Ciência ainda tenta descobrir qual é a origem do 'grito espacial'

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Imagem: British Museum/Arte sobre Reprodução

Em 2006, a NASA lançou ao espaço, preso a um balão, o ARCADE (acrônimo, em inglês, para Radiômetro Absoluto para Cosmologia, Astrofísica e Emissão Difusa). Sua missão era captar o calor e a luz da primeira geração de estrelas e galáxias que, viajando por bilhões de anos-luz, chegam à Terra como ondas de rádio. Qual não foi a surpresa dos astrofísicos ao descobrir que o ARCADE ouvira um sinal 6 vezes mais alto do que esperado, mesmo para estrelas recém-formadas há bilhões de anos. Quem está gritando? Essa é uma pergunta ainda sem resposta.

O ARCADE levanta voo rumo à estratosfera, em julho de 2006.O ARCADE levantou voo rumo à estratosfera em julho de 2006.Fonte:  NASA / ARCADE 

"Foram meses de análise de dados para primeiro separar os efeitos instrumentais do sinal e, depois, a radiação galáctica. A surpresa foi gradualmente tomando corpo ao longo do tempo mas, ainda assim, o impacto foi enorme”, disse à revista All About Space o astrofísico Dale J. Fixsen, da NASA .

Desde então, pesquisadores do mundo inteiro tentam descobrir sua origem. "É um sinal difuso que vem de todas as direções, ou seja, ele não se origina de um único objeto espacial”, explicou o astrofísico Al Kogut, do Goddard Space Flight Center da NASA e chefe da equipe ARCADE.

Por todos os lados

Chamado de fundo sincrotrônico de rádio, o sinal é formado por dois elementos: o fundo, uma mistura de emissões de múltiplas fontes; e a radiação sincrotrônica, emissão eletromagnética originada de partículas carregadas que se movem próximo à velocidade da luz. Como cada fonte emissora tem o mesmo espectro de radiação, torna-se quase impossível identificar de onde vem o rugido cósmico.

"Sabe-se desde o final da década de 1960 que a emissão de rádio combinada de galáxias distantes forma um fundo difuso de rádio, originado de todas as direções. O grito espacial é semelhante a esse sinal, mas o problema é que não parece haver 6 vezes mais galáxias nos confins do Universo que compense a diferença entre as emissões ou justifique a intensidade do sinal – isso pode significar que algo novo e emocionante é a sua fonte”, disse Kogut à All About Space.

Não se sabe nem mesmo se o que está gritando habita a Via Láctea. Para o físico Jack Singal, da Universidade de Richmond, "eu não diria que a hipótese de a origem estar na Via Láctea deva ser descartada; no entanto, acredito que essa explicação parece ser a menos provável. Acho que podemos precisar de uma nova hipótese para a origem – uma que ninguém tenha pensado ainda”.

O silêncio das primeiras estrelas

O Campo Ultraprofundo do Hubble, contendo cerca de dez mil galáxias (as vermelhas, mais jovens e formadas após o Big Bang) a 13 milhões de anos-luz; são elas que os astrônomos agora querem ouvir.O Campo Ultraprofundo do Hubble, contendo cerca de 10 mil galáxias (as vermelhas, mais jovens e formadas após o Big Bang) a 13 milhões de anos-luz (são elas que os astrônomos agora querem ouvir).Fonte:  NASA/Hubble Space Telescope 

Espera-se que a fonte seja logo identificada, porque o grito não é apenas um mistério a ser resolvido: segundo a NASA, os “sons” das primeiras estrelas estão escondidos atrás dele, tornando-os impossíveis de serem detectados.

Para isso, pode ser enviado novamente à estratosfera o ARCADE, com seus 7 radiômetros imersos em quase 2 mil litros de hélio líquido a 2,7 K (ou -270,45 °C), capazes de medir diferenças de temperatura tão pequenas quanto 1/1000 de grau contra um fundo cósmico cujo calor é de 3 K (ou -270,15 °C).

O ARCADE visualizou apenas 7% do céu, a parte colorida neste mapa de radiação do Universo (a Via Láctea atravessa o centro da imagem).O ARCADE visualizou apenas 7% do céu, a parte colorida nesse mapa de radiação do Universo (a Via Láctea atravessa o centro da imagem).Fonte:  NASA/ARCADE 

Outro programa é o que pretende usar o radiotelescópio do Observatório de Green Bank “para mapear o céu com maior precisão do que antes, talvez isso nos ajude a esclarecer o mistério”, afirmou Kogut.

Fontes

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