Sonda Parker capta em Vênus algo que ela não deveria ser capaz de ver

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Imagem: NASA / Johns Hopkins APL / Steve Gribben/Divulgação

A NASA mantém uma tradição curiosa: os artefatos que manda para o espaço duram muito mais do que deveriam e terminam fazendo coisas para as quais não foram programados, e a sonda solar Parker não poderia fugir à sua herança, ao enviar para a Terra uma foto deslumbrante de Vênus, mostrando mais do que ela poderia tecnicamente captar.

A imagem foi registrada pelo Wide-Field Imager for Parker Solar Probe (algo como “Gerador de Imagens de Campo Amplo da Sonda Solar Parker”, ou WISPR), durante a passagem da sonda pelo planeta vizinho em 11 de junho do ano passado. Esses rasantes são necessários para a missão da Parker: em sua órbita, ela pega impulso na gravidade de Vênus para ficar cada vez mais perto do Sol. Segundo a NASA, em sete anos de missão a sonda vai contabilizar sete voos sobre o planeta.

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Um close venusiano já era esperado; a sonda captou com nitidez o contorno brilhante do lado noturno do planeta, conhecido como nightglow. O fenômeno é causado pela luz ultravioleta do Sol, que flui pela atmosfera e divide as moléculas em átomos que, livres, se recombinam, perdendo energia na forma de luz.

A surpresa, porém, estava no centro da imagem, onde é possível distinguir uma mancha escurecida: Aphrodite Terra, a maior das duas principais regiões elevadas de Vênus (seu tamanho equivale ao da América do Sul), com cadeias de montanhas e cortada por numerosos e extensos fluxos de lava (mesmo assim, a região aparece mais escura porque ela é cerca de 30°C mais fria do que as regiões ao seu redor). O problema é que, teoricamente, a Parker não poderia vê-la.

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“O WISPR é um equipamento para observações de luz visível. Esperávamos ver nuvens, mas a câmera olhou diretamente para a superfície”, disse o astrofísico Angelos Vourlidas, cientista do projeto WISPR do Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins (APL).

Talento oculto

A descoberta de que a Parker teria conseguido ver a superfície de Vênus através da atmosfera densa fez com que os pesquisadores avaliassem o quanto o equipamento é sensível à luz infravermelha.

Se a sonda consegue captar comprimentos de onda de luz próximos a esse espectro, Isso abriria novas oportunidades de investigação não apenas do planeta como da poeira ao redor do Sol e mesmo no sistema solar interno.

Por outro lado, a Parker pode ter descoberto sem querer que Vênus tem uma janela em sua atmosfera. “De qualquer forma, oportunidades científicas emocionantes nos aguardam”, disse Vourlidas.

A mais veloz

O voo rasante seguinte da Parker sobre Vênus subitamente se tornou uma missão à parte: no último dia 20 de fevereiro, a sonda fez uma série de observações semelhantes, também no lado noturno venusiano. A resposta para o que a Parker viu, porém, só será conhecido em fins de abril, quando as imagens chegarem à Terra.

A última passagem da Parker, no dia 20 deste mês, foi a quarta das sete das chamadas assistências de gravidade de Vênus planejadas para a missão. As próximas, que levarão a sonda ainda mais perto do Sol, estão programadas para os dias 29 de abril e 9 de agosto.

A cada vez, a Parker bate o seu próprio recorde de aproximação solar, estreitando sua órbita: agora, ela ficará a 10,4 milhões de quilômetros da superfície do Sol – cerca de três milhões de quilômetros mais perto do que a abordagem anterior, em 17 de janeiro.

A menor distância que a Parker deve alcançar é a cerca de 6,2 milhões de quilômetros da fotosfera do Sol. Quando isso acontecer, a sonda estará viajando a mais de 700 mil km/h, o que fará com que seja o objeto mais veloz já lançado pelo ser humano.

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