Existe um jeito certo de aprender Física?

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*Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

É possível que maioria das pessoas tenha tido uma experiência ruim com a Física, seja no Ensino Médio ou em algum outro estágio educacional. Na minha experiência, quando menciono que sou professor de Física, escuto coisas como “você é louco”, “isso é coisa de maluco” ou “só sendo muito inteligente para entender isso”. As duas primeiras podem ser discutidas em outra ocasião, mas a última, com certeza não é verdade.

O estigma de que para aprender Física a pessoa deve ser inteligente está por toda parte. Cientistas, e físicos em geral, são comumente representados como uma pessoa excêntrica, muitas vezes solitária, que é genial e compreende de algo que poucos podem compreender. Por exemplo, a imagem de um cientista de cabelos brancos bagunçados está bastante difundida na cultura popular, desde Doc Brown em “De Volta Para o Futuro” (1985) até o cientista Rick Sanchez do seriado “Rick and Morty” (2013).

CientistaRepresentação genérica de um cientista de cabelos brancos tomou conta da cultura popular (crédito: Shutterstock)

Na vida real, você não precisa ser genial para compreender um assunto, qualquer que ele seja, basta que você tome o tempo necessário para aprendê-lo. Entretanto, no caso de algumas pessoas, quando o assunto em questão envolve, por exemplo, qualquer abordagem numérica, é notável uma resistência para o que quer que venha a seguir. Isso pode ser notado também em outros exemplos como, assuntos com textos longos demais ou com pouca aplicação prática.

Muito se fala sobre estilos de aprendizagem. Isto é, a ideia de que cada indivíduo aprende melhor se o assunto for abordado de uma maneira específica. Por exemplo, se compararmos o desempenho em uma prova de uma pessoa que possui uma aprendizagem visual com uma pessoa mais auditiva, em um cenário onde as duas pessoas assistiram à uma mesma aula dada somente a partir de imagens, a pessoa mais visual deveria ir melhor na prova, certo?

Errado. pesquisadores da educação não conseguem evidências suficientes para justificar a existência de estilos de aprendizados nas pessoas. Os resultados de análises com cenários semelhantes ao exemplo proposto (com um número robusto de pessoas investigadas e com um método apropriado), mostram que o desempenho dos alunos não é melhor se o estilo de aula assistida corresponde ao seu suposto estilo de aprendizagem.

Entretanto, um fenômeno bastante comum de se observar é o chamado “viés de confirmação”, onde as pessoas tendem a acreditar em coisas que corroboram uma crença já existente. Isto é, se uma pessoa acredita não gostar de Física, ou que Física é algo difícil e que não é para ela, independentemente da abordagem de ensino, essa pessoa dificilmente terá uma boa experiência com a Física.

Atualmente, com as redes sociais, temos a representação de um ambiente construído pelo viés de confirmação. Uma vez que utilizamos tais serviços, os algoritmos nos fazem ver com maior frequência publicações que estão próximas do que costumamos “curtir” para reter nossa atenção por um tempo maior. Portanto, o desafio educacional é ainda maior quando pensamos em pessoas acostumadas a ver coisas que concordam e reforçam suas crenças ao invés de pessoas acostumadas a questionar se sua visão de mundo está correta.

Isso tudo não quer dizer que a educação atual esteja fazendo tudo errado ou seja uma causa perdida. Só quer dizer que, não precisamos individualizar exageradamente nosso aprendizado. Observamos que, muitas vezes, uma experiência de aprendizagem com diversas formas de contato com determinado assunto produz resultados melhores. Portanto, para que nossa educação e nosso aprendizado evoluam, não é preciso nos colocar em grupos que aprendem coisas diferentes de formas diferentes, mas sim nos colocarmos no grupo de todas as pessoas dispostas a ouvir, ver e pensar sobre coisas diferentes.

Rodolfo Lima Barros Souza, professor de Física e colunista do TecMundo. É licenciado em Física e mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela Unicamp na área de Percepção Pública da Ciência. Está presente nas redes sociais como @rodolfo.sou

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