Coronavírus: profissionais de saúde enfrentam síndrome de burnout
Condições precárias de trabalho e medo constante contribuem para problemas psicológicos graves
18/05/2020, às 05:00

Fonte: Pixabay
Imagem de Coronavírus: profissionais da saúde enfrentam síndrome de Burnout no tecmundo
Os números relacionados ao novo coronavírus no Brasil não param de crescer. Até este domingo (17), foram registradas 15.776 mortes provocadas pela covid-19, além de confirmados 236.131 casos da doença em todo o país. Entre os infectados estão aqueles que lutam na linha de frente contra a condição: médicos e enfermeiros.
O Ministério da Saúde divulgou na última quinta-feira (14) que o Brasil tem 31.790 trabalhadores da área contaminados, e as suspeitas são de que quase 200 mil estejam com a doença. Entretanto, esse não é o único perigo, já que a síndrome de burnout é uma realidade entre eles.
Em artigo publicado no periódico Anesthesia & Analgesia, o Dr. Farzan Sasangohar, professor assistente do Hospital Metodista de Houston, afirma que médicos e enfermeiros norte-americanos estão enfrentando burnout ocupacional e fadiga devido ao estresse causado pela pandemia. E não é para menos: turnos mais longos, perdas constantes de vidas, falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e treinamento inadequado para uso dessa aparelhagem os tornam vulneráveis a todo tipo de questionamento e, é claro, ao medo.
Além da insegurança quanto à exposição à doença e do receio de contaminação de familiares, muitos tiveram de interromper procedimentos eletivos e foram demitidos ou tiveram suas horas de trabalho reduzidas.
Insegurança é a principal causa do esgotamento mental de profissionais de saúde.
Condições insustentáveis
No Brasil, uma reportagem publicada no G1 mostra que enfermeiros e técnicos de enfermagem que trabalham no Hospital de Campanha do Maracanã, na Zona Norte do Rio de Janeiro, receberam colchões no chão para dormir, o que está sendo considerado desumano pelos profissionais.
Podem ser avistados, de acordo com a reportagem, mofo e falta de luz no local, além de não haver colchões para todos. "Enquanto você tem médico dormindo no alojamento com cama, televisão e ar-condicionado, as imagens mostram o que fizeram com a equipe de enfermagem: dormindo no chão, ao relento, em um local insalubre e jogados às traças", denunciou um dos entrevistados. "Eu só quero falar que depois vai ter o afastamento de um monte de profissionais por pneumonia, por covid. Aí vão falar que a gente não se paramentou corretamente, mas o colchão está no chão", complementou um colega.
A Secretaria de Estado da Saúde afirmou que a situação é inadmissível e afirmou que vai notificar a organização social responsável pela unidade, que explicou: "Houve um erro de preparação para atender esse tipo de demanda, que não se repetirá. A preocupação maior naquele momento foi com o treinamento dos colaboradores. É importante frisar que as imagens não se referem a algo recorrente, foi um problema pontual já contornado".
Mesmo que haja alguma resolução, o panorama dá uma ideia de como as condições psicológicas desses profissionais são afetadas — e de que, nesses casos, nada é tão simples. "A pandemia da covid-19 amplificou um problema já existente em nossos sistemas de saúde e está expondo as implicações nocivas do esgotamento de profissionais", afirmou Sasangohar.
Falta de equipamentos preocupa aqueles que atuam na linha de frente.
Um eterno aprendizado
Existe certa dificuldade de caracterizar o chamado burnout; entretanto, o consenso é de que se trata do resultado de um processo prolongado de tentativas para lidar com determinadas condições de estresse, ocasionando esgotamento emocional e escassa realização pessoal.
Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrointestinais são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome. Devido a isso, são comuns ausências no trabalho, agressividade, isolamento e mudanças bruscas de humor, além de irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo e baixa autoestima.
Leia também: Síndrome de burnout: o que o esgotamento profissional pode causar
De acordo com a Dra. Bita Kash, "minimizar riscos ocupacionais é a ação mais importante para assegurar que profissionais de saúde estejam totalmente preparados e seguros para enfrentar o coronavírus". Para isso, é preciso atender às solicitações de equipamentos e minimizar incertezas com informações claras e alinhadas.
Mesmo pequenas adaptações podem fazer a diferença.
Os pesquisadores adotaram uma série de medidas no hospital em que atuam (Hospital Metodista de Houston) e as elencaram no estudo, já que respostas positivas foram identificadas com as mudanças. Tais recomendações podem auxiliar na preparação para futuras pandemias:
- Desenvolver guias direcionados às indústrias responsáveis pela produção de equipamentos, para que adotem transições ágeis no fornecimento de insumos.
- Estabelecer planos nacionais e regionais de minimização de desastres para auxiliar a reduzir o tempo de fornecimento de equipamentos e testes.
- Distribuir o número adequado de testes e EPIs.
- Treinar profissionais da saúde para gerenciamento de desastres.
- Reduzir restrições de atuação de indivíduos licenciados em outras jurisdições.
- Criar uma força-tarefa que inclua esses profissionais.
- Utilizar dispositivos inteligentes para monitorar a saúde mental e física dos profissionais.
"Através das respostas à covid-19, podemos aprender muita coisa. Em nossa abordagem, utilizamos sistemas multidisciplinares que proporcionam conhecimento não só sobre falhas ou atalhos mas também sobre adaptações bem-sucedidas e intervenções improvisadas nos níveis individuais e coletivos que reforçam nossa resiliência", finalizou Sasangohar.
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