Como eram os computadores e mainframes na década de 1980

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Antes de os servidores de arquitetura PC dominarem os CPDs (data centers) e de você ter fácil acesso a um computador que caiba em sua escrivaninha, mochila ou até mesmo em seu bolso, o mundo era um lugar menos prático. E ao falar sobre praticidade não nos referimos apenas a tamanho, mas também à velocidade: é possível que o computador que você está usando para ler este artigo seja mais rápido que um supercomputador dos anos 80.

Mesmo tendo sido criados para uso comercial na década de 60, foi só há cerca de 30 anos que a revolução da computação ganhou corpo, fazendo com que os computadores de grande porte começassem a ser usados massivamente pelas empresas. Foi também nessa época que tornou-se comum o uso dos computadores domésticos.

Se você tem por volta de 20 anos, talvez nem saiba ao certo como eram essas máquinas, o que eram capazes de fazer ou o quanto de espaço era necessário para comportá-las. Por isso, trouxemos alguns exemplos desses incríveis hardwares da velha guarda para matar sua curiosidade e impedir que você se comporte como uma das crianças do vídeo abaixo, caso tenha que lidar com uma delas algum dia.

Mainframes

Essas são máquinas de grande porte que necessitam de um ambiente especial com refrigeração para seu funcionamento. Os aparelhos dos quais falamos, por serem dedicados a processamento pesado de informações, sempre foram mais utilizados para fins militares, científicos ou comerciais.

Os mainframes ainda são usados hoje em dia, mas perderam seu “monopólio” para a concorrência dos servidores de arquitetura PC, que são mais baratos e ocupam menos espaço. Nos anos 80, entretanto, essas máquinas megalomaníacas dominavam o mercado corporativo e, apesar de ainda não possuírem interface gráfica, foi nessa década que muitas delas passaram a suportar terminais gráficos e de emulação.

IBM

A IBM se destacou na categoria, fabricando alguns dos modelos mais populares — seguimento que domina até os dias de hoje. No vídeo a seguir, aparecem alguns desses enormes “complexos tecnológicos” que traziam não apenas os supercomputadores, mas vários outros componentes. Nas imagens, podemos ver, por exemplo:

  • Mainframes IBM 3033 e 3081
  • Impressoras IBM séries 3211 e 3800
  • Perfurador de cartão IBM 029 (colocado no vídeo equivocadamente como 129)
  • Leitor de cartão IBM 3505
  • Unidades de fita IBM 3420 e 3480
  • Unidades de fita IBM STC 3670 e 3450
  • Unidades de disco IBM 2305, 3330, 3350 e 3380
  • Unidade de comunicação MCUU IBM 3088

Cray Research

A Cray foi outra empresa que esteve à frente desse mercado nesse período — até sua falência em 1989. Pouco antes da IBM ganhar destaque nesse nicho específico, ela dominou a área de computadores por mais de uma década com seus mainframes de designs inovadores e coloridos, dos quais fazia parte a série Cray X-MP, que veio a tornar-se a linha de computadores mais rápida existente, entre 1983 e 1985.

Seu sucessor lançado em 1988, o Y-MP, podia hospedar até oito processadores de 32 bits, cada um capaz de operar 333 megaflops, o que fazia com que a máquina sustentasse a velocidade de mais de 2 gigaflops. A CPU podia processar tanto instruções de 24 bits quanto de 32 bits, chegando a rodar a 200 MHz. Seu sistema operacional era uma versão do Unix desenvolvida pela própria Cray.

Hoje em dia, o pobre Y-MP, que custaria em torno de US$ 20 milhões, mal conseguiria executar um Windows Vista. Para compreender melhor a discrepância, um quad-core usado em desktops básicos faz no mínimo 42 gigaflops.

Computadores domésticos

Após o sucesso do Apple II em 1977, a segunda geração de computadores tornou-se muito popular durante a década de 80, fenômeno que se deu graças à produção massiva de microprocessadores.

Enquanto os espaçosos e caríssimos mainframes estavam nas indústrias e grandes organizações, os microcomputadores ou “computadores domésticos” — termo muito usado na época, que deu lugar à expressão atual “computador pessoal” (PC) — estavam chegando aos escritórios, empresas menores e até aos lares das pessoas. Abaixo, você pode conferir algumas das máquinas que mais fizeram sucesso durante esse período.

Jupiter Ace

“Provavelmente o computador mais rápido do universo! O Ace se diferencia de outros computadores pessoais no mercado por usar uma linguagem revolucionária chamada ‘FORTH’. Algumas linguagens de computador são de fácil entendimento para os humanos, outras são fácil para computadores, a FORTH é incomum por ser os dois”, diz o trecho retirado de um anúncio do Jupiter Ace.

Este é possivelmente o único microcomputador já lançado que foi baseado na linguagem “Forth”. A maioria dos outros micros ou PCs usavam linguagem BASIC ou CP/M como padrão. O Ace foi fabricado pela empresa britânica Jupiter Cantab em 1983 e projetado por dois ex-funcionários da Sinclair Research que trabalharam no Sinclair ZX-80, ZX-81 e ZX Spectrum.

O produto foi vendido nos Estados Unidos também sob o nome de Jupiter Ace 4000, mas infelizmente não foi muito popular e a Jupiter Cantab veio a falir apenas sete meses depois, em novembro de 1983.

CCE MC-1000

Na década de 80, não era raro que computadores fossem “clonados” entre si. Produtos populares muitas vezes eram nada mais do que uma cópia de um modelo que fez sucesso anteriormente. Apesar de alguns suspeitarem que o MC-1000 fosse uma versão genérica do GEM 1000, da Belga VDI, ou do Rabbit RX83, até onde se sabe, não há provas de que o hardware da CCE fosse baseado em algum outro PC.

Lançado em fevereiro de 1985, o MC-1000 foi um microcomputador brasileiro que utilizava uma variante da linguagem BASIC Applesoft, promovendo uma experiência semelhante ao Apple II. Ambas as máquinas tinham sistemas com interfaces semelhantes, mas hardwares bem diferentes.

O MC-1000, por exemplo, sofria frequentemente com superaquecimento e não contava um interruptor para ser desligado, o que obrigava quem o possuía a desligar sua energia na tomada quando terminasse de usá-lo.

BBC Micro

A BBC Microcomputer System ou BBC Micro foi uma série de computadores pessoais 8 bits e periféricos associados desenvolvidos pela empresa Acorn Computer para um projeto educacional da British Broadcasting Corporation (BBC).

Os modelos da BBC podiam ser encontrados em escolas em toda a Inglaterra de 1982 até metade da década. Eles acabaram não se popularizando nos lares como o Speccy ou Commodore 64 — apesar de ter cerca de um milhão de unidades vendidas —, pois eram caros, quando comparados aos outros microcomputadores de 8 bits. Contudo, possuíam uma linguagem BASIC considerada por muitos como brilhante e compreensível.

Commodore 64

Os dois modelos mais vendidos da Commodore foram o Commodore 64 de 8 bits e o Amiga 500 de 16 bits. O C64 foi lançado em 1982, tornando-se até aquele momento o maior sucesso da companhia. Ele foi vendido como uma máquina de negócios na tentativa de pegar parte do mercado de 8 bits dominado até então pelo ZX Spectrum. Ironicamente, foi como máquina de games que esse modelo realmente se destacou.

Independentemente do número de unidades vendidas, o Commodore 64 foi superior ao Spectrum na maioria dos aspectos. Para começar, ele possuía um chip gráfico dedicado (VIC-II), que fornecia sprites multicoloridos. Além disso, ele também contava com o clássico chip de som SID, que veio a eternizar as famosas composições de Rob Hubbard para jogos da plataforma.

Mesmo sendo um sucesso com os games, a linguagem BASIC do C64 era um pesadelo, sendo considerada difícil de programar, mal estruturada e lenta. O modelo esteve à venda até o final de 1994, ano em que a Commodore International veio à falência.

MSX

Enquanto os mercados dos Estados Unidos e da Europa eram dominados por empresas como IBM, Commodore, Sinclair e Apple, o Japão tinha seus próprios gigantes de hardware nos anos 80. O MSX foi um computador único, isso porque seu nome — que poderia ser entendido como “Microsoft Extended Basic” ou “Machines with Software Exchangeability” — na verdade aplicava-se a um número de sistemas similares criados por companhias japonesas, como Toshiba e Sony.

As máquinas usavam a linguagem BASIC da Microsoft e não eram caras como alguns computadores disponíveis naquela época. Desde o seu lançamento em 1983, a linha vendeu mais de 5 milhões de unidades.

O MSX foi projetado para ser um padrão de hardware, mas não chegou a se popularizar mundo afora, apesar de seu enorme sucesso no Japão. Mesmo não tendo sido tão bom quanto o C64, foi uma máquina muito versátil com capacidades gráficas e de som bem decentes. A franquia de games Metal Gear, por exemplo, foi lançada primeiramente no MSX, antes de chegar ao Nintendo Famincon (“Nintendinho”).

Apple Macintosh

O computador Macintosh foi lançado em janeiro de 1984, com 128 KB de memória RAM. Rapidamente, tornou-se óbvio que isso era insuficiente, então oito meses depois a Apple lançou uma versão atualizada com 512 KB de RAM, chamada não oficialmente de “Fat Mac” (ou “Mac Gordo”).

Antes deste modelo, todos os computadores eram “baseados em texto”. Ou seja, você os operava digitando palavras no teclado. O Macintosh era executado através da ativação de imagens na tela — imagens que hoje conhecemos por “ícones” — com um pequeno dispositivo de operação manual chamado “mouse”. Quase todos os desktops atuais funcionam através desse princípio, incluindo os computadores modernos da Apple e aqueles que são executados através de sistemas operacionais da Microsoft (Windows).

Exceto pelo caríssimo e impopular Apple Lisa lançado em 1983, o Macintosh é considerado como o primeiro computador bem-sucedido comercialmente a usar interface do usuário (GUI). A desvantagem do modelo, porém, é que ele não possuía a opção de expansão de hardware — outras placas ou dispositivos não podiam ser instalados, nem capacidades gráficas podiam ser atualizadas.

Amiga 500

Lançado em 1987, o Amiga 500 seguiu as pegadas de computadores de grande sucesso como o Commodore 64 e Apple II. Ele era mais novo, mais rápido, melhor: o Amiga 500 deu o pulo de uma CPU de 8 bits para 32 bits e 7 MHz de velocidade. O computador contava com 512 KB de RAM, suporte a mais de 4096 cores e um drive de disquete interno de 3,5 polegadas. Nada mal para um produto de US$ 700.

O Amiga foi um computador rápido, graças ao projeto que contava com múltiplos coprocessadores que eram dedicados a certas tarefas como áudio e vídeo. A unidade central de processamento não tinha que fazer tudo sozinha. A empresa Commodore lançou vários modelos de Amiga ao longo da década, mas o 500 com seu preço amigável — sem trocadilhos — foi o mais popular.

O Amiga foi também uma plataforma de sucesso para games e programas voltado para trabalhos de criação com áudio e vídeo. Com seus coprocessadores, essa máquina foi poderosa o bastante para realizar tarefas gráficas e de animação anteriormente impossíveis para computadores vendidos ao consumidor comum.  No fim de tudo, a linha Amiga vendeu aproximadamente 6 milhões de unidades, um número incrível para qualquer computador nos anos 80.

ZX Spectrum

Enquanto a empresa de computadores Sinclair fez sucesso nos Estados Unidos com o ZX-81 (também conhecido como Timex Sinclair 1000), sua maior contribuição para a indústria foi o ZX Spectrum, lançado alguns anos depois, em 1982. O design era parecido: o Spectrum era uma máquina pequena, relativamente barata (£ 125 no Reino Unido) que tinha um teclado incorporado ao seu corpo.

Mas o Spectrum era um computador muito melhor que seus antecessores, graças aos 16 KB de RAM e um verdadeiro teclado incluso no hardware — o ZX-81 possuía um teclado barato feito de membrana de plástico.

A linha ZX Spectrum foi um sucesso no mundo inteiro, vendendo mais de 5 milhões de unidades durante seu tempo de vida. Mas esse modelo também foi o produto que trouxe ao Reino Unido a cultura de ter um PC, sendo o primeiro computador que muitos britânicos possuíram.

Ele foi responsável por centenas ou milhares de carreiras, enquanto jovens descobriram sua paixão por computadores, graças a uma máquina acessível financeiramente. Para a Tecnologia da Informação e cultura de games do Reino Unido, tudo começou com o ZX Spectrum.

IBM 5150 ou IBM PC

Nos dias atuais, o computador pessoal “não Mac” é basicamente um IBM PC. Os computadores baseados em processador Intel e que rodam Windows, dominando o mercado desde os anos 90, nasceram do IBM PC, que foi lançado em 1981 com um simples processador Intel 8088 de 4,77 MHz e 16 KB de RAM.

O IBM modelo 5150 não foi a primeira tentativa da empresa de mudar para o mercado de computadores domésticos — eles lançaram uma máquina bem cara em 1975, o 5100 —, mas foi o primeiro que acertou em tudo.

O sistema não era o mais rápido existente, mas era equipado com um processador Intel de 16 bits, em vez do velho processador de 8 bits que a maioria dos computadores da época estava usando. Além do novo chip, o 8088 usava um barramento de 8 bits, tornando-se compatível com periféricos existentes e expansões de memória.

O IBM PC custava cerca de US$ 1.600. Acredite, estamos falando de uma base de configuração que consistia em um bom custo-benefício para um computador tão poderoso naquela época. O sistema era popular e o software era codificado especificamente para tirar o máximo de vantagem do design da IBM, maximizando o desempenho do Intel 8088.

Então, outras empresas simplesmente clonaram a BIOS da IBM e lançaram cópias do IBM 5150. Em poucos anos, todos os computadores x86 — que usavam processadores Intel — eram compatíveis com o IBM PC e virtualmente idêntico ao design da IBM, além de rodar MS-DOS. Há apenas uma razão pela qual o IBM PC não é o computador mais popular da História: muitas empresas fizeram sua própria versão dele.

É possível que em 2050 a redação do TecMundo produza um artigo sobre os “bizarros” e “antiquados” computadores da primeira década do século 21, mas, até lá, vamos estranhando esses da época em que um processador de 7 MHz era sinônimo de potência. E você, quais dessas máquinas já conhecia e já chegou a usar?

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