Brasil: água de 763 cidades tem resíduos tóxicos, diz agência de jornalismo

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Uma reportagem que investigou o uso de agrotóxicos no Brasil acabou se deparando com uma consequência preocupante do uso desses pesticidas sintéticos: a presença de produtos químicos e radioativos na água consumida em 763 cidades brasileiras. "Defensivos agrícolas" e outros resíduos misturam-se nos rios e represas à água que bebemos em doses que, toleradas no Brasil, ultrapassam em muito os limites admitidos pela União Europeia.

Análise mostrou presença de substâncias potencialmente tóxicas em água de mais de 700 cidades do paísAnálise mostrou presença de substâncias potencialmente tóxicas em água de mais de 700 cidades do paísFonte:  Shutterstock 

Mas, independentemente dos critérios adotados, há consenso de que essas substâncias prejudicam a saúde, quando ingeridas na água em níveis superiores aos admitidos no Brasil. Segundo a Agência Pública, uma das autoras da reportagem, dependendo do produto consumido diariamente de forma indireta, há um aumento do risco de câncer, mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso.

Os dados até agora inéditos foram levantados pela ONG Repórter Brasil e divulgados nesta segunda-feira (7) pela Pública: em uma reportagem exclusiva, a agência mostra que essas ameaças diluídas na água saíram de pelo menos 763 cidades brasileiras entre os anos de 2018 e 2020. Substâncias químicas e radioativas acima do limite estabelecido pelo Brasil em uma de cada quatro cidades analisadas, entre as quais São Paulo, Florianópolis e Guarulhos.

O Mapa da Água

Elaborado pela Repórter Brasil, o Mapa da Água foi elaborado com informações encaminhadas pelas concessionárias ou órgãos de abastecimento ao Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde. Todas as amostras de água são coletadas depois do tratamento, o que significa que a maioria desses poluentes não pode ser removida por filtros ou mesmo fervendo a água.

E a fiscalização?

O que mais preocupa com relação aos dados analisados é que eles foram obtidos apenas nas cidades que testam a água. Em São Paulo, a Sabesp alega que os resultados acima do limite são casos pontuais e que não afetam o padrão da água como um todo. A empresa paulistana trabalha com um sistema de média móvel, mas não divulga esses dados nem à própria Secretaria Municipal de Saúde, segundo a Pública.

Algumas das substâncias encontradas pela análise não são eliminadas por processo de filtração ou fervuraAlgumas das substâncias encontradas pela análise não são eliminadas por processo de filtração ou fervuraFonte:  Shutterstock 

Mesmo confrontada com os dados do Sisagua, a Prefeitura de Guarulhos nega que existam substâncias acima do permitido na água do município. Já Florianópolis nem se deu ao trabalho de negar, dizendo que está "trabalhando para resolver o problema".

Mas o caso mais preocupante ficou por conta da cidade de Unaí (MG), recordista de poluição com substância radioativa (72 casos de rádio-228). Depois de admitir que não notou o problema, a prefeitura disse que era erro de digitação.

Como evitar agrotóxicos na água?

A análise do Mapa da Água revela que existem 50 cidades com pesticidas acima do limite tolerado pelo Ministério da Saúde. Mais do que a extrapolação dos limites, uma atenção especial tem que ser dada a essas regiões, devido ao grau de periculosidade das substâncias encontradas: 19 delas podem causar danos tão sérios à saúde humana que foram sumariamente banidas da União Europeia, sendo que cinco nunca se degradam.

Para Fábio Kummrow, professor da Unifesp, a medida mais viável para se obter uma água sem agrotóxicos é evitar a contaminação dos cursos d'água. Falando à Pública sobre essas substâncias, ele alertou que "precisamos de rigor na liberação de novos produtos, assim como discutir a proibição da pulverização aérea [por avião]”. Segundo o especialista, resíduos perigosos já foram encontrados em poços, lençóis freáticos e na água da chuva.

Segundo a agência de jornalismo, há consenso entre os especialistas de que já não há mais uma maneira de "se blindar do problema da água no Brasil". A única solução seria a criação de políticas públicas urgentes, uma vez que a questão já afeta ou vai afetar a todos os cidadãos brasileiros.

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