SpaceX é acusada de ignorar casos de assédio sexual

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Três ex-estagiárias da empresa americana SpaceX afirmam que denunciaram casos de assédio para os seus superiores e para o setor de recursos humanos da empresa, mas não obtiveram resposta.

A SpaceX pertence a Elon Musk, personalidade do ano, segundo a revista Times. Até a manhã deste sábado (18) a empresa ainda havia se pronunciado publicamente sobre as acusações.

Segundo vítimas, empresa falha em investigar assediadoresSegundo vítimas, empresa falha em investigar assediadoresFonte:  Shutterstock 

Ashley Kosak relata em uma postagem no site Lioness a violência sofrida. Segundo ela, em 2017, quando ainda era estagiária, um colega passou a mão no corpo dela na cozinha de um alojamento. Em 2018, a situação se repetiu com outro colega de trabalho em um evento da empresa.

Ela diz que, na primeira ocasião, recorreu ao superior imediato, e na segunda, ao departamento de RH. Nunca obteve resposta.

"Pelo que ouvi, os novos estagiários da SpaceX recebem treinamento sobre como relatar melhor casos de assédio sofridos. Os assediadores, por outro lado, ainda não estão sendo responsabilizados", diz ela, que deixou a empresa no mês passado.

Outros relatos

O jornal americano The New York Times investigou os casos e descobriu que ao menos duas outras ex-estagiárias haviam passado por situações semelhantes.

Julia Crowley Farenga foi estagiária de 2015 a 2017, quando era estudante do MIT. Ela moveu um processo contra a SpaceX em 2020, após repetidas denúncias contra um antigo gerente seu.

Segundo Julia, seu chefe costumava marcar reuniões mais longas com ela do que com outros colegas de trabalho homens. Além disso, insistia em fazer perguntas e comentários sobre a vida amorosa dela.

Em uma ocasião ela recebeu uma proposta de cargo em outra gerência. Mas, quando aplicou para a nova posição, descobriu que o gerente havia bloqueado a mudança de cargo, apesar dos bons resultados que ela apresentava.

Casos de assédio levam ao sofrimento psicológico e podem fazer com que mulheres abandonem seus empregosCasos de assédio levam ao sofrimento psicológico e podem fazer com que mulheres abandonem seus empregosFonte:  Shutterstock 

Outra estagiária também afirma que foi vítima de assédio nos alojamentos da empresa. A SpaceX aluga ou compra residências próximas às regiões de lançamento de foguetes para hospedar seus funcionários. Frequentemente aloja homens e mulheres juntos, dividindo inclusive os banheiros.

No episódio que vivenciou, um empregado da empresa ficou bêbado e tentou entrar no quarto dela enquanto ela saía do banheiro, batendo na porta e peguntando se ela estava pelada. O homem tentou inclusive entrar no banheiro por outra porta que apenas seu colega homem tinha acesso.

Após a denúncia, o RH disse apenas que uma nova política de alojamentos seria adotada pela empresa e os banheiros passariam a ser divididos apenas por pessoas do mesmo sexo.

Uma quarta mulher disse que nunca foi vítima de tal situação, mas que viu colegas passarem por isso. As duas últimas mulheres não quiseram revelar sua identidade.

Comunicado da empresa

Depois das denúncias, a agência SpaceX enviou por e-mail um comunicado aos seus empregados. No texto, Gwynne Shotwell, presidente e diretora de operações, diz que a empresa vai “investigar rigorosamente todas as denúncias de assédio ou discriminação e tomar medidas rápidas e apropriadas quando descobrirmos que nossa política foi violada.”

A SpaceX dá destaque para o trabalho de engenheiras nas redes sociais. A diretora Shotwell é, inclusive, considerada peça chave no sucesso da empresa.

Apesar disso, na indústria aeroespacial, homens ainda ultrapassam as mulheres em número. São oito para cada uma.

Assédio na indústria aeroespacial

Mulheres em outras empresas espaciais também denunciam o machismo que sofrem no local de trabalho. Em setembro, um grupo de 21 atuais e ex-funcionárias da Blue Origin, propriedade de Jeff Bezos, acusou a empresa de retaliar aquelas que falam abertamente sobre casos de sexismo.

O texto, publicado também na Lioness, foi escrito por Alexandra Abrams, ex-chefe de comunicações dos funcionários, demitida pela Blue Origin em 2019. A empresa negou as acusações.

Ashley Kosak, inclusive, diz que o ensaio inspirou ela a divulgar sua experiência na SpaceX. Ela, que começou como estagiária em 2017 foi promovida a engenheira de integração de missão e trabalhou no Cabo Canaveral.

"Para uma mulher, especialmente uma mulher asiática americana, alcançar uma posição neste nível na indústria espacial é quase impossível", diz.

No mês passado, recebeu um atestado do psiquiatra devido à ocorrência de ataques de pânico e palpitações. Dez dias depois, deixou a empresa.

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