Quantas pessoas poderiam viver melhor com a grana de bilionários que querem viver pra sempre?

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Imagem: Bruna Prado/Getty Images

Com o avanço do século XXI, a humanidade tem visto cada vez mais tecnologias que parecem ter sido vindas de um filme de ficção científica. E uma das soluções que tem recebido investimento servirá para justamente tentar “driblar” o tema mais complexo da existência:  a morte.

Empresários, cientistas e bilionários estão se unindo para tentar criar soluções para interromper a provável única certeza que temos já quando nascemos. E as ideias são várias, indo de criogenia até transferência de consciência para o computador.

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O ricaço e ex-CEO da Amazon, Jeff Bezos, é uma das personalidades que parece se empolgar com a ideia de viver para sempre. Em 2021, foi divulgada a informação de que o magnata havia virado um dos investidores da Altos Labs.

Jeff BezosO bilionário Jeff Bezos também é um entusiasta da exploração espacial (Fonte: Alex Wong/Getty Images)

A empresa pesquisa tecnologias de reprogramação biológica, ou seja, métodos para reverter o envelhecimento natural das células do corpo humano. Bezos investiu US$ 3 bilhões na companhia.

Convertendo em reais, o valor equivale a quase R$ 15 bilhões na cotação de 12 de junho. Para se ter uma ideia, a grana é praticamente o PIB inteiro do estado brasileiro do Acre, que em 2022 foi avaliado em R$ 16,4 bilhões, segundo o IBGE.

Download da consciência

O bilionário Elon Musk disse em entrevista à Insider que não acha que “devemos tentar fazer com que as pessoas vivam por muito tempo”. “Isso causaria asfixia da sociedade porque a verdade é que a maioria das pessoas não muda de ideia. Elas simplesmente morrem. Então, se elas não morrerem, ficaremos presos a velhas ideias e a sociedade não avançará”, acrescentou.

Apesar disso, o fato é que ele investe na ideia e acha que isso é possível de certa forma. Fundada em 2016 e apresentada em 2017, a Neuralink sonha grande e gera notícias com certa frequência a cada avanço em seus projetos.

Tendo como seu fundador mais proeminente o dono do Twitter, a empresa foi autorizada recentemente a testar chips em cérebros humanos. A longo prazo, a companhia poderá permitir que as pessoas façam o download do próprio cérebro para um robô, fazendo com que suas consciências se mantenham vivas mesmo em caso de morte física.

“Poderíamos baixar as coisas que acreditamos que nos tornam únicos. Agora, é claro, se você não estiver mais naquele corpo, isso definitivamente fará uma diferença, mas no que diz respeito a preservar nossas memórias, nossa personalidade, acho que poderíamos fazer isso”, argumentou Musk.

De acordo com informações da Reuters, a Neuralink é avaliada atualmente em cerca de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 24,3 bilhões).

Outro uso para a grana das pesquisas de imortalidade

São várias outras iniciativas que tentam prolongar a vida humana e nos transformar em Highlanders da vida real. Porém, focando nas duas soluções mais midiáticas é possível perceber que pelo menos um montante de US$ 8 bilhões (R$ 38 bilhões) está direcionado em encontrar formas de fazer com que as pessoas se perpetuem para sempre na existência.

Questões filosóficas (estaríamos tentando brincar de Deus?) e bioéticas à parte, as soluções nos levam a questionar se não estaríamos indo longe demais. Além disso, será que vale a pena investir nisso ao invés de tentar melhorar de maneira prática a vida de seres humanos?

Em um exercício de imaginação, já que a ideia esbarra em várias barreiras concretas, o TecMundo resolveu calcular o quantas milhões de pessoas poderiam receber um salário-mínimo para viver com a quantia de grana que está indo para o desenvolvimento de ideias para alcançar a imortalidade.

PandemiaA pandemia deixou claro para o mundo os problemas relacionados à desigualdade social (Fonte: Mario Tama/Getty Images)

A renda básica

O nosso exercício de imaginação levou em consideração uma das propostas da Organização das Nações Unidas (ONU) que é a renda básica. A sugestão foi recomendada durante a pandemia e tomou força como pauta após o problema sanitário, quando vários países perceberam um aprofundamento da pobreza e níveis de desigualdade.

“Um novo contrato social precisa emergir desta crise que reequilibra as profundas desigualdades que prevalecem nas sociedades. Para ser franco: a questão não deve mais ser se os recursos para uma proteção social eficaz podem ser encontrados – mas como eles podem ser encontrados”, escreveu Kanni Wignaraja, diretora do escritório regional para a Ásia e Pacífico do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Ela defende que a solução pode beneficiar a economia ao inserir milhões de pessoas na economia, já que elas receberam uma verba que será reinvestida em serviços e produtos. Ela ressalta que em regiões mais pobres, como a Ásia, muitos países têm bastante dívida e por isso a engenharia financeira para tornar o programa possível é bastante grande. Mas é possível.

Pessoas carentesDe acordo com a ONU, a renda básica permitiria que cidadãos tivessem o mínimo para viver com dignidade (Fonte: Bruna Prado/Getty images)

Além de indicar tributações mais progressivas, acabar com isenções fiscais que não dão retorno e melhorar a eficiência dos governos, Wignaraja pontua que as nações devem “acabar com os subsídios, principalmente para os combustíveis fósseis, que dificultam o caminho para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente as metas de mudança climática. Isso beneficiaria a todos, ao mesmo tempo em que geraria recursos financeiros para uma renda básica”.

A renda básica pode ser universal, ou seja, distribuída a todos os habitantes independente da condição ou seletiva, onde são estabelecidas condições como obrigação de ter a carteira de vacina atualizada. “Tais condições seletivas não prejudicariam o objetivo principal de eliminar a pobreza e permitiriam que pessoas de baixa renda assumissem riscos calculados para tentar sair da pobreza”, destacou Kanni Wignaraja.

Fazendo as contas

Mas apesar de dar a indicação de que a renda universal pode ser uma boa saída para diminuir a pobreza, a ONU não indica de quanto teria que ser essa renda, já que as realidades dos países são distintas.

Por causa disso, no nosso exercício de imaginação nós consideramos a média salarial de 36 países que estão no balanço de salários-mínimos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Em relatório, a entidade aponta que em 2021 o mundo tinha uma média salarial de US$ 15 mil (R$ 72,9 mil) por ano, sendo que por mês isso dá aproximadamente US$ 1,2 mil (R$ 5,8 mil). Enquanto o Brasil tinha a segunda menor média (de US$ 5,2 mil por ano, ou R$ 25,9 mil por ano e R$ 2,1 mil por mês), os cidadãos de Luxemburgo recebiam US$ 27,7 mil (R$ 134,7 mil e R$11,2 mil por mês) de salário-mínimo anual.

Salário-mínimoO salário mínimo no Brasil só não é menor do que no México, de acordo com a OCDE (Fonte: Alexandre Schneider/Getty Images)

Partindo destes dados como base, confira, a seguir, como realizamos com a ajuda do ChatGPT o cálculo de quantas pessoas poderiam ser beneficiadas com a renda mínima universal com os US$ 8 bilhões investidos em pesquisas de imortalidade:

  • Com os US$ 8 bilhões, aproximadamente 555 mil pessoas pobres poderiam receber um salário mensal de US$ 1,2 mil por mês ao longo de 1 ano;
  • Com os US$ 8 bilhões, aproximadamente 1,1 milhão de pessoas pobres poderiam receber um salário mensal de US$ 1,2 mil por mês ao longo de 6 meses;
  • Com os US$ 8 bilhões, aproximadamente 7,2 mil pessoas poderiam receber renda básica no valor de US$ 1,2 mil por mês do nascimento até completar 73 anos de idade (expectativa de vida global em 2023);
  • Com os US$ 8 bilhões, cada um dos aproximadamente 11,6 milhões de brasileiros que estão abaixo da linha da pobreza receberia US$ 689,66 (R$ 3,3 mil) cada;
  • Com os US$ 8 bilhões, cada um dos aproximadamente 5,8 milhões de brasileiros vivendo na extrema pobreza receberia US$ 1,3 mil (R$ 5,8 mil) cada.

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