Mulher com HIV desenvolve 36 mutações do coronavírus em 216 dias

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Imagem: Matthew Martin Brink/Xinhua/Getty Images

Identificada em uma pesquisa feita na África do Sul para documentar o efeito do SARS-CoV-2 em indivíduos com HIV, uma mulher de 36 anos revelou estar portando o novo coronavírus por 216 dias, durante os quais o agente patogênico acumulou mais de 30 mutações. O estudo ainda não foi revisado por pares e está no servidor de preprints medRxiv.

Embora nunca tenha ficado gravemente doente de covid-19, a mulher foi analisada por geneticistas e especialistas, que comprovaram em seu organismo mutações de coronavírus potencialmente perigosas. O motivo do acúmulo de tantas alterações genéticas pode ser sido uma falha em sua resposta imunológica provocada por um tratamento falho do HIV.

Apesar de ter sido diagnosticada com HIV em 2006, essa paciente sul-africana jamais teve sua carga viral controlada pelos médicos com a terapia antirretroviral padrão. Com isso, suas células de defesa T-CD4+, que são os principais alvos do HIV, e poderiam desempenhar um importante papel na eliminação da infecção por coronavírus, estavam com uma contagem muito baixa.

Fonte: Bram Janssen/APFonte: Bram Janssen/APFonte:  Bram Janssen/AP 

O caso clínico

Quando foi diagnosticada com a covid-19 em setembro do ano passado, a paciente sul-africana ficou hospitalizada com sintomas moderados da doença, mas obteve alta após nove dias. Para o principal autor do estudo, Tulio Oliveira, um geneticista da Universidade de KwaZulu-Natal em Durban, na África do Sul, esse caso poderia ter passado facilmente despercebido se não detectado pela pesquisa.

O geneticista explicou ao Los Angeles Times que, durante o tempo em que permaneceu no corpo da portadora de HIV, o coronavírus sofreu 13 alterações genéticas somente na proteína spike, sem contar pelo menos outras 19 em lugares distintos capazes de alterar o comportamento do vírus. Entre as variantes, foram detectadas: a B.1.1.7, observada no Reino Unido; e a B.1.351, da própria África do Sul.

Essas novas descobertas apontadas na pesquisa trazem à tona a ameaça sempre presente de que a AIDS, uma doença que matou mais de 32 milhões no mundo em 40 anos, possa ter seu vírus HIV funcionando como complicador dos esforços para acabar com a pandemia da covid-19, que já matou mais de 3,7 milhões de pessoas em menos de um ano e meio.

Até a identificação da paciente sul-africana, não havia registros de que pessoas infectadas pelo HIV pudessem agravar o curso da pandemia. Primeiramente, porque ninguém sabia que os soropositivos estariam mais propensos a se infectar com o coronavírus. E em seguida, desconhecia-se que esses pacientes não sofrem, como aponta a pesquisa, consequências médicas graves com a covid-19.

Sindemia

Fonte: Rodger Bosch/Getty Images/ReproduçãoFonte: Rodger Bosch/Getty Images/ReproduçãoFonte:  Rodger Bosch/Getty Images 

Embora provavelmente esse caso seja uma exceção e não a regra, a ocorrência abre uma perigosa perspectiva: a de que pacientes com HIV, cujas infecções não são controladas por medicamentos, possam "se tornar uma fábrica de variantes para o mundo inteiro", afirmou Oliveira.

Como no mundo podem existir cerca de 8 milhões de pessoas infectadas pelo HIV sem mesmo saber, além de quase 2 milhões que tomam antirretrovirais que não estão funcionando, podemos ter um "exército" de quase 10 milhões de pacientes com HIV fora de controle, que podem estar hospedando novas variantes do coronavírus, com implicações catastróficas.

Para o coautor do estudo, Dr. Jonathan Li, "esta é uma sindemia", termo utilizado para descrever uma situação rara, que é a confluência de duas epidemias, em que os resultados de ambas pioram.

Enquanto os países menos ricos do mundo competem entre si para obter vacinas que "sobraram" das aquisições dos países ricos, e veem suas populações dizimadas pela covid-19, pesquisadores da África do Sul chamam a atenção para outro potencial risco: o encontro de duas pandemias mortais.

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