Exercício físico: um incubador de criatividade

Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Pensamento criativo. Você está vivendo sua vida, sua rotina, dia a dia, quando tem um insight, uma ideia nova inesperada. O nome disso é serendipidade. Descobertas afortunadas que não foram esperadas. Essa é uma experiência muito bacana e motivadora. A ciência tem descoberto que podemos desencadear mais disso em nossa vida a partir de movimento: exercícios físicos.

O pensamento criativo é composto por dois componentes: pensamento divergente e pensamento convergente. O primeiro é ter ideias fazendo associações entre coisas distintas e não relacionadas, como quando criamos opções com o que temos para resolver um problema.

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Um clássico teste da psicologia pede que o sujeito pense no maior número possível de usos para objetos simples, como pneu, jornal, ímã, cartas de baralho e palito de sorvete. Aqui é onde podemos “pensar fora da caixa”, para criar um número maior de possibilidades (fluência), com diversas formas (flexibilidade) e raridades (originalidade) de usos do objeto. O pensamento convergente é um processo mental mais controlado que busca uma única solução para um problema, como resolver palavras-cruzadas.

Como humanidade, buscamos formas de melhorar ambos os pensamentos. 

Através da ciência, descobrimos que o movimento corporal é uma forma interessante, especialmente para o pensamento divergente. É o que chamamos de efeitos cognitivos da atividade física, os quais vamos conhecer melhor agora.

Atividade física e seus benefícios cognitivos: aumento da criatividade.Fonte:  Getty Images 

Criatividade: precisamos dela?

Talvez você pense que isso pode ser irrelevante, pois seu trabalho aparentemente não demanda criatividade. Mas considere outras situações como fazer um jantar com os ingredientes que você tem em casa ou conseguir brincar com seus filhos, mesmo com poucas opções de brinquedos. Às vezes novos planos de trabalho ou de vida podem surgir apenas com alguns passos. A partir daí valorizaremos mais ser criativo e uma motivação diferente para exercícios pode surgir.

A criatividade pode se manifestar pelo pensamento divergente, quando criamos opções com o que temos para resolver um problema, como cozinhar com os ingredientes que temos em casa.Fonte:  Getty Images 

Treinos para criatividade?

Não é preciso complicar as coisas no exercício quando pensamos em criatividade. Novas ideias podem estar perto de você. Um estudo verificou que a subida de escadas é uma forma válida. Comparado ao uso de elevador, a subida de escadas aumentou a criatividade – o pensamento divergente, em 61% em estudantes de Medicina. A eficiência da escada também foi maior, pois essa economizou mais tempo do que o elevador, pois foi necessário esperar por ele.

Outra forma de desencadear a criatividade, ainda mais fácil e acessível, é a caminhada. Por isso, “dar às suas ideias algumas pernas” virou até título de estudo. Além de reduzir pensamentos negativos ruminativos, ela pode aprimorar o pensamento divergente. Na ciência, diversos estudos têm demonstrado o potencial da “caminhada natural”, ou seja, caminhar em um ritmo selecionado pela pessoa, para aumentar esse tipo de criatividade.

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Esse é um exercício leve, mas você também pode optar por se esforçar um pouco mais ou mesmo praticar dança. Na prática, é importante cuidar da sua intensidade, pois esforços máximos podem não ser favoráveis à geração de ideias, devido ao elevado estresse físico.

Os efeitos do treino aeróbico são mais reconhecidos do que os do treinamento de força, quando falamos em ser mais criativo. Outra coisa que já sabemos é que os efeitos crônicos superam os agudos, ou seja, a continuidade dos treinos a longo prazo é mais poderosa para pensar diferente.

Como o exercício físico promove criatividade?

Apesar da limitação nas pesquisas sobre os mecanismos que o exercício pode gerar criatividade, sabe-se que o movimento físico beneficia o cérebro gerando maior potencial para ser criativo por meio de mudanças estruturais e fisiológicas, como a ativação de diferentes regiões cerebrais, bem como maior circulação sanguínea que leva mais oxigênio e nutrientes, além de aumentar a presença de fatores de crescimento, o que parece formar um momentâneo incubador de ideias novas.  

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Um fenômeno que acontece é a hipofrontalidade transiente, que implica em redução da atividade cerebral no córtex pré-frontal – responsável pelo raciocínio e tomada de decisões, enquanto aumenta a atividade em regiões necessárias para o exercício, como o córtex motor.

Uma sessão de exercícios parece nos distrair de problemas diários, abrindo um espaço para divagação. Além disso, é um espaço que promove sentimentos positivos como o bem-estar, o que pode ajudar no processo de geração de novas ideias. A criatividade permite a inovação e a invenção em muitos campos. Mova-se para ser criativo.

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.

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