Estamos procurando sinais de ETs de maneira errada

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Imagem: ESO/M. Kornmesser/Divulgação

Durante 30 horas, entre abril e maio de 2020, cientistas do telescópio australiano Parkes devem ter sentido o mesmo que o astrônomo Jerry R. Ehman experimentou em 1977 ao perceber, nos registros do radiotelescópio Big Ear, um sinal forte, com duração de 72 segundos, vindo da constelação de Sagitário. Ainda não se sabe o que gerou o chamado sinal WOW nem o feixe de ondas de rádio que parece ter partido da região onde está a estrela mais próxima de nós: Proxima Centauri, a 4,24 anos-luz.

A admiração deixada no papel pelo astrônomo Jerry E. Ehman deu nome ao mais misterioso dos sinais captados do espaço.A admiração deixada no papel pelo astrônomo Jerry E. Ehman deu nome ao mais misterioso dos sinais captados do espaço.Fonte:  Big Ear Radio Observatory/Divulgação 

O estudo ainda está em andamento, à procura de algo na Terra que possa ter gerado o sinal; isso, porém, não arrefeceu o entusiasmo dos pesquisadores da Breakthrough Listen Initiative, projeto de US$ 100 milhões e de 1 década na busca por inteligência extraterrestre (ou SETI, acrônimo para Search for Extraterrestrial Intelligence).

O sinal, nomeado como Breakthrough Listen Candidate 1 ou simplesmente BLC-1, foi captado por horas enquanto o Parkes olhava para Proxima Centauri, uma anã vermelha com ao menos 2 planetas a orbitá-la — um deles, Proxima Centauri b, um gigante rochoso que ocupa a zona habitável do sistema.

Fim do evento, a região mostrou-se silenciosa; do mesmo jeito,  o WOW, o sinal, não se repetiu. E isso, segundo o astrofísico Michael Garrett, diretor do Jodrell Bank Center for Astrophysics e membro do conselho da Breakthrough Listen Initiative, “expõe um problema que tem perseguido a pesquisa SETI desde o início: sinais que desaparecem”.

Sinais únicos

Em um artigo para o site The Conversation, Garrett pondera que “se o BLC-1 nunca mais se repetir, será muito difícil conduzir o tipo de acompanhamento detalhado que convencerá os cientistas de que se trata de uma mensagem alienígena. Os céticos argumentarão corretamente ser mais provável a interferência de rádio gerada por humanos”.

Tanto o WOW como o sinal captado pelo telescópio australiano esbarram no mesmo problema: além de serem eventos únicos, foram captados por um telescópio com uma única antena. Para Garrett, a busca por sinais de inteligência extraterrestre deveria tentar uma nova abordagem.

“Com uma antena parabólica, não há como saber exatamente de onde um sinal veio. Enquanto o telescópio Parkes apontou para Proxima Centauri, centenas de milhares de outras estrelas também estavam presentes em seu campo de visão, e qualquer uma delas poderia ser a fonte do BLC-1”, explicou o astrofísico.

Quando direcionado para outra região do espaço, o telescópio Parkes nada registrava.Quando direcionado para outra região do espaço, o telescópio Parkes nada registrava.Fonte:  CSIRO/David McClenaghan/Divulgação 

Abordagem tradicional

Uma alternativa seria usar uma rede de radiotelescópios espalhados por milhares de quilômetros, em uma técnica chamada de interferometria de linha de base muito longa: "Isso nos permitiria identificar não apenas o sistema estelar, mas o planeta associado que transmitiu o sinal; além disso, a interferência de origem humana desapareceria completamente”, disse o astrofísico.

Essa abordagem ainda encontra empecilhos para ser adotada: segundo Garrett, os problemas vão desde combinar dados provenientes de inúmeros telescópios (“uma observação de alguns minutos geraria muitos terabytes de dados”) à visão conservadora da comunidade SETI, que ainda prefere usar telescópios de prato único.

“Felizmente, o Breakthrough Listen agora busca incorporar matrizes como o MeerKAT, o Jansky Very Large Telescope (JVLA) e o Square Kilometer Array (SKA) em seus programas de pesquisa futuros. Nesse ínterim, prepare-se para uma onda crescente de eventos de rádio ambíguos — e esperançosamente o reaparecimento do BLC-1”.

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