Lua de Marte pode revelar passado do Planeta Vermelho

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Quando pensamos em Marte, é comum visualizarmos uma região desolada, na qual existem apenas poeira e rochas. Ainda que a água esteja por lá, a quantidade da substância detectada é ínfima comparada à presente na Terra, e espalhada somente em camadas de gelo próximas aos polos ou em locais subterrâneos. Por enquanto, a inexistência de vida em qualquer forma é praticamente certa, já que a fina atmosfera não protege a superfície das ações destrutivas do espaço nem mantém elementos essenciais ao surgimento de organismos em suas camadas inferiores.

Entretanto, é possível que as coisas tenham sido diferentes há alguns bilhões de anos, revela um artigo recém-publicado pela NASA. De acordo com ele, Fobos, satélite natural do Planeta Vermelho, é capaz de dar indícios de um passado nada parecido com que vemos em nosso presente.

Há um bom tempo, cientistas especulam que a camada protetora de Marte teria sido varrida ao espaço, mas a comprovação só chegou agora. Graças a dados coletados pela MAVEN, espaçonave que orbita o território, e a seus instrumentos ultrassensíveis, uma equipe de pesquisadores conseguiu medir íons ao redor de Fobos, uma lua de apenas 27 quilômetros de extensão em seu ponto mais largo e coberta de crateras.

Com essas informações, o time descobriu que os componentes teriam se originado no planeta, não em nosso astro. Sendo assim, o pequeno habitante do Sistema Solar esteve no lugar certo e na hora certa para guardar registros de mudanças pelas quais seu "pai" passou.

"Com uma amostra, pudemos ver um arquivo da atmosfera passada de Marte nas camadas rasas de grãos, enquanto mais profundamente notamos a composição primitiva de Fobos", explica Quentin Nénon, líder do estudo.

Fobos carrega elementos do passado de Marte.Fobos carrega elementos do passado de Marte.Fonte:  NASA 

Rádio peão

Resíduos de oxigênio, carbono, nitrogênio e argônio estão entre os identificados, distinguíveis pela massa que apresentam. Para determinarem de onde vieram, os pesquisadores mediram a energia cinética e a velocidade das partículas que chegam a Fobos, pois aquelas que vêm do Sol são implantadas a não mais do que várias centenas de nanômetros, profundidade cerca de 250 vezes mais rasa do que a largura de um cabelo humano.

Andrew Poppe, coautor do artigo, revelou como isso foi possível: "O que Quentin fez foi se valer de investigações que fizemos na Lua e em outras luas do sistema solar e aplicar os mesmos métodos a Fobos pela primeira vez. Nas amostras da Apollo, percebemos que a Lua tem registrado pacientemente átomos individuais vindos do Sol e da Terra. É muito legal.”

Além disso, ele contou que a ideia de estender a técnica surgiu em um momento no qual a internet caiu no laboratório em que trabalhavam e todos decidiram bater papo. Ao questionar a eficácia da ação, ninguém havia pensado em executá-la.

Depois, Andrew criou modelos computacionais, e os sistemas indicaram um caminho promissor. Em 2019, Nénon se juntou a ele para testar as hipóteses nas informações que a MAVEN enviava à Terra há mais de 6 anos, sendo que o dispositivo cruzou a órbita de Fobos 5 vezes ao dia no período analisado.

Então, a surpresa: as rochas do lado mais próximo ao planeta foram banhadas por átomos e moléculas marcianos por milênios, e ele foi submetido a uma taxa de 20 a 100 vezes mais íons de Marte do que o mais distante.

Quem conta um conto...

Muitas questões ainda pairam no ar. Fobos é uma das duas luas de Marte e orbita o Planeta Vermelho 60 vezes mais perto que a distância existente entre a Lua e a Terra. De onde tanto ela quanto Deimos surgiram não é certo, e teorias sugerem que sejam asteroides capturados pela gravidade marciana ou satélites naturais gerados pela mesma nuvem que criou o planeta.

Também é possível que tenham se formado a partir dos detritos da colisão de Marte com algum outro objeto espacial. De todo modo, ambas são testemunhas de uma história não vivida pela humanidade e, certamente, têm uma coisinha ou outra para nos contar.

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