Desabastecimento hídrico: Brasil sofre com mudanças climáticas

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Pouca chuva, pouca energia: boa parte da matriz energética brasileira depende de água. E não são somente as hidrelétricas que estão em risco: a produção industrial e de serviços também são afetadas pela falta de água.

Segundo um artigo publicado recentemente no Jornal da USP, são as mudanças climáticas causadas pelo desmatamento e pelo fenômeno La Niña que estão impactando diretamente nas chuvas por todo o Brasil – especialmente nas regiões sul e sudeste.

Represa Paulo de Paiva Castro, no Sistema Cantareira.Represa Paulo de Paiva Castro, no Sistema Cantareira.Fonte:  Wikipedia 

Quem fez as afirmações foi o especialista Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), durante entrevista à Rádio USP. Segundo ele, o risco de desabastecimento hídrico no Brasil é real e preocupa inclusive autoridades federais.

Mudanças climáticas impactantes

O professor explicou que atualmente o país enfrenta duas importantes situações climáticas: a redução de umidade transportada pela zona de convergência do atlântico sul, os "rios voadores", por conta do desmatamento; e o fenômeno La Niña, responsável pela redução na temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico, Tropical Central e Oriental.

Desmatamento

O resultado da redução na umidade é o nível baixo de reservatórios importantes para o abastecimento do país. Furnas está com 38% da capacidade; Serra da Mesa, com 36%; Embarcação, com 22%; Nova Ponte, com 16% e Itumbiara com 27%. “São reservatórios muito importantes para o sistema nacional que estão com os níveis muito baixos. Essa é uma situação que vem perdurando ao longo dos últimos dez anos em consequência do desmatamento”, disse Côrtes. E ainda não há indicação de melhora.

Fenômeno La Niña

A instalação do fenômeno desde 2020 até o fim de abril de 2021, causou estiagem na Região Sul, repercutindo inclusive em parte do estado de São Paulo. Na Região Norte foi o inverso: o evento climático causou grandes quantidades de chuvas e foi responsável por diversas inundações em Manaus. Devido à instabilidade climática que se instalou no País, o uso de termelétricas aumentou – e levou ao acréscimo nos custos de produção de energia: alô, bandeira vermelha.

Problemas estruturais

Segundo o professor, à questão climática se somam os problemas estruturais do Brasil. “Se não houver uma atenção especial quanto ao abastecimento de energia elétrica,  nós podemos ter apagões em áreas específicas, comprometendo a retomada [após a pandemia]. Isso já deveria ter entrado no radar do governo federal”, afirmou Côrtes.

O prognóstico, por enquanto, não é nada favorável. No caso de São Paulo, a redução no volume de chuvas tem prejudicado o abastecimento dos sistemas Cantareira, Alto Tietê e também Guarapiranga. e não é só por lá que a falta de chuvas vem causando preocupação.

Estiagem severa

A seca que atinge a região sul de Mato Grosso já dura mais de 50 dias e o estado corre risco de incêndios florestais; Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência ambiental; em toda a região Centro-Sul, os solos estão ressecados e os níveis dos rios estão tão baixos que as produções de laranja e café estão ameaçadas; na região Sul, em Curitiba, capital do Paraná, o rodízio de água já dura mais de um ano. "Até mesmo o governo federal já reconheceu o problema", disse Côrtes.

Combate a incêndio florestal no Mato Grosso durante estiagem.Combate a incêndio florestal no Mato Grosso durante estiagem.Fonte:  GOVMS/Reprodução 

Segundo o artigo publicado pela USP, a volta do período de precipitações deve coincidir com a volta do La Niña, levando a estiagem do Sul para o Sudeste. “Infelizmente, é possível que tenhamos condições satisfatórias de recarga só a partir do segundo semestre do próximo ano”, alertou o especialista.

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