Simuladores x Games: muito parecidos, mas muito diferentes ao mesmo tempo

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Se você é gamer, possivelmente já se deparou com títulos que se autodenominam "simuladores". Mas qual é a real diferença – se é que ela existe – entre um simulador e um jogo normal?

O TecMundo entrevistou Andrei Fonseca, dono do site 3-Wide Club, que promove e organiza campeonatos de automobilismo virtual – uma das vertentes mais populares quando se fala em simulação. Ele explicou sobre o que é o AV, quais são as diferenças essenciais entre um piloto virtual e um gamer casual e também sobre o que é necessário para começar nesse hobby.

Mas, antes de tudo, é importante saber sobre a importância dos simuladores e as diferentes áreas nas quais eles são utilizados. As finalidades distintas é que separam o puro entretenimento da busca pela realidade através do mundo virtual.

O mais próximo possível da realidade

Simuladores são utilizados nas mais diversas áreas, como a aviação (civil, militar e espacial), navegação marítima e até mesmo política e negócios. Muitos deles são desenvolvidos para organizações específicas e, diferente dos games, não têm a função de entreter, mas sim de representar situações mais próximas da realidade quanto o possível – recentemente o CONTRAN anunciou a obrigatoriedade de aulas em simuladores a partir de 2016.

Esses softwares e todas as imensas estruturas que geralmente os acompanham não são bonitos. E existe uma explicação perfeitamente lógica para isso: o esforço não está em fazer algo bonito, mas tecnicamente e estruturalmente preciso. Todas as reações que poderiam acontecer na realidade são muito mais importantes que o estímulo visual.

Existem, no entanto, simuladores que carregam consigo um forte apelo comercial. Um exemplo disso é o Flight Simulator, amplamente utilizado tanto por pilotos amadores quanto por profissionais em ambientes acadêmicos. Ainda assim, para atingir esse nível de "popularidade" (e acessibilidade também), o simulador acaba sacrificando um pouco de toda a rigidez técnica dos softwares utilizados, por exemplo, por companhias como Airbus e Boeing para treinar pilotos.

Estreitando as relações

É claro que, por terem origens muito próximas, em algum momento, simuladores e games acabam se esbarrando: nos últimos dois anos houve a explosão do "fenômeno dos simuladores", e a internet – sempre ela – tratou de escrachar o termo e saiu soltando jogos absurdos sob o nome de "simulação": Goat Simulator, Surgeon Simulator e Stone Simulator são apenas alguns dos exemplos.

Mas foi no gênero de corrida que a busca pela realidade e o entretenimento estreitaram suas relações. A relativa facilidade para criar algo crível e estimular os entusiastas a encontrar diversão no "real" em vez de no "cinematográfico" – que pauta muitos dos games por ser extremamente divertido – foi a chave para popularizar o estilo de jogo.

Em 1997 a Polyphony Digital lançou Gran Turismo e intitulou o jogo como sendo "o verdadeiro simulador de direção". De lá pra cá já se foram alguns anos, e o cenário mudou significativamente: hoje, os fãs ferrenhos do automobilismo virtual – concentrados totalmente no PC – não conseguem encontrar nos consoles algo que realmente passe a sensação de se pilotar um carro.

Automobilismo Virtual: uma alternativa viável para se aproximar de um sonho

O automobilismo é um esporte caro – muito caro, na verdade. Então acaba sendo natural que a grande maioria dos que almejam ser pilotos de carro não consiga chegar nem próximo de realizar o sonho.

Por outro lado, foi justamente essa dificuldade que criou a oportunidade para desenvolvedores trabalharem em uma alternativa que fosse tão divertida quanto a corrida de verdade, mas sem todos os ônus envolvidos – principalmente os financeiros.

Andrei Fonseca diz que o AV é a variante do automobilismo praticada com simuladores. "Se você vai a uma pista de kart ou assiste a uma etapa da Stock Car, existem hardwares e jogos que levam essa estrutura para dentro da sua casa. Tem toda a ambientação de uma corrida de verdade".

Jogos como Live for Speed, rFactor (1 e 2), Assetto Corsa, iRacing e Stock Car Extreme – baseado na nossa brasileiríssima categoria e desenvolvido por um estúdio alemão – conquistaram um público cativo que quer o foco em um único aspecto: a experiência de pilotagem sendo a mais real possível.

Tão perto, mas ainda tão longe

Andrei explica também que o simulador funciona como o primeiro estágio para que o entusiasta se ambiente com diversos aspectos do automobilismo real: as regras e cronogramas que devem ser seguidos, a direção de prova e, é claro, a afinidade com o ato de pilotar.

"Um bom desempenho em uma corrida com simulador exige uma dedicação muito grande – não é apenas sentar meia-hora e dizer: 'Estou pronto para correr'. É necessário entender de mecânica para poder mexer nos acertos do carro", explica o piloto virtual e organizador de campeonatos de AV.

Esse é um dos preços que jogadores casuais, muitas vezes, não estão dispostos a pagar. É também o que separa os simuladores dos jogos de corrida convencionais: enquanto nos consoles a dedicação é uma escolha para um melhor desempenho, nos simuladores ela é o pilar principal que sustenta a experiência.

Nada de joystick

Assim como empresas áreas e a NASA dispõem de estruturas gigantescas para seus ambientes de simulação, dadas as devidas proporções, é de se esperar que o piloto de corrida virtual também esteja devidamente equipado para poder se dedicar.

Por isso, esqueça o controle do seu console: "É uma questão técnica, já que os volantes são analógicos, então você consegue ter um feedback melhor e mais precisão nos movimentos", explica Andrei.

Enquanto os cockpits são estruturas opcionais, o volante é indispensável. As opções são bem abrangentes e estão disponíveis de acordo com o seu bolso. O Logitech Driving Force GT, por exemplo, pode ser encontrado (usado) por 300 reais em média.

A opção de entrada mais popular, no entanto, é o Logitech G27: custando por volta de 800 reais (também usado), ele oferece os três pedais (acelerador, freio e embreagem), um câmbio em H (como nos carros manuais que conhecemos) e uma estrutura robusta. Com o lançamento de modelos mais novos ainda esse ano, a tendência é que o preço caia ainda mais.

Mesmo assim, caso você esteja realmente disposto a investir, existem volantes que podem chegar a 5 mil reais (Fanatec), e você pode montá-los em cockpits que custam mais do que um carro popular.

O caminho das pedras é cheio de oportunidades

Se você optar por entrar de cabeça na "brincadeira", oportunidades não faltam: são várias ligas e campeonatos disponíveis para os mais diversos níveis de habilidade. É importante, no entanto, ter em mente que, assim como na situação real, essas organizações pedem uma taxa de inscrição – que pode variar de 25 até mais 100 reais.

O custo é necessário para manter uma estrutura que funciona por trás da ação nas pistas: quase todas elas dispõem de transmissão ao vivo para as competições, servidores para hospedar as disputas e equipes que analisam incidentes – outros pontos importantíssimos que mostram a diferença no nível de imersão buscado pelos entusiastas do automobilismo virtual e de simuladores em geral.

Algumas das ligas conhecidas são a 3 Wide Club, F1BC, Liga Sim Racing e GTR Brasil, sendo que quase todas elas utilizam os mesmos jogos: rFactor, rFactor 2 e Stock Car Extreme.

O necessário para chegar lá

Embora existam alguns exemplos de pessoas que realizaram o sonho de se tornar um piloto de verdade através de jogos e simuladores, não existe ainda um grande evento de automobilismo virtual que garanta essa oportunidade – e ela nem parece ser o objetivo da maior parte dos entusiastas.

Além do custo menor, os riscos que são inerentes ao esporte de verdade não existem no mundo virtual, e a simulação acaba se tornando o desafio na medida certa para a maioria dos jogadores.

Então, se você sempre quis ser piloto – ou desenvolver alguma outra atividade –, mas, por algum motivo, não conseguiu, fica a dica: talvez um simulador seja a melhor alternativa para aproximar você de um velho sonho – e tudo na medida certa.

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