Viagem no tempo não é um tema exatamente inédito no mundo dos jogos, mas é sempre um assunto amplo e que pode ser explorado de diversas formas. De uma certa melancolia vista em The Cave, chegamos à galhofa de Super Time Force, um jogo de plataforma com o clássico visual 8 bits e muita, mas muita cor na sua tela.

Esse lance de viajar pelo tempo é crucial no jogo, que conta inclusive com um esquema de desfazer ações e voltar alguns instantes dentro da mesma fase — exatamente igual ao que acontece em Braid, porém, com limite de vezes em que isso pode ser feito.

Um misto de psicodelia com dinossauros, sabres de luz, Idade Média e muitos pixels no qual sua tarefa não se resume a explodir coisas e atirar em adversários sempre prontos para pegar você. Seu grande objetivo aqui é, sobretudo, manejar bem o tempo, pois ele é limitado de diversas formas e pode pôr fim à sua jornada.

Quando o tempo não é tão relativo

O tempo é o cerne de Super Time Force, pois você sempre tem 60 segundos para concluir uma fase, apesar de haver bônus que adicionam mais segundos ao relógio ou deixam o tempo mais lento. De um jeito ou de outro, você precisa concluir o nível antes que o cronômetro chegye ao zero, o que gera por si só uma série de desafios.

Esse é um fator importante por aqui, pois você pode “pedir um tempo”, ou seja, usar o recurso de voltar no tempo dentro de uma fase, mas a quantidade de vezes que você faz isso é limitada. Sempre que um personagem morre, esse recurso também é utilizado automaticamente, e, se ele for zerado, você perde e é preciso recomeçar a fase.

Isso incrementa a dificuldade, pois cria a necessidade de saber usar bem tais recursos e de escolher bem os personagens de acordo com o ambiente no qual você se encontra. Em suma, o jogador é obrigado a prestar atenção em tudo que o cerca para otimizar o tempo em cada cenário.

Navegando nos mares do tempo

No jogo, Super Time Force é o nome da equipe de aventureiros que navega pra lá e pra cá nos mares do tempo. O objetivo do grupo é resolver problemas em diversas épocas, indo desde salvar os dinossauros há mais de 9 mil anos antes de Cristo até a baixar todos os plugins da internet a mais de mil anos adiante de nosso tempo.

Essa flexibilidade do tempo em Super Time Force resulta em uma das características mais interessantes do jogo: a variedade de cenários e adversários. Você vai enfrentar dinossauros, policiais do futuro, robôs e muito mais, sendo que em cada época haverá um tipo de inimigo bem definido como obstáculo em sua jornada.

Tal variedade cria ambientes desafiadores, pois os inimigos exigem novas posturas de sua equipe, demandando um trabalho ainda mais preciso de navegação e gerenciamento do seu tempo para concluir cada uma das fases. Isso, porém, é um problema em alguns momentos, quando o cenário se torna um empecilho na solução da fase, exagerando no desafio e tornando a jogatina um tanto quanto cansativa.

Apesar disso, aqui vale ressaltar o quanto o aspecto visual é também um dos grandes destaques de Super Time Force. A opção por um estilo 8 bits combinou muito bem com a proposta deste jogo e usar o termo “viagem no tempo” serve também para descrever a experiência de se divertir com ele, pois a impressão é a de que o seu console voltou no tempo em duas décadas.

Os cenários são, de modo geral, coerentes e muito bem construídos, garantindo a imersão do jogador independente da época enfrentada. O mesmo pode-se dizer da trilha sonora, sempre tão intensa quanto a jogatina em si, uma combinação que não vai deixar você cair no sono enquanto se aventura pelas várias eras de Super Time Force.

Sem tantas obrigações

Um jogo de plataforma nem sempre é capaz de se sustentar com o que é dado, então é interessante quando alguns desafios extras são propostos. A questão do grupo de aventureiros exemplifica bem o cuidado dos desenvolvedores em propor algo a mais em Super Time Force, pois é possível resgatar novos membros para ele.

Isso não é uma obrigação e em alguns casos é preciso ficar atento para não deixar o seu possível futuro parceiro passar batido em algum buraco não percebido por você. A mesma coisa serve para os itens colecionáveis presentes em cada fase, que não são obrigatórios, mas que geram surpresas se totalmente coletados.

Esse ponto pode gerar uma crítica ao jogo: a de que ele não obriga você a batalhar para conquistar 100% de cada fase. Isso porque não é preciso tal esforço para, por exemplo, liberar novos níveis, algo relativamente comum em jogos de plataforma. Em suma, você pode sair correndo na loucura para vencer as fases e completar Super Time Force sem demorar muito tempo.

Vale a pena?

Com certeza. Super Time Force é um jogo repleto de desafios e que vai colocar a sua cabeça para funcionar, apesar de não contar com puzzles ou algo do gênero. O obstáculo aqui está em gerenciar bem o tempo para conseguir concluir os cenários, algo que pode até parecer simples na teoria, mas que se mostra bastante complicado na prática.

O game passa por alguns momentos cansativos, especialmente quando a estrutura do cenário complica o seu desempenho — você morre bastante e tudo fica meio chato. Porém, a estrutura de jogo permite que as ações se repitam automaticamente sempre que você volta no tempo, criando uma espécie de sombra capaz inclusive de dar mais uma vida ao seu personagem, o que acaba compensando esse tipo de “problema”.

Visualmente falando, Super Time Force é impecável e seu nível de psicodelia vai até fazer você se lembrar de Geometry Wars. O estilo 8 bits vai matar as saudades de Double Dragon e afins, colocando este game no patamar dos nostálgicos. O enredo é divertido, garantindo a galhofagem nossa de cada dia, outra característica valiosa deste ótimo game.