A Ciência é chata

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*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Apesar do título, essa é uma coluna de ciência, que tem como objetivo divulgar não só conhecimentos científicos sobre Física, como também a maneira de pensar e de fazer ciência.

A afirmação do título não está dizendo que a Ciência não é importante ou que não devemos nos importar com o que cientistas e pesquisadores nos informam. O ponto aqui é somente refletir que, comparada com as histórias que nossa mente é capaz de inventar, a Ciência é, de fato, chata.

Isso acontece pois, em geral, cientistas, quando estão divulgando o resultado um trabalho ou uma pesquisa, não costumam ser tão assertivos quanto alguém que está contando uma história pessoal interessante que ocorreu semana passada, por exemplo.

Descobertas científicas nem sempre cativam a atençãoDescobertas científicas nem sempre cativam a atençãoFonte:  Shutterstock 

Nossa mente é menos cativada por dados estatísticos que são capazes de fazer previsões altamente precisas sobre eventos que não necessariamente nos afetam direta ou imediatamente, do que por coisas que afetam nossas emoções ou que podem representar uma ameaça iminente.

Analisemos o caso do aquecimento global. Considerando o último relatório da ONU, o período entre 2015 e 2021 foi o mais quente já registrado na história, com uma média de temperatura de 1,17 grau Celsius (com margem de erro de 0,13 oC) acima das temperaturas registradas antes do período industrial, o que comprova a intervenção humana com a emissão de carbono como responsável pelo aumento crescente na temperatura de nosso planeta.

Portanto, se não reduzirmos, enquanto espécie, nossa emissão de carbono, teremos novamente e seguidamente os anos mais quentes da história, o que pode causar cada vez mais desastres e eventos climáticos extremos, além de mudanças irreversíveis em nosso ecossistema. Tais mudanças prejudicariam, por exemplo, a previsibilidade de chuvas que são essenciais para nossa produção agrícola.

Esses últimos dois parágrafos são, ao mesmo tempo, trágicos, importantíssimos e exemplos do ponto em questão nesse texto.

Para muitas pessoas, esse assunto, com previsões de eventos que não vão afetar nossas vidas a partir de agora, é muito menos interessante, cativante e mais abstrato do que pensar que as organizações não governamentais que combatem o desmatamento são, na verdade, as grandes responsáveis por colocar fogo nas florestas para que as mesmas possam pedir dinheiro e realizar o combate ao desmatamento causado por elas.

Esse tipo de narrativa, que responsabiliza um grupo ou uma pessoa por um problema global e que deve ser discutido e cobrado por todos os cidadãos e governos do mundo, traz mais conforto, uma dose de intriga que são tão queridos por nossa espécie. Além disso, uma narrativa que não está compromissada com a verdade ou em embasar suas afirmações (ao contrário da Ciência), tem a maravilhosa possibilidade de responder questões altamente complexas com respostas simples.

Problemas complexos costumam ter soluções difíceis de entender, uma vez que é necessário embasamento teórico e, por vezes, experimental para elaborar uma boa resposta. Isso costuma levar tempo e um processo que conta com inevitáveis erros e com a correção deles, o que é muito mais chato do que ouvir uma narrativa simples e intrigante que possui um único culpado e resolve, pelo menos e somente aparentemente, todos os nossos problemas. Apesar disso tudo, nos resta seguir em defesa da chatice.

Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou

Fontes

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