Cuidado com os influencers fitness
O mundo digital provocou um fenômeno: nunca se falou tanto da temática, por tanta gente.

Por Fábio Dominski
24/05/2025, às 08:00
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Podemos utilizar as recentes críticas sobre o trabalho de influencers com casas de apostas esportivas e cassino online para também pensar a respeito do mundo fitness.
As redes sociais explodem de influencers fitness. Perfis voltados à saúde nos esmagam diariamente com conteúdo sobre exercícios e alimentação. O mundo digital provocou um fenômeno: nunca se falou tanto da temática, por tanta gente.
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Um novo mundo e as tendências que ele traz leva tempo para que a ciência consiga analisar criteriosamente o que está acontecendo. Estudos iniciais nos mostram que devemos ter cuidado com os “@” que seguimos nas redes sociais. Descubra o que a ciência sabe sobre seu influencer fitness.
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Benefícios e riscos do consumo de conteúdo de influencers fitness
Embora influenciadores fitness tenham o potencial de alcançar grandes públicos para incentivar e motivar a prática de exercícios, é necessário cautela ao usar seu conteúdo para promoção da saúde devido aos potenciais riscos.
Entre eles estão as comparações sociais, a promoção de imagens corporais irreais, rotinas utópicas e a disseminação de desinformação sobre atividade física e saúde. Esses aspectos geram consequências negativas contrárias ao que fundamentalmente preza o movimento fitness, como piora na saúde mental e inatividade física das pessoas.
Em pesquisa recente, pesquisadores exploraram o impacto dos influencers fitness para entender se eles conseguem promover atividade física na população. Com análise de apenas 11 estudos, verificou-se que esse tema ainda está na infância.
Devido às limitações dos estudos, não se pode afirmar que os influenciadores causam aumento da atividade física da população, mas podem aumentar a intenção dela para. A crença de que também somos capazes de fazer exercícios é aumentada a partir da visualização de outras pessoas fazendo.
Mas apenas intenções não são suficientes, uma vez que quase metade das pessoas que tem intenções de ser ativo, não consegue transformar tais intenções em ações. O comportamento fica só no papel, ou melhor, em pensamentos.
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Cuidado com quem você segue
As poucas pesquisas sobre o conteúdo dos influencers fitness mostram baixa qualidade científica dos posts. Em pesquisa no Brasil, posts de 33 perfis fitness (com mais de 100 mil seguidores) foram analisados, que totalizavam 30 milhões de seguidores. Os resultados encontrados são preocupantes:
- Apenas 2% dos posts foram apoiados por referências científicas
- Um em cada quatro influencers não tem credencial acadêmica
- Quanto pior a formação do influenciador, mais seguidores
Outro estudo, nos Estados Unidos, mostrou que 97% dos posts de influenciadores fitness não possuem evidências científicas, a partir de análise de 260 posts. Parece que quando o assunto é saúde, temos mais opiniões pessoais do que evidências nas redes sociais.
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A maioria dos posts dos influencers fitness foi sobre a rotina de exercícios. Uma rotina praticante impossível de ser reproduzida por pessoas que não tem essa prioridade na vida: treinos em horários diversos, consumo desenfreado de suplementos, pratos de comida bonitos e caros várias vezes ao dia e tempo livre.
Uma pessoa comum ao tentar seguir a ilusória rotina de um influencer, se frustra, pois tem inúmeras outras prioridades, e por fim, culpa a si mesmo por não conseguir.
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Talvez muitos dos influencers fitness não sejam boas influências
Como usuários devemos estar cientes de que o objetivo principal da maioria dos influenciadores fitness não é apenas fornecer conteúdo valioso baseado em evidências, mas sim gerar conteúdo para seus próprios objetivos (incluindo e principalmente devido ao ganho monetário).
A partir disso, podemos nos preparar contra intermináveis estratégias de marketing que buscam incansavelmente um único fim: vender. Cuidado com apelos emocionais que são publicidade disfarçada: métodos próprios não baseados em ciência, suplementos sem comprovação científica, uso de esteroides anabolizantes e acessórios desnecessários, bem como um estilo de vida inverídico. Desconfie de promessas de resultados milagrosos e rápidos.
Comportamentos relacionados à saúde como alimentação saudável e exercícios físicos são vitalícios e como o próprio termo se refere, exigem tempo.
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A vida das telas e a vida real
O que chega até nós na tela do celular são aparências idealizadas, tanto física quanto socialmente, o que pode levar o público a fazer comparações ascendentes e perceber os influenciadores como mais em forma, mais felizes, mais bem-sucedidos ou em melhor situação, potencialmente afetando sua saúde mental e comportamentos relacionados à saúde.
Ressaltam-se as ideias da Teoria da Comparação Social, em que as pessoas avaliam seus valores se comparando com outras, mas no caso das redes sociais, de influencers que editam, criam, omitem e mentem sobre sua imagem e comportamentos, que são irrealistas e inalcançáveis para grande parte da população.
Basicamente não há filtro para quem produz conteúdo dos mais diversos temas nas redes sociais. Os conselhos profissionais tentam fiscalizar, mas são insuficientes. Parece que estamos à deriva em um mar de informações e por conta própria para julgar e filtrar o que é confiável ou não. Um consumo consciente e crítico é necessário, mesmo sendo difícil manter sempre esse radar ligado.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.

Por Fábio Dominski
Especialista em Especialista
Fábio Dominski é Doutor em Ciências do Movimento Humano e Graduado em Educação Física - Bacharelado pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. É professor universitário e pesquisador.