Os Banshees de Inisherin: filme indicado ao Oscar é bom? (Crítica)

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Imagem: Searchlight Pictures

Algumas perguntas para você refletir: quando é válido terminar uma amizade? É necessária uma justificativa racional, que faça sentido para ambas as partes, ou pode ser uma decisão unilateral, que agrade um lado, mas não o outro? Bem, é exatamente essa discussão que vemos em Os Banshees de Inisherin (2022), filme indicado ao Oscar 2023.

Dirigido e escrito por Martin McDonagh, Os Banshees de Inisherin tem um ótimo elenco principal, com Colin Farrell (The Batman), Brendan Gleeson (Harry Potter), Kerry Condon (Três Anúncios Para Um Crime) e Barry Keoghan (O Sacrifício do Cervo Sagrado). Todos, aliás, entregam atuações maravilhosas, dignas de aplausos e prêmios.

Porém, além de belíssimas interpretações, Os Banshees de Inisherin tem muitos outros pontos positivos que o tornam em uma experiência singular. Apesar da premissa simples, a narrativa trata de temas interessantes, complexos e comuns à maioria das pessoas. Isso faz com que, logo de cara, exista uma identificação com a obra por parte dos espectadores.

Ao assistir à produção, confesso que tive sentimentos mistos, evocados através dos personagens, dos cenários de tirar o fôlego (deu vontade de visitar o local) e da história em si. O conjunto da obra dá argumentos suficientes para acreditar que não há, necessariamente, um lado errado e um lado certo em toda aquela situação desagradável.

Mas será que Os Banshees de Inisherin chega a cumprir aquilo que promete ou as ideias se perdem até o fim do filme? Vale a pena assistir esse grande concorrente do Oscar 2023? Nesta análise narrativa e crítica, você descobrirá tudo isso e muito mais. Vamos nessa?

O que é Os Banshees de Inisherin? (SEM SPOILERS)

Vamos começar com aquela pincelada básica na narrativa da obra, para que todos fiquemos na mesma página.

Os Banshees de Inisherin se passa durante a Guerra Civil Irlandesa (1922 - 1923) e apresenta aos espectadores as vidas dos poucos moradores de uma ilha remota, afastada do continente principal. Entre os pacatos residentes do local, estão os amigos de longa data Pádraic Súilleabháin (Farrell) e Colm Doherty (Gleeson), Ou, melhor dizendo, ex-amigos.

Isso porque, de um dia para o outro, Colm decide que não quer mais ser amigo de Pádraic. A princípio, Pádraic fica um pouco confuso e acredita que o fato não passa de uma piada ou uma brincadeira. Com o passar dos dias, contudo, Colm deixa claro que está falando sério e que não gosta mais do rapaz, exigindo que ele, simplesmente, o deixe em paz.

Aos poucos, descobrimos as motivações de Colm para o fim da amizade com Pádraic e, conforme as coisas vão escalando, o conflito entre os dois passa a afetar os demais moradores da ilha, incluindo a irmã de Pádraic, Siobhán (Condon), e o jovem Dominic (Keoghan).

Até que ponto dura uma amizade? Os Banshees de Inisherin mostra que, nem sempre, as partes enxergam a relação da mesma forma.Até que ponto dura uma amizade? Os Banshees de Inisherin mostra que, nem sempre, as partes enxergam a relação da mesma forma.Fonte:  Searchlight Pictures 

ATENÇÃO: ALERTA DE SPOILERS! SE VOCÊ AINDA NÃO VIU OS BANSHEES DE INISHERIN, NÃO CONTINUE LENDO!

Os Banshees de Inisherin: análise narrativa e crítica (COM SPOILERS)

Como a narrativa de Os Banshees de Inisherin revela, o motivo para o fim da amizade entre os protagonistas parte de Colm, que acredita que Pádraic acrescenta absolutamente nada em sua vida. Enquanto o personagem de Gleeson é um violinista estudioso, introspectivo e reservado, a figura de Farrell representa um homem simples, não estudado e sem grandes pretensões. Logo de cara, portanto, percebemos que, apesar de cultivarem uma amizade anteriormente, os dois são bem diferentes.

Os papos, os gostos, os anseios, os desejos. As coisas, simplesmente, não batem. O que evidencia que a relação entre os dois era puramente resultado das circunstâncias (pelo menos para Colm): a ilha de Inisherin é minúscula, reclusa, com apenas algumas dezenas de moradores. Bem como em qualquer outra região do tipo, todos se conhecem e interagem. Escolher amizades, nesse caso, não é algo tão simples ou comum.

O primeiro ato do filme, nesse sentido, mostra a quebra desse padrão por parte de Colm, que entende que tem o direito, sim, de optar por suas companhias, mesmo em uma ilha em que todos estão "grudados", seja por conta do curto espaço ou pela cultura local. Como o personagem explica, sua vontade é focar em suas canções, em sua arte, e não em jogar conversa fora ou em matar tempo. Dessa forma, após morrer, ele poderia deixar algo pelo qual será lembrado no futuro.

Pádraic, por outro lado, não entende as ideias de Colm e não se conforma com o fim da amizade, uma vez que não teria feito nada de errado, conforme ele mesmo diz. Ao insistir na reconciliação com o ex-amigo, Colm causa desconforto em todos moradores da ilha e expõe um dos questionamentos cruciais do filme: até que ponto dura uma amizade? Se um dos lados sente que não há futuro na relação, ele deveria continuar apenas por conveniência?

A narrativa de Os Banshees de Inisherin é bem eficaz ao abordar os dois lados da amizade entre Pádraic e Colm, nos munindo de argumentos que nos fazem crer que, de fato, não há uma pessoa certa e uma pessoa errada na situação. Colm quer redirecionar sua energia e seus esforços para si mesmo, já Pádraic quer compartilhar tudo. Colm é mais frio, objetivo e prático, enquanto Pádraic é mais gentil, caloroso e ingênuo. Perceba, entretanto, que uma coisa não anula a outra. Não há certo ou errado. E o storytelling acerta ao deixar isso claro durante todo o segundo ato da produção.

Collin Farrell entrega uma belíssima atuação em Os Banshees de Inisherin ao viver o gentil e pacato Pádraic.Collin Farrell entrega uma belíssima atuação em Os Banshees de Inisherin ao viver o gentil e pacato Pádraic.Fonte:  Searchlight Pictures 

Para simbolizar e reforçar esse "guerra" entre ex-amigos, a narrativa também se utiliza de alguns recursos bem interessantes. Um deles é o contexto da Guerra Civil Irlandesa, que está acontecendo no país. Quando os protagonistas ressaltam que a guerra é algo ruim, e que não faz sentido que semelhantes lutem entre si, não percebem que estão fazendo algo muito parecido (mesmo em uma ilha remota e tranquila, que remete à paz). Ou seja, há um embate na Irlanda, mas há um embate também em Inisherin. Um paralelo bem curioso criado por McDonagh.

Outro ponto que reforça o conflito entre Colm e Pádraic pode ser visto nos animais de estimação de cada um. Pádraic é dono de uma jumentinha fofa e bondosa (que retrata bem sua personalidade), enquanto Colm cuida de um cachorro bem inteligente e centrado (que sintetiza muitos traços do personagem). E lembre-se, aliás, de que, o clímax do conflito entre os dois acontece depois que a jumentinha de Pádraic morre. Nessa sequência, é quase como se parte da bondade do personagem também morresse junto com o animalzinho. O fato, aliás, é o estopim para as decisões drásticas de Pádraic no terceiro ato do longa.

Por fim, Os Banshees de Inisherin é um filme que evoca sentimentos mistos e nos coloca várias questões na mente. Suas simbologias, como a da Banshee (retratada pela personagem Mrs. McCormick, vivida por Sheila Flitton), por exemplo, criam uma narrativa cheia de detalhes e nuances a partir de uma premissa singela (o fim de uma amizade). Os planos abertos, que contemplam as belíssimas paisagens da obra, também ajudam na composição da atmosfera e tecem um contraponto interessante entre beleza e a confusão criada pelo conflito entre Colm e Pádraic.

Se você ainda não assistiu Os Banshees de Inisherin, minha dica é: considere ser amigo desse belo filme. O longa está em cartaz nos cinemas brasileiros atualmente e tem previsão de lançamento no streaming Star+ para o dia 22 de março.

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Fontes

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