Ciência

Manaus: imunidade de rebanho pode ser alerta para outros países

Especialistas alertam que a imunidade de rebanho não pode ser utilizada como uma política de saúde, uma vez que foi atingida após 47 mil pessoas serem infectadas e 2,4 mil mortes

Avatar do(a) autor(a): Jorge Marin

23/09/2020, às 16:00

Manaus: imunidade de rebanho pode ser alerta para outros países

Fonte:  Michel Dantas/AFP 

Imagem de Manaus: imunidade de rebanho pode ser alerta para outros países no tecmundo

Um estudo preliminar, postado no servidor de pré-impressão medRxiv e conduzido por pesquisadores brasileiros, indicou que a cidade de Manaus pode ter atingido a imunidade de rebanho contra o novo coronavírus.

Liderada por Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, a equipe afirma ter testado anticorpos para o vírus em sangue de hemocentros. Estima-se que entre 44% e 66% da população da capital amazonense está infectada desde que a cidade registrou o seu primeiro caso em março passado.

Em entrevista ao MIT Technology Review, a imunologista Ester Sabino afirmou: “Pelo o que aprendemos, essa é provavelmente a maior prevalência no mundo. As mortes caíram muito rapidamente, e o que estamos dizendo é que elas estão relacionadas”.

Fonte: Michel Dantas/AFPFonte: Michel Dantas/AFP

Os pesquisadores afirmam que a alta mortalidade e a queda sustentada de casos da doença na região indicam que a imunidade de rebanho, ou coletiva, teve papel importante na determinação do tamanho da epidemia em Manaus, embora outros fatores possam ser considerados, como o aumento do distanciamento social.  

A região viveu um pesadelo com o vírus: alguns morreram em casa e grupos indígenas passaram a ser atingidos pela infecção. No entanto, em meados de agosto, um fato causou surpresa e foi noticiado no mundo inteiro: em uma reviravolta repentina, de um pico de 79 mortes por dia, a taxa de mortalidade recuou para 2 ou 3 mortes diárias em setembro.

O imunologista Florian Krammer, do Hospital Monte Sinal em Nova York, fez um alerta: “A imunidade comunitária via infecção natural não é uma estratégia, é um sinal de que o governo falhou em controlar um surto e está pagando por isso em vidas perdidas”.

Para os autores do estudo: “Manaus pode atuar como uma sentinela para determinar a longevidade da imunidade da população e a frequência das reinfecções”.


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Por Jorge Marin

Especialista em Redator

Redator do Mega Curioso e do TecMundo, Jorge Marin escreve sobre Ciências e Tecnologia desde 2019, conectando conhecimento acadêmico com experiências humanas do dia a dia. É psicólogo, cinéfilo e botafoguense inveterado.