Adiamento da 2ª dose permite que o vírus neutralize a vacina?

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Imagem: Jacob King/Getty Images

A decisão adotada pelo governo do Reino Unido no fim do ano passado ao permitir um lapso de até 12 semanas entre as doses das duas vacinas autorizadas no país tem dividido opiniões de infectologistas e provocado acalorados debates entre especialistas.

Preocupadas com o aumento alarmante de casos e aterrorizadas com a disseminação de uma nova cepa altamente contagiosa do coronavírus, as autoridades de saúde do Reino Unido pretendiam aumentar, ainda que com meia dose, a proteção de um número maior de pessoas.

Seguindo a mesma lógica dos britânicos, na última segunda-feira (11), o governo da Rússia revelou um ensaio clínico no qual está sendo testada a aplicação do imunizante de duas doses Sputnik V em dose única, com o nome Sputnik Light, como uma solução "temporária" para auxiliar países com altas taxas de infecção.

Na terça-feira (12) foi  a vez de os Estados Unidos aderirem à estratégia da meia dose com o anúncio de que o país não mais reteria os 50% do suprimento de vacinas para garantir a aplicação da segunda dose em tempo hábil.

O que dizem os virologistas?

Paul Bieniasz defende que o adiamento da segunda dose pode propiciar o surgimento de mutações do vírus (Fonte: The Rockefeller University/Reprodução)Paul Bieniasz defende que o adiamento da segunda dose pode propiciar o surgimento de mutações do vírus. (Fonte: The Rockefeller University/Reprodução)Fonte:  The Rockefeller University 

A reação dos profissionais de saúde teve início no dia seguinte à decisão do Reino Unido. O virologista britânico-americano Paul Bieniasz, da Universidade Rockefeller, em Nova York, twittou: "Desenvolvi uma notável vacina de duas doses, administrei-a a milhões de pessoas, mas atrasei na segunda dose". Em seguida, fez um alerta sarcástico, argumentando que deixar a imunidade de uma pessoa diminuir por um tempo pode permitir o alcance de um ponto ideal para "criar um vírus que seja capaz de neutralizar a vacina".

O que Bieniasz e vários de seus colegas virologistas temem é que estender o intervalo entre as duas doses para vacinar mais gente pode resultar em uma multidão de meio-vacinados durante um período considerável, quando o vírus pode se aproveitar para desenvolver mutações resistentes ao imunizante.

Os especialistas ainda não chegaram a um consenso sobre qual é o tamanho exato do risco de um longo intervalo entre as duas doses. O microbiologista Andrew Read, da Universidade Estadual da Pensilvânia, alerta na Science Magazine que "é uma carnificina lá fora", o que leva a crer que "o dobro de pessoas com imunidade parcial tem que ser melhor do que a imunidade total para metade delas".

Vírus mutantes

Fonte: Science Photo Library/ReproduçãoFonte: Science Photo Library/ReproduçãoFonte:  Science Photo Library 

Um fato incontestável é que aumentos exponenciais de casos, que acarretam incontáveis bilhões de replicações do vírus por segundo, podem propiciar o surgimento de mutações à medida que o vírus cometa erros ao copiar seu código genético. Um desses "errinhos" fez surgir na África do Sul duas mutações que conseguem bloquear a eficácia dos anticorpos empregados por humanos para se curar da covid-19.

Os biólogos evolucionistas passaram a usar modelagem por computador para simular cenários de um possível "drible" do vírus ao imunizante, mas, além de não haver dados suficientes para calcular esse risco, eles entendem que é improvável que uma mutação isolada consiga anular a eficácia de uma vacina.

Agora, especialistas esperam dados dos testes da vacina em estágio final na África do Sul, que começaram antes do surgimento da nova cepa, para saber a capacidade dessa variante de escapar dos imunizantes existentes.

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