O mito da postura ideal

Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.

Alguém já deve ter chamado sua atenção sobre sua postura quando estava em pé ou sentado. Crescemos sob o alerta de que algumas posturas seriam ruins e causariam dores e disfunções corporais. A noção de boa e má postura foi construída social e culturalmente ao longo dos anos.

A boa notícia é que parece que não é bem assim, pois, segundo a ciência, não existe uma postura correta. Entenda fatos científicos para ter uma nova postura sobre o tema e viver mais tranquilo sobre isso.

A ciência não apoia as crenças sobre postura

• Não existe uma única postura correta

Não há evidências fortes de que exista uma postura ideal ou que evitar posturas incorretas evite dores nas costas. Dores na lombar são a principal causa de incapacidade e a mais comum doença não transmissível.

Cartazes com pessoas com posturas eretas na frente do computador classificadas como corretas e outras posturas como incorretas são tradicionais, mas não são baseadas em evidências. A crença de que existe uma postura perfeita a ser adotada não é inofensiva, pois as pessoas podem se tornar hipervigilantes sobre o corpo, além de se culpar, aspectos que não ajudam no tratamento da dor e causam ansiedade.

• Diferenças na postura são um fato da vida

Existem variações naturais nas curvaturas da coluna vertebral entre as pessoas e não existe uma única curvatura da coluna associada à dor. É seguro adotar posturas mais confortáveis, que variam entre as pessoas. A coluna vertebral é uma estrutura robusta e adaptável, capaz de se mover e carregar pesos com segurança em uma variedade de posturas. Acreditávamos que uma postura perfeita preveniria lesões, mas sabemos hoje que a postura exclusivamente não causa lesões, pois essas são processos multifatoriais.

Segundo a Fisioterapeuta e Doutora em Ciências do Movimento Humano, Thais Siqueira, “o mito da postura ideal está diretamente relacionada a ideia de que a dor vem apenas por uma alteração mecânica – se a pessoa não adotasse tal ‘postura correta’, isso poderia lhe causar problemas, incluindo dores e lesões. Mas observamos que essa relação não se sustenta na literatura”. Para ela, essa é uma tentativa frustrada de tentar encontrar um culpado para dor e lesão. Novamente, tentamos simplificar um problema complexo e multifacetado.

Foco no estilo de vida e não em cadeiras mais confortáveis

Ao invés de gastarmos energia criando e desenvolvendo cadeiras e mobília mais confortáveis, deveríamos nos preocupar com o estilo de vida das pessoas. Sono, alimentação e atividade física deveriam ser prioridade na vida de todos, pois essa base biológica é o ponto de partida para a saúde.

A batalha é árdua contra o nosso ambiente, que deixa nosso corpo cada vez mais parado e adormecido construindo conforto por todos os lados. Mas essa inatividade cobra um preço.

Novo slogan: A melhor postura sempre é a próxima

Contrariamente a adotar uma única postura, recomenda-se uma postura ativa, no sentido de variar as posições enquanto estamos sentados. O que causa sobrecarga é manter o corpo em uma única posição por elevado tempo. Portanto, explore diferentes posturas, pois manter uma postura fixa durante tempos prolongados vai causar desconforto e é natural trocar. Já passou da hora de reavaliar o “Sente-se direito” e o “Fique reto”, pois não existe postura perfeita. Na verdade, deveríamos ser contra a monotonia postural.

Precisamos ajudar as pessoas a adotarem posturas mais relaxadas, ao mesmo tempo as informando que essas posturas são seguras, pois esse conjunto pode proporcionar alívio dos sintomas. Um novo slogan foi criado a partir da ciência mais atual: A melhor postura sempre é a próxima. Mova-se.

Além disso, é fundamental que as pessoas realizem atividades físicas regulares. A recomendação geral é: 2 horas e meia de atividades aeróbicas e 2 sessões de fortalecimento muscular, por semana. Atividade física é, ao mesmo tempo, prevenção e tratamento para dor lombar.

Esse é um daqueles temas que pode ser complicado para alguns superarem suas crenças, pois essas duraram por décadas. De fato, é mais fácil nos agarrarmos a visões antigas e permanecermos com elas, comparado à dificuldade que é estar aberto a novas ideias. O autor Adam Grant sugere: “Duvide do que sabe, tenha curiosidade a respeito do que não sabe e atualize suas opiniões diante de novos dados”. A partir de agora, tenha uma nova postura sobre postura.

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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência - Fatos e Mitos.