados.

No meio de tantos números, publicados toda semana, é fácil se confundir, e parte do eleitorado vai pelo caminho mais fácil: desconfiar. Afinal, se cada pesquisa tem um resultado diferente, como saber qual está mais próxima da verdade?

título de eleitorPessoa exibe título de eleitor; documento pode ser usado também no formato digital durante as eleições (crédito: Shutterstock)

“As pesquisas eleitorais medem a intenção de voto no momento em que elas são realizadas. Existem vários fatores que podem fazer com que elas errem o resultado das urnas mesmo sendo bem-feitas”, afirma o estatístico Neale Ahmed El-Dash, desenvolvedor do Polling Data, site agregador de pesquisas.

“Se existem muitos indecisos na pesquisa, no dia da eleição, esses eleitores vão para algum lugar — podem votar ou não, mas não vão continuar na classificação de indecisos. Alguns pré-candidatos podem estar na pesquisa, mas não concorrerem no dia da eleição. Se a pesquisa é feita muito tempo antes da eleição, a chance de ela acertar o resultado também diminui, pois os acontecimentos durante a campanha podem alterar a intenção de voto”, explica El-Dash em entrevista ao TecMundo feita via WhatsApp.

No Brasil, mais de uma dezena de institutos fazem as pesquisas eleitorais. Fora do período de eleições, essas empresas se dedicam a diferentes tipos de levantamentos de opinião pública contratados por marcas, governos e outras organizações.

Embora os métodos de se fazer uma pesquisa eleitoral tenham pequenas variações — algumas são feitas presencialmente, enquanto outras são realizadas por telefone, por exemplo — em um aspecto todas precisam concordar: como não é possível entrevistar os mais de 156 milhões de eleitores brasileiros, a amostra (o grupo que vai ser entrevistado) deve refletir o todo do eleitorado nacional.

urna eletrônicaUrna eletrônica passa por teste de segurança antes das eleições (crédito: Shutterstock)

“Os entrevistados são selecionados de forma a cumprir as cotas definidas na amostra. As cotas são proporcionais às variáveis gênero, idade, escolaridade e condição de ocupação”, diz Márcia Cavallari Nunes, CEO do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), em entrevista ao TecMundo por email.

O Ipec foi fundado em 2021 por ex-executivos do Ibope após o fechamento deste último. Como o Ibope é bem conhecido da população brasileira, o Ipec é chamado muitas vezes na imprensa de ex-Ibope.

Infográfico

Mas como o instituto define quantas mulheres devem ser ouvidas, ou quantas pessoas com mais de 30 anos precisam ser entrevistadas, por exemplo? Nunes explica que o perfil da amostra é definido com base nos dados oficiais da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) que é realizada anualmente. Também são considerados dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“Não é o tamanho da amostra que importa, mas sim como as pessoas são selecionadas”, diz El-Dash.

O estatístico usa um exemplo culinário para ilustrar a questão. Imagine que você está preparando uma lasanha, com várias camadas de recheio e massa. Para saber como está o sabor do preparo, é necessário cortar uma fatia que pegue todas as camadas do prato, ainda que seja muito pequena. Caso contrário — se você pegar só uma das camadas — não vai ser possível saber se a lasanha está boa ou não, você só vai ter uma visão parcial.

Por isso as enquetes feitas por usuários de redes sociais estão longe de refletir a opinião da população do país. Em nossas relações sociais, tendemos a nos aproximar de quem tem opiniões semelhantes às nossas (na igreja, na escola etc.). São as chamadas “bolhas”, que nos faz pensar que o mundo ao nosso redor é menos diverso do que ele realmente é.

“Quem deve controlar quem vai responder a pesquisa, quem deve estar na amostra, é o estatístico, que desenha a amostra, e não o respondente”, diz El-Dash. Assim, não é correto insistir com os pesquisadores para ser ouvido em uma pesquisa eleitoral; eles têm o treinamento e sabem como conduzir a escolha dos entrevistados de modo que a amostra possa refletir melhor a opinião da população. As pesquisas de intenção de voto são supervisionadas, e precisam ser registradas nos tribunais eleitorais.

Presencial ou por telefone?

Para El-Dash, os dois métodos têm seus desafios e benefícios. “Não é uma coisa óbvia dizer qual método é melhor. Mas as evidências que encontrei indicam que as pesquisas telefônicas podem ser um pouco melhores, dependendo do tema e da região de interesse”, diz o estatístico.

“As pesquisas presenciais foram o padrão ouro [considerado o melhor método] no passado, e foram muito importantes para conhecer a opinião do brasileiro, mas a tendência é que o futuro seja de pesquisas por telefone. Elas são mais rápidas, mais baratas e, pelo menos, tão eficientes quanto as presenciais”, acrescenta El-Dash.

urna eletrônicaAs urnas eletrônicas brasileiras são referência em segurança no mundo todo (crédito: Shutterstock)

Nos últimos anos, agregadores de pesquisa surgiram para ajudar o eleitor a navegar entre os dados. Nessas plataformas, é possível ter uma visão mais ampla, que combina o resultado de várias pesquisas. Além do site Polling Data, plataformas semelhantes (com métodos diferentes) foram desenvolvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), e pelos sites Poder 360 e CNN Brasil.

Para El-Dash, o recente aumento da desconfiança com relação às pesquisas eleitorais nos últimos anos é reflexo mais de visões pessoais do que de falhas nos levantamentos.

“Por mais que questionem as pesquisas eleitorais, na verdade, as pessoas não estão criticando a metodologia ou a performance, mas um resultado que não é o que elas querem. Isso não é sinal de nenhum pensamento científico”, diz El-Dash.

"As pessoas não estão criticando a metodologia ou performance, mas um resultado que não é o que elas querem".

Em casos extremos, a população tem se voltado para os pesquisadores dos institutos com violência. No dia 20 de setembro, um pesquisador do instituto DataFolha, um dos mais importantes do país, foi atacado com chutes e socos em Ariranha (cidade no interior de São Paulo) por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.

Márcia Nunes, do Ipec, confirma o aumento nas agressões aos pesquisadores em campo. “Já tivemos casos de agressões verbais e até físicas, como empurrões. Antes não tínhamos esse tipo de episódios, eram mais raros, hoje são mais frequentes”, diz a CEO do instituto.

Pesquisas de opinião são indispensáveis para a elaboração de políticas públicas em uma democracia, ainda mais em países tão diversos como o Brasil. Embora possam ser questionadas, a população deve fazer suas contestações dentro da lei, exigindo maior transparência (quando for o caso) e rigidez metodológica para que os resultados sejam os mais confiáveis.

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