O Brasil possui muitos recursos naturais, mas pouca infraestrutura. É uma conta que não fecha e a prova apareceu no dia 28 de maio, quando uma falha na linha de transmissão bipolo – direta, sem interferências pelo caminho – que liga a usina de Belo Monte (PA) a Estreito (SP) deixou estados de todas as regiões do país sem luz por cerca de meia hora. A esse alerta se somam as necessidades de melhorias e mudanças na matriz energética do país para não acabarmos no escuro.
Um medo que era conhecido dos brasileiros em 2001, quando o governo FHC clamava aos brasileiros que economizassem energia para evitar apagões, volta a rondar o país enquanto enfrentamos a pior seca da história.
Matriz energética brasileira
A maior parte da energia produzida no Brasil atualmente vem de usinas hidrelétricas – 63%. Faz sentido, já que além de ser segura, barata e confiável, essa energia depende de vazão de água, recurso abundante no país – ao menos antes da estiagem pela qual as regiões abastecidas pela bacia do Rio Paraná vêm passando e que fez o governo federal emitir um alerta de emergência hídrica no último dia 27.
Já a energia renovável, com uma matriz composta por eólica, solar e produzida por meio da biomassa, é responsável por 19% da energia gerada no país. O restante do abastecimento provém de usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes.
Quando a energia gerada à base de água falta no Brasil, são essas usinas que entram em ação, aumentando o custo da energia para o consumidor final. Foi o que levou a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a revisar no dia 28 a tarifa de energia para vermelho em patamar 2.
Bandeira vermelha, energia mais cara
Em maio, o Brasil estava sob bandeira vermelha 1, que cobra um adicional de R$ 4,16 a cada 100 kilowatt-hora (kW/h) utilizados. Com a revisão da bandeira vermelha para o patamar 2, passamos a pagar R$ 6,24 a mais a cada 100 kilowatt-hora (kW/h) consumidos – medida que deve valer até o fim do ano. Os quatro primeiros meses do ano haviam sido de bandeira amarela.
Como reduzir o risco de apagão?
A resposta curta é: precisamos de investimentos que ultrapassam R$ 400 bilhões. Segundo documento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) liberado em janeiro – o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) –, o governo deve buscar consolidar a mudança na matriz energética do país nos próximos 10 anos, firmando a participação maior de energias renováveis.
“Por uma sorte, entre junho e setembro, na época de seca, é também o período que mais venta no país”, afirmou Rafael Kelman, diretor-executivo da consultoria PSR, especializada no setor de energia, em entrevista à Exame. “O Brasil consegue expandir a geração renovável de maneira barata e aproveitando essas sinergias”, disse o especialista. Mas, para aproveitar esse potencial, o país precisa investir 365 bilhões.
Outros R$ 35 bilhões precisam ser investidos até 2030, segundo a EPE, para substituir diversos equipamentos em operação na rede de transmissão do país que estão no final de suas vidas úteis. A empresa recomendou ainda investimentos de R$ 108,7 bilhões no sistema de transmissão para dar conta da expansão das energias renováveis.
Com a pandemia, a entidade apontou três cenários: o otimista, mantendo o nível de investimentos proposto inicialmente; o base, com R$ 89,6 bilhões; e o pessimista, com menos de R$ 60 bilhões investidos no sistema. Por enquanto, dependeremos das termelétricas para chegar ao fim do ano, quando se inicia a próxima temporada de chuvas – explicou Diogo Lisbona, pesquisador do Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas (FGV), à Exame .