Covid-19: por que o número de mortos pode ser muito maior?

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Imagem: The Brazilian Report / Amazônia Real / Fernando Crispim / Reprodução - https://brazilian.report/power/2020/05/16/amazonas-politics-pseudoscience-make-covid-19-crisis-even-worse/

Depois de acompanharmos atônitos os efeitos do Sars-CoV-2 na Europa — e, francamente, assistirmos em completa negação de que nos atingiria tão violentamente —, eis que o continente americano se tornou o novo epicentro da pandemia, com a América Latina se transformando no palco de uma verdadeira tragédia, que, conforme mostram os levantamentos e as curvas epidemiológicas, nem sequer atingiu seu ápice.

Embora o número oficial de mortos já seja bastante assustador, diversas pesquisas e verificações independentes apontam que a quantidade de vítimas pode ser muito maior. Um estudo realizado pelo The New York Times envolveu universidades, instituições de pesquisa, agências de levantamentos estatísticos e demográficos, departamentos de saúde e órgãos de registros públicos em 22 países e revelou que há mais de 70 mil mortes por covid-19 sem contabilização no mundo.

Esmiuçando números

Para realizar o levantamento, o jornal considerou o número de mortes registradas neste ano por covid-19 e outras causas e o comparou com a média histórica para o mesmo período. Para se ter ideia, só no Reino Unido, um dos países com o maior número de óbitos pela pandemia no mundo, foram registradas mais de 130 mil falecimentos desde meados de março até agora, dos quais 53,3 mil ultrapassaram a média e 16,7 mil sequer foram registrados pelas estatísticas oficiais.

Gráficos reveladoresGráficos reveladores.Fonte:  The New York Times / Reprodução 

Na Itália, também duramente afetada pela pandemia, só em março foram registradas 50% mais mortes do que a média dos últimos 5 anos, o equivalente a 25 mil óbitos a mais que o normal em um único mês. Em Nova York (Estados Unidos), o número de falecimentos chegou a ser cinco vezes superior ao esperado para o período. Algo semelhante foi observado em Guayaquil (Equador), onde a população se viu forçada a deixar corpos nas ruas em caixões, caixas de papelão e até mesmo embalados em plástico ou sem qualquer proteção devido ao colapso dos sistemas de saúde e funerário.

Situação dramática no EquadorSituação dramática no Equador.Fonte:  CNN / Reprodução 

Em Lima (Peru), a quantidade de mortes nos últimos 2 meses foi cerca do dobro da média. Aqui no Brasil, só em Manaus (AM) foram registrados 2,8 mil óbitos em abril, o que representa o triplo da média histórica para o mês. Outro dado levantado pelo The New York Times indica que, mesmo em locais em que o número de óbitos não teve aumento muito significativo, foram observadas quedas representativas em falecimentos por acidentes de tráfego e homicídios, como vem sendo o caso da África do Sul. Só que nem todas essas mortes extras estão entrando na conta da covid-19. Por quê?

Disparidades

As diferenças nos números e as dificuldades em contabilizar as vítimas não consistem necessariamente em erros ou tentativas dos governos de ocultar a realidade. Estamos em plena pandemia, e levantar as informações de forma rápida e eficaz é um grande desafio, uma vez que nem todos os organismos responsáveis por coletar e transmitir os dados da covid-19 os têm em mãos.

O foco agora está no combateO foco agora está no combate.Fonte:  Business Insider / BBC / Adam Walker / Reprodução 

Segundo os profissionais que trabalham com informações demográficas, é bastante incomum que dados relacionados com a mortalidade sejam divulgados rapidamente, portanto, apesar de todos os esforços para reunir e liberar os números, os informes são limitados e não reúnem todos os óbitos. Para termos um panorama mais realista e completo, teremos que aguardar alguns meses até que os dados possam ser corretamente colhidos e processados.

Novo epicentro

O fato é que, mesmo que não tenhamos acesso ao cenário completo e soframos com a subnotificação, de acordo com os levantamentos realizados pelo The New York Times, se olharmos a média histórica de mortes em determinados períodos, fica bastante evidente que, neste ano, o número de óbitos está bastante acima do normal, chegando a ser até cinco vezes mais elevado.

Vida que segue?Vida que segue?Fonte:  Bloomberg / Rodrigo Capote / Reprodução 

Os dados levantados incluem outras causas de morte além da covid-19, mas é importante considerar que, em alguns casos, a elevação no número de falecimentos por questões aparentemente alheias à pandemia também está relacionada a ela, mesmo que indiretamente. Além de muitas pessoas com doenças pré-existentes estarem evitando ir a clínicas e hospitais por medo de contrair o vírus, como o sistema de saúde de muitas localidades entrou em colapso, esses doentes ficam impossibilitados de receber tratamento médico adequado.

Outro fato que precisamos considerar é que o coronavírus ainda não revelou toda a sua força na América Latina, considerada o novo epicentro da pandemia e onde são esperados dias muito sombrios. Se você não acredita, considere a dramática situação do Haiti e da Guatemala, países que juntos somam cerca de 100 respiradores apenas, ou do México, onde os índices de obesidade, hipertensão e diabetes são elevadíssimos.

Previsão de dias sombriosPrevisão de dias sombrios.Fonte:  1 - The Jakarta Post / Reuters / Amanda Perobelli / Reprodução 

Aqui, o combate à covid-19 se converteu em uma questão política, e a população se encontra dividida sobre quais orientações seguir: obedecer ao distanciamento social ou se arriscar a sair para as ruas? E os números de infectados e mortos estão subindo em um ritmo alarmante. O Brasil não é a única nação latino-americana nessa situação; embora não tenhamos outra escolha além de aguardar o pior da pandemia passar e esperar que todos os números sejam coletados e processados para conhecer a verdadeira dimensão da tragédia, é certo que a quantidade de mortos é muito maior do que se pensa.

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