Maternidade ou sucesso profissional? Um dilema que não precisa existir
Ambientes de trabalho inclusivos podem apoiar a maternidade ao mesmo tempo que impulsionam na liderança feminina; saiba mais.

30/05/2025, às 20:00
Atualizado em 02/06/2025, às 08:58
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Fonte: Getty Images
Conciliar a maternidade com a carreira profissional é, muitas vezes, como caminhar em uma corda bamba. De um lado, o desejo legítimo de evoluir, conquistar espaços e assumir responsabilidades. Do outro, o sonho igualmente legítimo de cuidar, nutrir, estar presente. O que deveria ser um equilíbrio possível ainda é, para muitas mulheres, um dilema cotidiano.
Não é coincidência que cada vez mais mulheres estejam adiando a decisão de ter filhos. Segundo o IBGE, a maternidade entre 35 e 39 anos passou de 26,1% em 2010 para 34,5% em 2022. No sentido oposto, os nascimentos entre jovens de até 19 anos caíram de 21,6% para 12,1% no mesmo período. E mais: o congelamento de óvulos aumentou 76% nas clínicas brasileiras entre 2020 e 2023, segundo a Anvisa.
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São números que contam histórias e apontam para um movimento silencioso de planejamento, cautela e, muitas vezes, de espera. Mas como o mercado se adapta a essa realidade?
Quando o tempo biológico não acompanha o tempo corporativo
O avanço da medicina reprodutiva abriu portas antes impensáveis. Congelar óvulos, recorrer à fertilização in vitro ou adotar filhos são possibilidades reais, mas não anulam uma questão central: a de que o tempo biológico das mulheres ainda não conversa com o ritmo das empresas. E isso precisa mudar.
Algumas companhias já começaram a trilhar esse caminho. Gigantes como a Meta, Fleury, Ambev e Intel passaram a subsidiar parte do congelamento de óvulos. Além disso, a Intel também tem ampliado seu olhar para o tema, oferecendo tratamentos integrais de fertilidade e licença para casos de adoção, incluindo casais homoafetivos que optam por adotar ou gerar. Isso reforça que a decisão de ser mãe, seja agora ou no futuro, deve ser apoiada em qualquer etapa.
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E para quem já está vivenciando a maternidade, existem políticas como licença parental estendida e programas de reintegração ao trabalho com foco na saúde mental. É um movimento que reflete não só responsabilidade social e empatia, mas também visão estratégica: ao cuidar das mulheres em seus momentos mais sensíveis e importantes, a Intel fortalece sua cultura de acolhimento, atrai os melhores talentos e reafirma o compromisso com um ambiente de trabalho inclusivo de verdade.
Afinal, apoiar a liberdade de escolha das mulheres contribui para que elas se sintam vistas, ouvidas e valorizadas.
Maternidade não é pausa, é potência
Por muito tempo, o mercado tratou a maternidade como um hiato, uma espécie de parêntese na trajetória profissional, mas essa visão está ultrapassada. Mães desenvolvem competências únicas: capacidade de adaptação, resiliência, empatia, organização.
O que falta são ambientes que saibam reconhecer esse valor e ofereçam caminhos reais de permanência e crescimento.
A experiência da maternidade exige decisões rápidas, inteligência emocional, escuta ativa e uma capacidade de priorização que se reflete diretamente no desempenho profissional. Quem cuida aprende a negociar, a manter a calma sob pressão, a pensar no coletivo e a ser extremamente eficiente no uso do tempo.
São soft skills cada vez mais valorizadas em líderes modernos, e que muitas mulheres adquirem ou aprofundam no período em que estão fora do ambiente corporativo. Ignorar isso é desperdiçar um enorme potencial, que pode transformar equipes, culturas e resultados.
Por isso, essas competências devem ser reconhecidas e valorizadas no desenvolvimento profissional. Na Intel Brasil, por exemplo, mulheres que retornam da licença maternidade contam com trilhas específicas de liderança, mentorias e programas de capacitação. Não se trata de "benefícios", mas de iniciativas que tornam a jornada mais justa e viabilizam que as mães descubram sua força.
A solidão do networking e a importância das redes de apoio
Um dos desafios menos visíveis, mas igualmente importantes, é o isolamento profissional que muitas mulheres enfrentam, especialmente após a maternidade. Estudos da ONU Mulheres mostram que elas têm menos acesso a redes de relacionamento e menos tempo disponível fora do expediente. E isso impacta diretamente suas chances de crescer na carreira.
É por isso que iniciativas como a Women at Intel Network fazem diferença. Criada em 1996, quando diversidade ainda era um tema raro nas empresas, a rede conecta mais de 7.500 mulheres em 88 países, promovendo troca de experiências, visibilidade e apoio mútuo. Afinal, ninguém cresce sozinha, e o networking precisa deixar de ser um clube exclusivo e masculino para se tornar um espaço plural.
O papel das empresas: criar pontes, não barreiras
A equidade de gênero no trabalho não será alcançada apenas com discursos inspiradores ou campanhas em datas simbólicas. É preciso criar políticas que tirem o peso do colo das mulheres e o coloquem onde ele sempre deveria ter estado: na estrutura das organizações.
Isso inclui desde práticas simples, como horários flexíveis e licença parental igualitária, até ações mais estruturais, como trilhas de desenvolvimento para lideranças femininas, com metas claras de representatividade. E, acima de tudo, um ambiente que reconheça que cuidar de alguém nunca deveria ser motivo para renunciar a si.
Se há algo que a maternidade ensina é que cuidado transforma. E é justamente esse valor, o de cuidar, acolher, ouvir e adaptar, que o mundo do trabalho precisa aprender a incorporar. Porque quando uma mulher sente que pode ser mãe e continuar crescendo, toda a empresa cresce com ela.
Que a maternidade deixe de ser um ponto de interrogação nas trajetórias profissionais e passe a ser reconhecida pelo que ela é: uma experiência profunda, desafiadora e potente que merece ser acolhida, e não contida.