Conheça o projeto que treina pessoas com deficiência para irem ao espaço

3 min de leitura
Imagem de: Conheça o projeto que treina pessoas com deficiência para irem ao espaço
Imagem: AstroAccess

*Este texto foi escrito por uma colunista do TecMundo; saiba mais no final.

O sonho de ir para o espaço passa por quase todas as crianças. Mas algumas, desde cedo, aprendem erroneamente que esse sonho elas não podem alcançar. Essas são as crianças PCD, que possuem alguma deficiência. A missão AstroAccess veio mostrar que a sociedade está errada, e o céu é sim para todos.

O objetivo do AstroAccess é claro: tornar missões espaciais acessíveis. A primeira motivação é óbvia: cerca de 15% da população convive com alguma deficiência, essas pessoas possuem o direito à integralização em sociedade em todas as esferas, incluindo o espaço! Além disso, a missão AstroAccess mostra que a acessibilidade não é só possível como uma vantagem para toda a humanidade.

As missões espaciais hoje são desenhadas para pessoas sem deficiência. Um dos pontos fracos é que as missões contam extensivamente com a visão e a audição dos astronautas. O problema é óbvio: em casos de emergência, estamos em desvantagem. Se acontecer um incêndio na estação espacial internacional, por exemplo, a fumaça pode tornar impossível que nossos astronautas consigam ver. Como eles podem navegar na nave? Ou então, se o sistema de comunicação falhar, como eles podem se comunicar? Esses exemplos mostram como tornar missões mais acessíveis pode ser uma vantagem para todos.

"O espaço remove barreira entre as pessoas:
Agora é hora de remover as barreiras ao próprio espaço"

Na foto temos Zuby, um embaixador de baixa visão, segurando um telefone que opera o protótipo da tecnologia heads-up display que ele está testando no AstroAccess Flight One.Na foto temos Zuby, um embaixador de baixa visão, segurando um telefone que opera o protótipo da tecnologia heads-up display que ele está testando no AstroAccess Flight One.Fonte:  AstroAccess | Crédito: ZERO-G 

Adaptar missões espaciais tornando-as acessíveis a diferentes deficiências é também um passo para missões mais eficientes. Em caso de fumaça ou em que a visão é impossibilitada, uma navegação com toque pode ser a saída do problema. E, além disso, a acessibilidade para um astronauta cego. Em caso de falta do sistema sonoro ou algum evento que impossibilite a audição por alguns instantes, uma comunicação visual pode resultar em vidas salvas, e garante o acesso a um astronauta surdo. Existem diversos fatores que podem ser melhorados em missões espaciais, garantindo a acessibilidade e treinando astronautas sem deficiência para aprenderem a se guiar por outros sentidos.

Além de tudo, a missão AstroAccess prova que, pessoas com deficiência podem ser as mais capacitadas para algumas características de missões espaciais. Por exemplo, devido a algumas diferenças no sistema vestibular, alguns astronautas surdos podem ser mais resistentes ao enjoo, ou talvez completamente imunes! Essa é uma vantagem obvia quando estamos falando de missões espaciais.

A própria NASA teve um projeto com 11 homens surdos, chamado Gallaudet 11, que ajudou, na década de 50, no desenvolvimento das missões espaciais de hoje. Entretanto, ainda não tivemos um astronauta surdo no espaço. Outras vantagens incluem, por exemplo, pessoas com paralisia nas pernas, que estão mais acostumadas a se movimentar utilizados seus braços. Experimentos do AstroAccess mostraram que pessoas com paralisia parcial tiveram mais facilidade de atuar e navegar em microgravidade.

Membros do Gallaudet 11 se comunicando com linguagem de sinais na aeronave de gravidade zero.Membros do Gallaudet 11 se comunicando com linguagem de sinais na aeronave de gravidade zero.Fonte:  U.S. Navy/Gallaudet University collection 

A missão AstroAccess faz parte da iniciativa SciAccess, que visa tornar ciência em todos os níveis mais acessíveis. Eles performam voos em microgravidade em pessoas com deficiência para testar e provar o que é necessário ser adaptado em missões espaciais. Qualquer um pode se candidatar para fazer parte da missão (quando inscrições estão abertas).

"O espaço sideral não é apenas o futuro da humanidade:
É um chamado para repensar a vida na Terra hoje."

Camila de Sá Freitas, colunista do TecMundo, é bacharel e mestre em astronomia. Atualmente é doutoranda no Observatório Europeu do Sul (Alemanha). Autointulada Legista de Galáxias, investiga cenários evolutivos para galáxias e possíveis alterações na fabricação de estrelas. Está presente nas redes sociais como @astronomacamila.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.