Radiotelescópio brasileiro vai ajudar a entender mistérios da cosmologia

3 min de leitura
Imagem de: Radiotelescópio brasileiro vai ajudar a entender mistérios da cosmologia
Imagem: Divulgação

Um novo projeto científico complexo, prestes a entrar em funcionamento, deve ampliar a importância do Brasil nos estudos da astronomia.

Batizado de BINGO, o mais recente radiotelescópio brasileiro pode entrar em funcionamento ainda no segundo semestre de 2022 e vai dar vantagem aos cientistas do país que estudam a matéria e a energia escuras.

Um radiotelescópio é uma estrutura formada por grandes antenas capazes de detectar ondas de rádio provenientes do espaço. Esses laboratórios a céu aberto são de grande utilidade para entender melhor partes não visíveis do Universo — ou pelo menos os lugares que os telescópios óticos não conseguem enxergar.

Para que um radiotelescópio funcione bem, a escolha do local é fundamental. O BINGO, por exemplo, está sendo construído no município de Aguiar, interior da Paraíba. “O local é muito conveniente, sem muita radiação e interferências de celular ou aviões", diz o físico Elcio Abdalla, coordenador do projeto e professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP).

BINGOConstrução do radiotelescópio BINGO, em Aguiar, na Paraíba

O nome BINGO vem de Baryon Ascustic Oscillation In Neutral Gas Observations (oscilações acústicas de bárions em observações de gás neutro), e ele será o primeiro no mundo especialmente projetado para detectar as oscilações acústicas de bárions (BAOs), ondas geradas na interação entre átomos e radiação no princípio do Universo.

Através da detecção das BAOs, o BINGO vai procurar e tentar quantificar a matéria em diferentes regiões do cosmos através da observação do hidrogênio — o elemento mais comum no cosmos — para entender melhor o formato que o Universo tem em um determinado momento.

Vale lembrar aqui que o Universo está se expandindo, e cada vez mais as galáxias se afastam umas das outras.

BINGOInstalação de um dos cones do radiotelescópio BINGO

O consenso científico hoje aponta para a misteriosa energia escura como a causadora dessa expansão, embora nada ou muito pouco se saiba sobre sua origem. É aí que o BINGO entra para ajudar os cientistas a melhorarem os modelos teóricos sobre o cosmos.

Como o BINGO vai funcionar?

As ondas de rádio andam em várias direções e provocam fenômenos como interferência e a difração, explica Abdalla. O orifício dos cones do radiotelescópio vai ser grande o suficiente para captar essa radiação para dentro da estrutura do BINGO, onde ela vai ser transformada em sinais digitais por computadores potentes.

Uma vez digitalizadas, as ondas vindas do espaço vão passar por um tratamento estatístico que separa o ruído da informação. “Este é um trabalho mais teórico. A informação caracteriza o que emitiu as radiações, e são esses dados que levamos para as equações de Einstein", diz Abdalla.

BINGOTerreno onde o BINGO está sendo construído na cidade de Aguiar, interior da Paraíba

De acordo com o físico, são mais de 150 pessoas envolvidas no projeto. “Minha intenção pessoal é fazer ciência, mas um projeto como esse não para por aí. Tem o desenvolvimento de tecnologia nos materiais e na instrumentação, e há ainda a formação de pessoal, que é muito importante.”

"Já vemos um ganho muito grande com as pessoas formadas no projeto; esses profissionais, que ganharam experiência para trabalhar com estatística e grandes números, podem atuar na iniciativa privada, em empresas como bancos, ou se tornarem professores também", afirma o cientista.

Com o início das observações previsto para o segundo semestre de 2022, Abdalla diz que o radiotelescópio tem fôlego para gerar dados científicos por cerca de 20 anos — os projetos atuais devem render pelo menos oito anos de trabalho, e os desdobramentos podem durar por anos após.

Para o BINGO conseguir produzir ciência, muito investimento é necessário. Segundo Abdalla, o dinheiro para o projeto vem principalmente da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) — de R$ 13 a R$ 14 milhões; do governo da Paraíba — R$ 12 milhões; e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) — R$ 1 milhão. Há ainda uma ajuda que vem de instituições chinesas.  

O coordenador do projeto afirma que a iniciativa é relevante para o desenvolvimento científico do país, fator que nem sempre é valorizado, mas é essencial para a produção de riqueza. “O valor agregado dos produtos vem da ciência. O carro bonito e sofisticado vem da ciência", conclui.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.