Imagem de The Dark Pictures: Man of Medan
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The Dark Pictures: Man of Medan

Nota do Voxel
80

Man of Medan não tem medo de clichês em terror com susto atrás de susto

Until Dawn foi um sucesso um tanto quanto inesperado em 2015. Apostar em clichês, afinal de contas, é sempre uma faca de dois gumes, especialmente no subgênero “terror adolescente”, ramificação que teve suas origens lá atrás, nos idos de “Sexta-Feira 13”, “A Hora do Pesadelo”, “Halloween” e “O Massacre da Serra Elétrica” – estes dois últimos se levavam mais a sério do que os dois primeiros.

Os anos 90 ajudaram a categorizar esse rótulo, que também tem ingrediente sutilmente cômico e uma avalanche de clichês que tiram sarro da própria situação lamentável de adolescentes em apuros, geralmente perseguidos por um assassino de machado ou facão. São elementos detectados em filmes como “Pânico”, “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado”, “Dia dos Namorados Macabro”, “Lenda Urbana” e inúmeros outros, além dos citados no início.

Quando o roteiro é mais ousado, ele reserva reviravoltas que cruzem a linha material e aposta no sobrenatural – em vez da preguiçosa solução de simplesmente matar o assassino ao final e deixar que os adolescentes escapem. Essas decisões ficaram na mão do jogador em Until Dawn, que permite controlar oito personagens, cada qual com suas características emocionais e seu relacionamento pessoal.

Matar os oito personagens antes da história sequer terminar, aliás, era um dos cenários resultantes das escolhas do jogador. Com base nessa premissa, a Supermassive inaugura a antologia The Dark Pictures, uma série de jogos com histórias independentes e diversos elementos em comum. Publicado pela Bandai Namco, o primeiro título, Man of Medan, pode ser tão intimidante quanto assustador. No sentido mais literal que essa palavra tem: prepare-se para perder a conta de sustos.

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Cinemão de primeira – e honesto nesse princípio

Honesto em sua proposta cinematográfica, Man of Medan é interpretado por um vasto elenco de atores talentosos, cujas aparências são renderizadas nos mínimos detalhes para reproduzir jeitos e trejeitos verossímeis e naturais, sem forçar a barra em tentativas “mais reais que a própria realidade”.

O conjunto inclui o agora popular Shawn Ashmore, que atuou como protagonista de Quantum Break; Kwasi Songui, de “300” e “O Dia Depois de Amanhã”; Ayisha Issa, de “Imortais” e “Polar”; e Pip Torrens, da série “The Crown” e de “Star Wars Episódio VII: O Despertar da Força”.

Este último, aliás, é o “Curador”, personagem recorrente em futuros jogos da antologia, de acordo com a Bandai e a Supermassive. Trata-se de uma espécie de conselheiro que quebra a quarta parede ao conversar com o jogador de tempos em tempos. O mentor pondera as decisões que você tomou e bota na balança o que pode ser bom ou ruim dali para frente. Funciona como oásis no deserto: um rápido descanso mental aos momentos de tensão – ou um respiro para os sustos incessantes, que não dão trégua.

Seu coração está em dia?

Eis o suficiente que você precisa saber sobre Man of Medan blindado de spoilers: a história mostra um grupo de jovens adultos em veraneio no alto mar. Amigos entre si, alguns têm relação de parentesco e também há paquerinhas típicas de qualquer terror adolescente, com todos os estereótipos que isso reserva: o valentão da turma, o medroso, o irmãozinho protegido, a moça brava, o cético, o rapaz galanteador e por aí vai.

Completamente isolados de qualquer terra firme, os companheiros encalham numa embarcação abandonada, e as coisas começam a acontecer. Você define o destino de 5 personagens ao longo desse horror interativo. A ideia, basicamente, é que essa seja uma viagem só de ida...

Man of Medan é aquele terror de deixar o jogador na ponta da cadeira, de perder a conta de sustos

Man of Medan é aquele terror de deixar o jogador na ponta da cadeira, as mãos suando, o controle escorregadio, a respiração vacilante, representada, inclusive, num dos minigames mais legais que o jogo apresenta: pressionar o botão na hora certa para controlar os batimentos do coração numa linha cardíaca.

Sustos são reações que temos diante do imprevisível e geralmente acontecem graças a um bom trabalho de som. Se você jogar no mudo, por exemplo, não terá o efeito planejado pelos criadores. Man of Medan usa e abusa de clichês, o que pode agradar alguns e desagradar muitos – eu gostei da maneira como a Supermassive vestiu essa carapuça e a usou a seu favor.

Galeria 1

Aquele violino fininho, instrumento do gênero, é arremessado aos seus ouvidos em momentos oportunos e inoportunos, tipo abrir um armário, visualizar um documento ali dentro e, ao pegá-lo, ser surpreendido por uma máscara do capiroto – situações bestas que atendem ao propósito de dar susto. Alguns cenários, inclusive, beiram o cômico, que também faz parte da fórmula.

Premonições vs. bugs e o fator replay

Assim como em Until Dawn, Man of Medan tem um robusto sistema de decisões e de personalidade de cada membro do grupo. Suas escolhas definem o temperamento dos amigos e também ajudam a desenhar a relação entre eles, gerando vários desdobramentos da história e finais diferentes – o que, em última instância, impulsiona o fator replay. E isso é importante para fazer valer seu dinheiro, uma vez que a aventura é curta, com cerca de 6 a 7 horas.

As premonições, aqui, aparecem em quadros encontrados nos claustrofóbicos corredores do navio abandonado, supostamente ocupado por uma entidade sobrenatural. A mecânica permite que você pré-visualize uma situação de risco e, assim, evite mortes – ou deliberademente deixe que elas aconteçam.

Em alguns trechos, os personagens parecem pesar uma tonelada e não fazem o movimento pretendido pelo jogador; é comum você contornar uma esquina mais de uma vez até acertar o ângulo da direção. Junte a isso os bugs, sim, eles são onipresentes nessa indústria. Alguns derrubam brutalmente a taxa de quadros por segundo e causam o efeito “stuttering”, em que a tela dá rápidas congeladas até a fluidez voltar ao normal.

Em outras situações, alguns textos são exibidos como nomes de arquivo, como se o HTML não tivesse decupado aquela informação, por exemplo: “CHAR_MISSION_OBJSHIP#1”. Dessa forma, um ou outro texto de colecionável ou até mesmo descrição de objetivo se transforma numa incógnita, facilmente corrigível por atualização (assim esperamos).

Modos multiplayer? Sim! (mas sozinho é mais legal)

Man of Medan oferece opções interessantes aos marinheiros menos corajosos: a possibilidade de jogar acompanhado, seja no sofá (isto é, localmente) ou online.

Um é o “Noite do Cinema”, em que você passa o controle ao amigo, namorado, namorada ou primo e curte a jogatina como um filmão-pipoca mesmo (e sim, pode ser com todo mundo junto, de 2 a 5 jogadores). O outro é o “História Compartilhada”, em que você desbrava a história online.

A minha humilde recomendação, no entanto, é que você jogue sozinho mesmo, absorvendo cada susto na escuridão de sua sala ou quarto, com janelas fechadas e fones de ouvido. É a melhor imersão possível da experiência.

Veredito

Man of Medan é a porta de entrada a uma antologia que, se bem explorada, pode dar espaço a ótimas experiências do gênero, respeitando-se os pilares construídos pela Supermassive e, é claro, esforçando-se para trazer histórias legais, com reviravoltas bem distribuídas.

Não há muito o que mexer no gameplay e nem precisa: a proposta é entregar horror interativo, cinematográfico, que sustente a jornada no desenvolvimento dos personagens, nos sustos e na capacidade de apresentar uma narrativa. Ainda que o enredo de Man of Medan seja meio previsível e com diálogos por vezes insossos, ele funciona como pano de fundo aos sustos e à construção do terror adolescente – subgênero que eu, particularmente, adoro.

O fator previsibilidade-imprevisibilidade e os clichês não vão agradar todo mundo, além dos bugs técnicos que pausam um pouco a imersão, mas se é susto que você está buscando, Man of Medan é um banquete dos bons – e inspirado nos melhores do gênero.

The Dark Pictures Anthology: Man of Medan foi gentilmente cedido pela Bandai Namco para a realização desta análise.

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Pontos Positivos
  • Sustos frequentes, seguidos e intervalados, previsíveis e imprevisíveis
  • Visual de primeira linha, especialmente nas expressões faciais dos personagens
  • Clichês do terror adolescente: você curte? Aqui tem de sobra
  • Modos multiplayer bem-vindos para quem não quiser passar medo sozinho
Pontos Negativos
  • Quedas brutais na taxa de quadros por segundo (com rápidos congelamentos de tela) por vezes pausam a imersão
  • Clichês do terror adolescente: você não curte? Então a trama pode ser cafona e previsível