Drones kamikazes: como funciona a nova arma usada na guerra na Ucrânia

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Imagem: Gettyimages

Empregados por exércitos há um bom tempo, os drones estão ganhando destaque em um cenário de conflito devido à ação de modelos kamikazes utilizados pela Rússia na guerra com a Ucrânia. No início de setembro, segundo a Agência Estado, as forças armadas da Ucrânia abateram o primeiro drone de fabricação iraniana utilizado pela Rússia na guerra.

Esses drones, conhecidos como kamikaze, chamam-se Shahed 136 e Mohajer-6 e foram usados para tentar atingir infraestruturas críticas da Ucrânia e destruir os armamentos militares ocidentais entregues para Kiev.

Afinal, por que kamikaze?

Porque esses drones têm tripulação e são utilizados como mísseis, em uma comparação rasa; ou seja, eles são conduzidos até o local para serem explodidos. O envolvimento do Irã nessa história também é turvo, visto que os veículos seriam fabricados pelo país, que nega fornecer drones para a Rússia e se coloca como neutro na guerra — mas o Washington Post reportou a primeira entrega dos armamentos em agosto.

Para não inserir o Irã diretamente no conflito, a Rússia teria pintado as aeronaves com as próprias cores, além de mudar os nomes para Geranium 2. Até agora, a Ucrânia já informou ter abatido dezenas delas, incluindo uma a 80 quilômetros de Kiev e uma em Zaporizhzhya, onde fica a maior usina nuclear da Europa.

Drone KamikazeOs drones kamikazes são usados em guerras desde a década de 1980.
Fonte: Blue Sauron/ Twitter

O uso dos drones no decorrer da história

Desde 1980, drones kamikazes são usados em conflitos, mas agora existem algumas diferenças claras, como o aumento na atividade e a compra deles por outras nações. Vale notar que não seria só a Rússia que estaria usando drones do Irã, já que a Ucrânia estaria usando veículos dos Estados Unidos e da Turquia, como o Switchblade 600 e o Bayraktar TB2, respectivamente, modelos que podem ser usados tanto com ogivas anexas quanto sem.

A grande questão envolve a corrida armamentista. Estados Unidos e Turquia fabricam drones caros, enquanto o Irã supostamente oferece uma opção kamikaze muito mais acessível, o que pode impactar o curso de uma guerra.

Em entrevista para a Agência Estado, Christopher Mendonça, doutor pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor de Relações Internacionais do Ibmec BH, explicou que “Esses drones podem mudar de forma muito clara a orientação da guerra, porque a Ucrânia tem muita dificuldade do ponto de vista da força aérea. Em vários momentos, o presidente Volodymyr Zelensky pediu à Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] que cedesse aviões ou aeronaves menores para que eles pudessem fazer a defesa do espaço aéreo, e esse talvez seja o grande furo das Forças Armadas ucranianas".

Drones KamikazesRodares de defesa têm dificuldade para localizar os kamikazes.Fonte: Jerome Taylor/ Twitter

Os drones kamikazes na guerra da Ucrânia

A autodestruição em explosão não é a única característica que dá esse diferencial, já que também há a possibilidade de inspecionar e localizar algo específico: navegar pelo céu buscando um alvo.

Um deles, o Shahed 136, pode carregar uma ogiva de cerca de 30 quilos e é tão pesado que precisa ser lançado de um caminhão. Além disso, é muito difícil realizar a detecção dele, por isso ele "cai" do céu sem qualquer aviso prévio e pode voar muitos quilômetros longe da base de lançamento para fazer reconhecimento.

Militares ucranianos já falaram que esses veículos conseguiram destruir obuses (que são como tanques de guerra) e veículos blindados utilizados pela Ucrânia, além de matar e ferir soldados. Porém os kamikazes também têm limitações significativas que precisam ser notadas: eles ainda usam GPS comercial, o que facilita o bloqueio, e carregam apenas ogivas leves, o que limita os danos e os conjuntos de alvos viáveis em comparação com bombas, mísseis e artilharias regulares.

Mesmo assim, por serem pequenos e voarem bem baixo, os radares de defesa têm muita dificuldade para localizar os kamikazes. Ainda, quando vistos, normalmente eles partem para o ataque. Sobre o alcance desses drones, as informações não são tão precisas, mas um vídeo de 2021 da HESA, principal fábrica do Irã, indica que os Shahed têm alcance de até 2 mil quilômetros.

No mês passado, as forças armadas da Ucrânia exibiram a captura do drone iraniano Mohajer-6, que pode atingir até 5,4 mil metros de altitude e voar a até 200 quilômetros por hora. A aeronave em questão foi pega com duas bombas Ghaem-5 sob cada asa.

Drones kamikazesNão se sabe ao certo a quantidade de drones kamikazes fabricados no mundo.
Fonte: Jerome Taylor/ Twitter

Quantos equipamentos existem atualmente

Recentemente comentamos em nosso canal do YouTube sobre os lançadores de mísseis Himars dos EUA em posse da Ucrânia e como eles começaram a virar o jogo para o país de Zelensky, principalmente pela alta tecnologia. Contudo, o kamikaze Shahed 136 também está contribuindo na história, visto que o campo de batalha da Ucrânia é curto para parar esses drones a tempo.

Segundo o vice-chefe do Departamento Operacional Principal do Estado-Maior ucraniano, general de brigada Oleksi Hromov, o país conseguiu abater cerca de 60% dos kamikazes Shahed lançados pela Rússia, sendo que Moscou já disparou pelo menos 86 desses veículos.

Pode o vilão se tornar o mocinho da história?

Missão DARTA missão teste realizada pela NASA para desviar da Terra a rota de um asteroide foi considerada um sucesso.Fonte: NASA JPL DART Navigation Team

Não é só na guerra que vemos avanços no uso de veículos não tripulados kamikazes, então vamos olhar para o lado bom da história dessa tecnologia. Recentemente, a nave da missão Double Asteroid Redirection Test (DART), que atingiu o corpo celeste Dimorphos em 26 de setembro, teve sucesso em modificar e acelerar a órbita do asteroide em 32 minutos, de acordo com dados da NASA.

Pela primeira vez, a humanidade foi capaz de modificar a órbita de um asteroide, de modo proposital, ao lançar a nave DART em direção ao sistema binário de Dimorphos e Didymos. Ou seja, um veículo kamikaze pode ser usado para a proteção do nosso planeta, e isso foi provado pela NASA.

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