Ouvir Mozart pode ajudar a reduzir epilepsia refratária, mostra estudo

2 min de leitura
Imagem de: Ouvir Mozart pode ajudar a reduzir epilepsia refratária, mostra estudo
Imagem: Fonte: Math/Unsplash/Reprodução.

Embora não saibam exatamente o porquê, cada vez mais cientistas acumulam evidências de que a Sonata para Dois Pianos em Ré Maior de Mozart (conhecida como K448) ajuda a reduzir a atividade elétrica cerebral associada à epilepsia. Agora, um novo estudo publicado na revista acadêmica Scientific Reports confirma essa associação.

A equipe de pesquisadores analisou a hipótese de que ouvir a K448 por apenas 30 segundos poderia ativar redes neurais associadas a respostas emocionais positivas à música, reguladas pelo córtex frontal. Em caso positivo, a ativação dessas redes poderia contribuir na redução dos picos de atividade elétrica associados à doença entre pacientes com epilepsia refratária — forma da doença que é resistente a medicamentos.

Veja uma apresentação da obra abaixo:

A forma refratária da epilepsia atinge cerca de um terço dos portadores do mal — que, ao todo, são 1% da população global. Além de convulsões e suas comorbidades associadas, pessoas com epilepsia também apresentam descargas epileptiformes interictais (IEDs), que são sinais biológicos identificadores da doença associados à frequência das crises e ao comprometimento da cognição.

As IEDs surgem do disparo sincronizado de neurônios envolvidos em redes epilépticas. Assim, as intervenções relacionadas com IED podem fornecer informações sobre novas terapias para epilepsia e suas comorbidades relacionadas. Uma delas, com boas evidências acumuladas, é o uso da música como uma forma não invasiva e não farmacológica de neuromodulação (regulação da atividade neural).

Como o estudo foi feito

A nova pesquisa, liderada por Robert Quon, utilizou eletroencefalografia (EEG) para medir a atividade elétrica nos cérebros de 16 adultos com epilepsia resistente a medicamentos enquanto eles ouviam uma série de clipes musicais de 15 ou 90 segundos, incluindo a K448.

Os autores descobriram que ouvir entre 30 e 90 segundos de K448 estava associado a uma redução média de 66,5% no número de picos de atividade elétrica associados à epilepsia em todo o cérebro. As reduções foram consideradas maiores nos córtex frontais esquerdo e direito — partes do órgão envolvidas na regulação das respostas emocionais. O mesmo resultado não foi obtido com os demais clipes musicais usados no estudo.

Os pesquisadores também observaram que quando os participantes ouviam o final de seções longas e repetitivas de K448, um tipo de atividade elétrica conhecida como "atividade teta" aumentava em seus córtices frontais. Pesquisas anteriores sugeriram que a atividade teta pode estar associada a respostas emocionais positivas à música.

Uma meta-análise demonstrou que aproximadamente 84% dos indivíduos estudados na nova pesquisa tiveram reduções significativas de IEDs durante as audições da K448.

Música clássica e epilepsia

O "Efeito Mozart" foi descrito pela primeira vez em 1993, por uma equipe de pesquisadores que demonstrou o aprimoramento em uma tarefa espacial durante a exposição à K448. Posteriormente, em 1998, outro estudo testemunhou o efeito em pessoas com epilepsia, mostrando que a K448 estava associada à redução da atividade epileptiforme — e consequentemente, das convulsões e IEDs.

MozartEstátua de Mozart em frente à prefeitura de St. Gilgen, na Áustria (créditos: Anastasia Petrova/Shutterstock)

Somente uma outra composição, a Sonata para Piano em Dó Maior de Mozart (K545), apresenta propriedades terapêuticas parecidas com a K448. Outras composições testadas, como Fur Elise de Beethoven e uma versão para cordas de K448 não obtiveram sucesso na redução da atividade cerebral ligada à epilepsia.

Até o momento, as propriedades específicas que impulsionam o “Efeito Mozart” permanecem desconhecidas. Os autores afirmaram, no artigo, que sua pesquisa pode guiar trabalhos futuros na descoberta de como a K448 de Mozart induz respostas terapêuticas, o que pode facilitar o desenvolvimento de novas terapias musicais não invasivas para tratar a epilepsia refratária.

ARTIGO Scientific Reports: https://doi.org/10.1038/s41598-021-95922-7. 

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.